7- Jorge

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Os treinos de futebol com o técnico Saak são massacrantes, especialmente no verão, quando é quente que nem um inferno do lado de fora. A temporada oficialmente começa sexta-feira, por isso Saak está nos fazendo trabalhar duro.
Depois das aulas, temos que ir para a academia e treinar por uma hora. Estou prestes a me juntar aos meus coladas quando vejo Luna em pé perto da entrada. Ela está de óculos escuros e parece nervosa.
— Oi, Jorge, posso falar com você?
— Claro. O que foi?
Ela tira os óculos escuros, revelando um roxo feio sob seu olho. Não fico surpreso, considerando a maneira como seu namorado a agrediu.
— Eu, hã, só queria falar com você sobre a noite passada. Mateo fica nervoso com facilidade, mas juro que foi a primeira vez que ele me bateu. De qualquer forma, vim aqui para te agradecer.
Ela diz isso como se eu fosse algum super-herói, mas não saio por aí procurando gente para salvar. Fiz o que qualquer um teria feito ao ver uma garota apanhando.
— Um cara jamais deve bater em uma garota.
Ela olha para o chão.
— Eu sei... Eu só... Ele só fica assim quando bebe. Ele tem um pai que o trata muito mal.
— Meu pai me trata muito mal, e eu nunca bati numa garota.
Ela suspira. E concorda.
— Terminamos. – Ela enxuga uma lágrima e se endireita. – Tenho que ir, desculpe por te perturbar.
Ela se lança para a frente e me envolve num abraço, depois sai correndo.
Quando me viro, Aron está encostado na parede oposta. Ele obviamente viu a cena toda.
— Foi legal o que você fez por ela. Você sabia que o namorado dela era bom em artes marciais antes de começar a briga, ou só ficou sabendo depois?
— Durante – respondo, merecendo a gargalhada.
— Ei, Jorge – Miguel chama quando entro na academia e pulo na esteira. – Você vai ter que acelerar se quiser alcançar a metade da minha velocidade.
Miguel e eu sempre competimos. Observo ele aumentar a velocidade de sua esteira.
— Venho correndo o verão todo, cara – digo, mantendo o ritmo. – Você não será o mais rápido do time por muito tempo. – E aumento a velocidade da minha esteira para igualar a dele.
Sua resposta é uma sonora gargalhada, enquanto ele acelera sua esteira mais uma vez.
— Exibidos! – Ester grita do outro lado da sala enquanto levanta pesos com o seu namorado e o nosso quarterback, Itzan, que pega pesado com ela. Ester usa as pernas, de modo que não precisa desenvolver a musculatura dos braços, mas ela, como eu, gosta de testar seus limites. Por isso, provavelmente, é que somos amigos. A gente se entende... a não ser pelo seu relacionamento com Itzan Escamilla, conhecido como "Champion". Eu não os entendo. Eles discutem on tempo todo, e ficar escutando eles baterem boca como um casal de idosos me deixa maluco.
— A fofoca é que Chiara quer que você a leve na festa – Ester diz para mim depois de terminar sua série e secar a testa molhada com uma toalhinha rosa.
— Não vai rolar.
— Você tem que convidar alguém. Não pode faltar a festa no último ano, Jorge.
— Humm... posso sim.
Ela suspira.
— Escuta, Lopez, você vai a festa, quer queira, quer não.
— Você levanta no máximo vinte quilos. Acha que pode me forçar a fazer alguma coisa?
— Posso. – Ela me dá um tapinha nas costas. – Eu quero que você seja feliz.
Feliz? Que piada. Desço da esteira e vou até o bebedouro.
Ela me segue.
Num momento de fraqueza no ano passado, contei a Ester que estava apaixonado pela Danna. Ela primeiro riu, achando que eu estava brincando. Mas então viu a minha cara séria e soube que era verdade.
Ela é a única que sabe disso, além da minha prima, e ambas juraram manter segredo.
Ester toma um gole de água, e aí me olha com uma cara de pena.
— Chama alguém para a festa. Não tem ninguém que você goste um pouquinho?
Além da garota que não posso ter?
— Não.
— Muito bem, todo mundo – o técnico Saak chama com sua voz de trovão. – Me encontrem no campo com todo gás em exatos quinze minutos. Quem
se atrasar terá o prazer de correr mais algumas voltas. Está trinta e dois graus lá fora, rapazes, e, a não ser que queiram encharcar seus uniformes de suor, é melhor não se atrasarem.
Ninguém quer dar voltas extras no campo nesse calor, então todos correm para o vestiário pra por o uniforme. Ester desaparece no vestiário feminino.
O armário de Miguel é do lado do meu. Ele suspira diante dele.
— Como devo convidar a Danna para a festa? – ele pergunta em voz alta. – Quero fazer alguma coisa que a surpreenda.
Caramba. Mais falação sobre a festa? Eu preferia falar sobre uniformes encharcados de suor a essa altura. Ou furar meus olhos com agulhas.
— Escreve o pedido num biscoito com a cobertura e deixa por isso – sugere Aron.
— Isso já foi feito um trilhão de vezes. – Itzan opina. – Vou convidar a Ester escrevendo numa das bolas que serão usadas amanhã a noite. Quando estiver se aquecendo durante o jogo, ela vai ver.
— E se ela não achar? – Aron desafia. – E se quem achar for o atacante? Vai a festa com ele?
— Não se preocupe. Deixe o romantismo por minha conta. Meu plano nunca falha. – Itzan gesticula para Aron – E qual pobre coitada você convidou?
Aron ergue as sobrancelhas.
— Estava pensando em convidar a Gina. Pelo menos sei que ela topa.
Atiro minha chuteira nele.
Aron a joga de volta, e então ele olha no espelho para a única coisa com ele se importa além do seu carro: o seu cabelo.
— Quem você vai levar, Lopez? – ele pergunta enquanto avalia sua imagem no espelho e vê se seu cabelo está perfeitamente arrumado. Não o lembro de que em dois minutos ele vai por um capacete que amassará tudo.
— Ninguém. Não vou a festa.
— Todos temos que ir – diz Miguel. – É a tradição.
— Você não pode quebrar a tradição – concorda Itzan.
Miguel levanta uma mão.
Não se preocupem, rapazes. Eu vou descobrir uma maneira de levar nosso solteirão a festa, mas me deem alguma sugestão de como convidar a Dann. Juro que estou tão sobrecarregado que não consigo pensar direito.
— Talvez você devesse largar todas aquelas aulas introdutórias e se juntar as pessoas comuns nas aulas normais, Miguel – diz Itzan – Você não recebeu o memorando que diz que o terceiro ano é pra ser o ano da moleza?
— Não quando você que ser o orador, babaca – Miguel responde.
— Jogadores não podem ser oradores – diz Aron. – Você vai alterar o equilíbrio do Universo se isso acontecer. Sou um jogador. Ninguém espera que eu seja um gênio. – Ele aponta para mim. – E olha o Lopez aqui... seu cérebro nem funciona completamente.
Empurro-o para fora do caminho.
— Vai a merda. Tenho neurônios. Eu apenas reduzo a capacidade quando estou com você, para que você possa entender o que estou dizendo.
Aron ri.
— Claro, cara.
— Aron, é um fato científico que o cérebro de ninguém funciona completamente. – Miguel intervém – Apenas me diga o que fazer para a Danna.
Merda, se eu tivesse que convidar uma garota como a Danna para a festa, ia querer ter certeza de que ela se lembraria disso para sempre. Cutuco o ombro de Miguel para chamar a sua atenção.
— Que tal fazer alguma coisa no campo? Providenciar que a banda toque alguma coisa romântica e arrumar um piquenique para ela na linha das cinquenta jardas?
Aron finge ter uma ânsia de vômito.
— Que ideia tosca, Jorge. Cara, só leva a Danna ao parque temático Aventuras Selvagens e faz o convite quando estiver descendo uma das montanhas- russas. Ela nunca vai se esquecer disso!
— Montanha-russa! Gostei – Miguel diz com o rosto iluminado pela ideia. – Obrigado, Aron. Isso é ótimo, cara.
Montanha-russa?
— Mas a Danna não odeia montanhas- russas? – pergunto, preferindo muito mais a minha ideia de piquenique no campo. É mais a cara dela. Ela é bonita e delicada, e sempre fala de filmes românticos.
Vou segurar a mão dela e fazer isso ser romântico. - Ele pisca. - Já sei como.

His girl- jordannaOnde histórias criam vida. Descubra agora