14- Danna

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Observamos a polícia patrulhar o campo de futebol.
— Eles ainda não viram a pichação, mas verão — Jorge sussurra enquanto espiã, por cima dos bancos, os policiais saindo do carro. — Precisamos sair daqui.
Minhas articulações doem mais do que de costume. A queda provocou um mal jeito no meu joelho.
— Eu não sei se consigo me mexer.
— Eu te carrego. — ele aponta para uma saída lateral. — Estou vendo uma abertura na certa. Você consegue pular lá pra baixo?
— Acho que sim.
— Tem certeza? — Sua cara é só preocupação. — Eu posso te carregar, e não tem que se preocupar com nada, ok?
Ele está serio, como se me proteger da polícia fosse sua prioridade.
— Não fique bravo comigo por ter vindo aqui. — Desvio o olhar. — Desculpe.
— Ta tudo bem.
— Pensei que conseguisse fazer isso.
Estou muito chateada por ter me desafiado a provar a todos que era capaz de aplicar um trote.
— E você consegue. Vamos — Vic diz ao mergulhar sob as arquibancadas. Ele estende as mãos para mim e diz: — Pula!
Olho para ele lá embaixo.
— Estou com medo.
— Vou te pegar — ele sussurra, gesticulando para eu pular. — Confie em mim.
Respiro fundo e solto um gemido ao me atirar pela abertura e pular em seus braços. Jorge me segura junto a ele enquanto passo os braços pelo seu pescoço.
— E agora? — pergunto, enquanto encosto em seu peito musculoso e nu.
— Segura firme — ele diz ao se dirigir para a cerca coberta por alguns arbustos no lado oposto do campo em que os policiais estão.
Se formos pegos, estaremos encrencados. Mas Jorge é um especialista nisso e consegue nos levar com segurança até a cerca, e acha uma maneira de passarmos por baixo em um lugar em que ela está meio solta.
Comigo agarrada a ele, Jorge corre comigo pelas ruas ate que estejamos longe da escola.
— Obrigada — agradeço, respirando aliviada. — Você me salvou esta noite.
Seus olhos encontram os meus, e nesse abraço, com seu peito nu contra a minha pele, sinto uma intimidade que há tempos não sentia, ou talvez nunca senti. Deve ser o efeito colateral da adrenalina, porque luto contra o desejo de abraçá-lo apertado.
Meus lábios ficam secos de repente, eu os umedeço.
— Jorge?
Ele agora está fitando meus lábios recém-umedecidos.
— Sim?
Há um longo silêncio enquanto nós olhamos.
Nenhum dos dois fala nada, mas posso jurar que vejo algo doce e suave nas profundezas de seus olhos cor de chocolate. Nunca percebi isso antes, mas seus olhos são hipnóticos.
Intoxicantes.
Sinto-me tão vulnerável emocional e fisicamente. Isso é tão forte. Forte demais.
— Hã... você pode me por no chão agora — digo, precisando cortar o clima.
— Ah, desculpe — ele balbucia, e aí me põe no chão devagar.
Afasto-me dele, e o calor de seu corpo é substituído pelo vento frio da escura noite. Ainda me sinto tonta e confusa. Sem saber o que dizer sem fazer papel de boba, tiro o celular do bolso e ligo para Ester.
— Está tudo bem? — pergunta Jorge enquanto desligo. Ele enfia as mãos no bolso como se estivesse agitado e não soubesse o que fazer com elas.
— Está. Ester e os rapazes estão vindo nos buscar.
Ele concorda. Depois de um minuto, Jorge dispara:
— O que vamos dizer a Miguel?
Será que ele está se referindo ao fato de que me juntei com eles hoje a noite, ou ao fato de que aconteceu algo entre nós que não era assim tão inocente? Quero dizer, foi inocente, mas eu senti uma intimidade.
— Eu não vou contar nada a ele. — Respondo.
— Guardar segredos do seu namorado provavelmente não é uma boa ideia.
Torço o canto da boca.
— E pintar o campo de futebol dos nossos rivais também não.
— Você está certa — ele diz enquanto nosso cúmplices estão chegando.
Entramos correndo na camionete.
— Foi uma noite épica— Itzan diz eufórico. — Não foi, rapazes?
Estou sentada ao lado de Jorge, e nossos dedos então quase se tocando.
— Foi. — Penso no porque de estar tendo outra onda de pensamentos malucos com o melhor amigo de Miguel.
Afasto esses pensamos e me concentro na dor excruciante que sinto no joelho. É mais fácil pensar nisso do que em qualquer outra coisa.

His girl- jordannaOnde histórias criam vida. Descubra agora