His girl- jordanna

5- Jorge

Valentina é uma caloura, então ela não tem a menor ideia de que circular pelo corredor H não é uma coisa legal. Leva uns dias para o calouro aprender que, se quiser ficar com alguém, você vai para o corredor H para evitar ser visto pelos professores.
O corredor H também é considerado um matadouro
Ouço o sinal tocar assim que avisto Pablo falando com minha irmã, que está encostada conta a parece de tijolos e ele debruçado sobre ela. Valen olha para ele batendo os cílios e dando risadinhas por causa de algo que ele acabou de dizer.
— Ei, Pablo! – grito no instante em que o saco de merda está prestes a pôr as suas mãos sujas no rosto da minha irmã. Pego-o pelo colarinho e olho nos seus olhos de bola de gude. – O que está fazendo?
O cara interrompe o gesto.
— Ah... nada.
— Não me parece que não seja nada, cara.
Pablo olha de Valen para mim.
— Ela é sua namorada ou algo assim?
Rosno para ele.
— Não. Ela é minha irmã, seu merda. Se eu pegar você olhando para ela de novo e a trazendo para o corredor H novamente, ou se tirar qualquer foto dela e postar na rede, você estará encarando o meu punho em vez da minha cara. Entendeu?
O cara engole em seco.
— Claro. Eu... eu entendi.
Quando solto o seu colarinho ele sai correndo para ficar o mais longe possível de mim, e o grunhido exagerado da minha irmã ecoa no corredor.
— Ai, meu Deus, Jorge ! Você é um desajustado! Só estava tentando me divertir. Você vai sempre estragar tudo?
— Sim.
Ela revira os olhos.
— Não sou a santinha da Estella. Se ele tivesse feito algo que eu não quisesse, teria levado uma joelhada.
Não duvido disso, mas Valentina não está acostumada com gente como o Pablo, que fica com alguém só para contar vantagem.
O último sinal toca. Droga.
— Você  já deve estar na sala a essa altura – digo a ela. – O que é muito melhor do que estar no corredor H com o playboyzinho da Fremont. Ele queria te fisgar para poder dizer que é pegador e postar merda na internet. Isso não vai acontecer no meu turno. Agora vai para sua sala antes que os supervisores te peguem aqui fora.
Minha irmã junta os livros e começa a se afastar.
— Você é um hipócrita, Jorge. Você age como se fosse o maioral quando é o maior fiasco desta escola. Há boatos por aí de que as pessoas estão apostando se você vai se formar ou se vai para a cadeia até o fim do ano. Você quer que eu te diga qual aposta tem mais probabilidade de ganhar?
— Não.
Ela me lança um olhar feliz e perverso que me lembra papá, antes de sair pisando duro para sua sala.
Dou a volta no corredor M para a aula do meu primeiro período e dou de cara com o homem responsável por manter Fremont livre de drogas, violência e arruaceiros.
Inspetor Felipe.
— Pode parar aí – manda o inspetor. Seu olhar orgulhoso é uma indicação de que ele gosta demais do seu trabalho. – Não acredito que você tenha um passe livre para o corredor, tem filho?
Nego.
— Então vamos ter que dar uma passadinha na diretoria.
Se eu me meter em confusão, o técnico Saak fará da minha vida um inferno. Voltas a mais durante o treino de futebol serão o menor dos meus problemas.
— Não posso ir apenas para a minha sala? Me dá um desconto.
Felipe balança a cabeça.
— Meu trabalho é relatar toda a atividade suspeita ou atraso para reduzir a delinquência estudantil.
— Delinquência? Você não pode estar falando sério. É o primeiro dia de aula. Talvez eu tenha me perdido.
Sua expressão permanece impassível.
— Você é do terceiro ano, Lopez. Se você se perdeu, vou te levar para o corredor B, onde estão as salas para os que precisam de atenção especial. É para ela que você que ir?
— Não.
— Foi o que pensei. – Ele faz sinal para eu segui-lo até a direção. Sou instruído a me sentar e esperar até que a diretora Azucena possa ser informada de minha "delinquência estudantil". Que piada!
Felipe fica de pé ao lado da mesa da secretaria com o peito estufado e um ego que combina em tamanho com sua barriga de chope.
— Jorge Lopez, a dra. Azucena vai recebê-lo agora. – anuncia a secretaria.
Entro no escritório de Azucena, e ela ergue o olhar de sua mesa. Veste um terno masculino, seu cabelo castanho é muito curto. Acho que ela faz um enorme esforço para ser vista como durona. Ou um cara. Ou as duas coisas.
— Sr. Lopez, sente-se – ela ordena. Quando obedeço, ela junta as mãos e suspira. – Está começando o ano da forma errada. Faltar aula é inaceitável.
— Não estava faltando aula, doutora.
— Estava nos corredores sem autorização, Jorge. No primeiro período. – Ela se inclina para a frente como quem vai me contar algo realmente importante. – Vamos direto ao ponto. Você tem um histórico de faltar aulas, rapaz. Está mais do que ciente de que eu não tolero delinquência ou atrasos. Você é um atleta, Jorge. E está no terceiro ano. Precisa começar o ano com o pé direito dessa vez... ou vou pedir ao técnico Saak para te expulsar daquele time. Talvez isso o faça despertar.
De jeito nenhum. Não vou deixar isso acontecer. O futebol é tudo para mim. Estou acostumado a dar desculpas para me safar de problemas. É como um jogo, no qual eu prefiro ganhar mais vezes a perder.
— Escuta, dona. Eu estava tentando ajudar uma caloura a encontrar a sua sala e me atrasei. Para ser honesto eu deveria receber um prêmio daqueles de Bom Cidadão ou de Benfeitor em vez de estar aqui encrencado.
Vejo que ela está segurando o riso.
— Um prêmio de Bom Cidadão?
Concordo, fazendo uma cara de inocente.
— Você realmente acha que eu mataria aula no primeiro dia?
— Não me obrigue a responder a essa pergunta. –Ela se recosta na cadeira, seu sermão terminado. – Hoje eu vou ser legal e te dar um aviso. E outra coisa, me chame de dra. Azucena ou diretora Azucena, e não de dona. – Ela pega o telefone e avisa a secretaria para mandar o inspetor Simon entrar. – Por favor, acompanhe o sr. Lopez a sua primeira aula. – E, virando-se para mim, diz: – E, Jorge... por mais que eu goste das nossas conversas, prefiro falar sobre objetivos educacionais ao invés de infrações escolares.
Objetivos educacionais? É uma piada.
Não digo mais nada. Imagino que possa deixar a dona morar em seu conto de fadas por mais alguns dias.