6- Danna

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Quando o sr. Miller, nosso professor de sociologia, faz a chamada, ele chama por Jorge López três vezes antes de dar falta.
— Alguém viu o sr. Lopez esta manhã?
Algumas pessoas levantam a mão.
— Eu o vi perto de seu armário. – um cara diz.
Outra garota diz que ouviu algum dizer que ele estava brigando na frente da escola, e outra diz que viu Jorge no corredor antes da aula.
Chiara Parravicini está sentando na primeira fila. Quando escuta o sr. Miller chamar por Jorge, ela faz cara de pouco-caso e resmunga algo sobre ele ser um idiota.
O sr. Miller começa a apresentar os tópicos quando a porta se abre e López entra na sala. O inspetor Simon, o cara que patrulha os corredores da Fremont, entra atrás dele. O inspetor dirige poucas palavras ao professor antes de sair.
— Que bom que se juntou a nós, sr. Lopez.
— Obrigado. – Jorge retruca, obviamente odiando ser o centro das atenções.
— Sente- se aqui na frente – o professor pede quando Jorge começa a caminhar para o fundo da sala.
Jorge olha em volta e vê o lugar vazio ao lado de Gina.
— Eu sinto claustrofobia na frente. – diz de forma arrastada.
— Que pena. – o sr. Miller indica o lugar vazio na primeira fila. – Obviamente preciso ficar de olho em você.
Jorge com relutância se senta na primeira fileira, acenando para Gina ao se sentar à seu lado.
No restante da aula, o sr. Miller explica que sociologia é o estudo sobre a vida em grupos.
— Como reagimos sozinhos é drasticamente diferente de como agimos com os nossos colegas e com a comunidade. Nos seguimos normas sociais, quer estejamos cientes disso ou não. E, quando quebramos as regras ou nos afastamos do que é esperado socialmente, o que acham que acontece?
Chiara imediatamente levanta a mão.
— Nos sentimos desconfortáveis.
— Exatamente. – concorda o professor. – Isso provoca um pequeno choque em nossos sistemas. Pense sobre as regras sociais. Eu quero também que vocês as desobedeçam... notem o que acontece quando isso ocorre. Imaginem-se num vídeo fazendo algo fora da norma e vejam o que acontece. – o sr. Miller fica diante da mesa de Jorge. – Para alguns de vocês, creio que ir contra as regras é um ritual diário. – Ele tamborila os dedos na mesa de Jorge e lhe lança um olhar direto.
O professor fala durante trinta minutos, até soar o sinal e sairmos todos correndo.
— Isso foi rude. – reclama Jorge.
— Porque? Porque ele pegou no seu pé? — pergunto.
— Você acha que eu ligo de o Miller pega ou não no meu pé? – ele balança a cabeça – Não. Devia ser fácil tirar boas notas nessa matéria, mas Miller não faz parecer que essa aula seja um descanso.
Jorge não é conhecido por conseguir as melhores notas. Ele não parece dar duro o suficiente para tirar notas altas. Ele já tinha me dito que seu objetivo este ano era frequentar aulas fáceis. Eu escolhi sociologia porque estou interessada e pensando em fazer sociologia ou psicologia na faculdade. Não porque achei que seria moleza.
— Te ajudo a estudar. – digo a Jorge. Olho para Chiara , que anda na nossa frente requebrando os quadris, tentando chamar a atenção dele. Faço-o se aproximar de mim para cochichar em sua orelha. – Ou tenho certeza de que Chiara adoraria te ajudar.
Ele nem olha na direção dela.
— Não ouse.
Quando ela vira no corredor, digo:
— Não sei porque você não dá outra chance a ela, Lopez. Está na cara que a Chiara ainda te ama... quando não está te chamando de idiota.
— Eu sou um idiota.
— Não, não é. – defendo-o. Desde o primeiro ano, Jorge está no meu grupo de amigos. Conheço-o bem, mesmo ele tendo uma muralha de um quilômetro e meio. Há momentos em que ele deixa transparecer seu verdadeiro eu através da fachada de durão. – Algumas vezes você é...
— Um babaca.
— Não. Eu ia dizer que as vezes você é temperamental. Intenso. Passional. – quando ele começa a se afastar no corredor, eu o agarro e puxo. – Você é verdadeiro. E protetor daqueles de quem gosta. Eu adoro isso em você.
Ele desvia o olhar, visivelmente desconcertado pelo elogio.
Jorge não é tão ruim quanto sei pai o faz acreditar. Na verdade, dependo dele para um monte de coisas. Miguel também. Jorge é leal até o âmago, e isso significa muito pra mim.
Ele é muito carismático. O engraçado é que ele não tem a menor ideia de que é popular, e que as garotas falam dele o tempo todo. Jorge tem até uma torcida particular nas arquibancadas durante os jogos de futebol.
Quer queira ou não, Jorge é o centro das atenções de qualquer corpo estudantil. Olho para o corredor e vejo uma caloura apontar para ele e dar uma risadinha nervosa e, em seguida, tirar uma foto dele, de costas.
— O que está olhando? – Miguel pergunta ao se aproximar por trás e me beijar o pescoço.
Viro-me e o abraço, apagando a imagem do corpaço de Jorge da minha mente.
— Nada. E como foi sua primeira aula? – pergunto.
— Para ser franco, já me estressei – diz, andando para trás. – Vai ser difícil estar em todas essas aulas introdutórias sem nenhum grupo de estudo, e ainda com as provas e redações dos processos seletivos das faculdades. Para não falar do futebol. Estou sobrecarregado, e ainda é só o primeiro dia.
— Você não precisa fazer todas essas aulas puxadas – digo enquanto descemos o corredor. Não me passa despercebido que ele não está segurando na minha mão. Antigamente, ele segurava a minha mão sempre que estávamos nos corredores. Ele está uma pilha, e sua ansiedade é tão grande que ele não pode se concentrar em nosso relacionamento. Eu entendo. Você não se torna orador sendo um bom namorado. Você se destaca ganhando notas altas em matérias introdutórias. – Diminui sua carga, se está tão estressado.
— Não posso. Tantas coisas importantes acontecem este ano para mim. Você sabe disso.
— Eu sei.
Ele ajeita os livros, e um saquinho transparente cheio de comprimidos vai de dentro de um deles. Ele rapidamente o pega.
— Para que servem? – pergunto.
— Remédios para ansiedade que meu médico receitou. – Miguel diz – Eles me acalmam.
Isto é esquisito. Ele nunca mencionou que estava tomando remédios.
— Porque estão num saquinho?
— Porque não queria trazer o frasco todo para a escola. Nada de mais.
Falo num tom mais baixo:
— Não quero ninguém achando que você está se drogando, Mickey. São os traficantes que usam saquinhos. Seus pais preencheram um daqueles formulários para o departamento médico e...
— Aquilo é uma perda de tempo, Dann – ele diz, me interrompendo. – Além disso, não preciso de enfermeiras ou de estranhos sabendo das minhas coisas. – Ele parece puto com a minha sugestão.
Sinto um frio na barriga.
— Está bem.
— O último sinal vai tocar. Te vejo depois. – Ele sai apressado.
Tenho uma sensação de que algo estranho está acontecendo com Miguel. Digo a mim mesma que é o nervosismo do primeiro dia de aula, já que ele quer tanto ser bem-sucedido na escola como no futebol.
Mas e se for mais alguma coisa?

His girl- jordannaOnde histórias criam vida. Descubra agora