16- Danna

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Finalmente chegou o dia do primeiro jogo de futebol da temporada. Todos estão eufóricos. Eu estou na beira do campo torcendo, sentindo a animação da torcida com a esperança de uma vitória. Tenho uns hematomas devido à queda da cerca ontem, e o meu corpo está mais dolorido do que de costume, mas não me importo. Escutar os fãs aos gritos e a animação toda do jogo absorve toda a minha concentração.
Entre uma e outra coreografia, assisto ao jogo. Meus olhos imediatamente focalizam em Miguel. Ele está disposto a se destacar. Ele está tão compenetrado que acho que não olhou nem uma única vez para as arquibancadas. Nem quando a defesa estava em campo e ele descansando.
Nem olhou pra mim.
Olho para Jorge, que acabou de sair para que entre a linha ofensiva. Está no bebedouro, e quando tira o capacete o cabelo lhe cai na testa. Não consigo desviar o olhar nem evitar arrepios em meus braços quando seus olhos intensos e escuros encontram os meus.
Lembro da noite passada, deitada com ele na arquibancada. Não sei se Jorge percebeu que sua mão estava no meu cabelo me amparando. Ele instintivamente estava me protegendo.
Onde estou com a cabeça? O que estou sentindo?
Não sei direito. Ultimamente tenho estado confusa, e minhas emoções estão uma bagunça.
Sorrio para Jorge, e entro em formação para a próxima coreografia. Chiara Parravicini está do meu lado e faz um gesto de desaprovação com a cabeça. Seus lábios formam uma linha estreita e fina.
— Você está bem? — pergunto a ela.
— Estou ótima. — Responde rapidamente.
— Tem certeza? — Ela não está agindo como se estivesse tudo bem.
Ela revira os olhos um pouquinho só, como se minha preocupação a chateasse.
— Eu disse que estou bem. Fim de papo.
Uau.
— Certo.
Dizer que Chiara tem estado de meu humor é pouco. Imagino que seja o estresse de início das aulas. Parece que todo mundo a minha volta anda meio estressado ultimamente.
Bem, com a excessão da Gina. Essa garota não se abala com nada. Ela é tao centrada em si mesma que é alheia ao mundo a sua volta.
— Pronta? — Gina grita com um enorme sorriso branco. Ela chama isso de sorriso de animadora de torcida.
— Pronta! — Grito de volta.
Começamos a nossa próxima coreografia.
"Somos os Rebeldes, somos os melhores!
Não desistimos até sermos os vencedores!
Fremont High, isso te leva a qual local?
Direto ao Campeonato Estadual!
Sim!
U-huuu!"
Gina criou esses versinhos, que ficaram bem melhores que o primeiro, que dizia que Fremont tinha o time mais bonito e que olhar nossos rivais no espelho nos fazia gritar de medo. Pode deixar com a Gina sempre que quiser versinhos toscos.
Depois do intervalo, Aron corre até Gina antes que soe o apito e comece o segundo tempo.
— Ei, Gina! — Aron berra acima da multidão.
Ela morde o lábio inferior.
— O que foi?
— Você vai à festa comigo!
Gina da uma risada curta e põe a mão sobre o lábio.
— Sério, Aron? Isso foi um convite ou um comunicado?
Para não perder a ocasião, já que todos estão olhando para ele, Aron põe um joelho no chão. Ele ainda está coberto com a parafernália do uniforme, inclusive o capacete.
Para a multidão deve parecer que ele a está pedindo em casamento.
E a multidão enlouquece.
Ele pega a mão dela.
— Georgina Amoros, você me daria a honra de ir à festa comigo?
— Está bem, vou com você. Agora se levanta. Está pagando o maior mico.
Todo mundo que conhece a Gina sabe que ela adora uma cena. Isso é tao a cara dela.
Em vez de voltar para junto dos seus colegas, Aron abre os braços como uma águia voando para multidão e berra:
— Ela disse sim!
Todos estão comemorando aos berros quando ele a ergue do chão e rodopia com ela antes de levar uma bronca do técnico para voltar para o time.
— Que vergonha! — Diz Gina depois que Aron volta para o campo. — Agora metade da escola pensa que estamos noivos.
Ela abre um grande sorriso.
— E daí? Você adora ele. — digo.
— É. Numa amizade mais para colorida. Quero dizer, ele é modelo é bonitão. — Ela olha o traseiro dele, e então ergue as sobrancelhas. — E ele sabe como mexer com o corpo de uma garota, o que é um bônus. Mas não quero um namorado. Eca!
— Obrigada — respondo.
— Funciona para você e o Miguel. — diz ela, andando para trás —, mas não para mim.
— Você é o Aron deviam se casar. Vocês são farinha do mesmo saco.
Ela me olha com curiosidade.
— Falando da vida de casado, o Miguel já te convidou para festa?
Faço um gesto negativo com a cabeça. No momento que Gina souber que estamos com problemas, a escola inteira ficará sabendo também.
— Não.
— É só uma questão de tempo. Você, Ester e eu teremos que sair para comprar vestidos.
Ela sai em direção a Ester, que está chutando a bola contra uma rede de treino. Ela pega outra bola e a observa. Pela distância posso dizer que está lendo algo na bola. Com um gritinho ela corre até Itzan e diz "Sim!" antes de lhe dar um abraço apertado.
Sim, ele acaba de convidá-la. Sem a menor sombra de dúvida. Enquanto estou aqui alegre por minha melhor amiga, meu coração começa a afundar com a certeza de que Miguel e eu não estamos tão apaixonados um pelo outro como Ester e Itzan.
Olho para Miguel. Ele provavelmente nem pensou em me convidar para festa. Está muito ocupado com tudo mais, inclusive com "Mina El Hammani".
Gina tamborila no meu ombro suas unhas perfeitamente decoradas com pequenos corações dourados.
— Precisamos fazer Ester parecer uma garota de verdade pelo menos uma vez na vida, e não um jogador de futebol. A festa é a nossa oportunidade.
— Se eu for. — digo a ela.
— Miguel vai te convidar. Já não estou tão certa quanto ao nosso permanente mal humorado, Jorge. Ele parece ser uma causa perdida.
Ambas olhamos para Jorge. Não é de surpreender que ele esteja cara a cara com um jogador do outro time. Cruzo os dedos para que ele não se meta em uma confusão e acabe expulso do jogo.
— Deixa de ser babaca e vê se esquece isso! — O pai de Jorge rosna alto das arquibancadas. Todos podem escutá-los, inclusive o time adversário.
Depois do bate-boca, Jorge olha de relance para onde seu pai está sentado. O Sr. Lopez está puto porque Jorge quase se meteu em uma briga.
Normalmente Jorge costuma parecer concentrado e determinado. Mas agora tem um ar quase de provocação. Ele enfia o capacete na cabeça e corre para o campo. Na próxima jogada, Jorge empurra o atacante para fora do caminho e põe o quarterback para correr, até que o joga no chão com tanta força que surpreendente que não tenham ficado sem ar. A torcida comemora, e os rapazes do nosso time dão batidinhas no capacete de Jorge para lhe agradecer, mas ele parece não perceber nada disso.
Ele se posiciona novamente no campo, pronto para continuação próxima jogada.
Posso sentir a tensão de Jorge no ar, como se fosse uma nuvem espessa sobre sua cabeça. Tenho um pressentimento ruim quando ele bate no atacante no segundo lance. Ele mergulha por cima de dois caras para alcançá-lo — um movimento arriscado e pouco recomendado.
O técnico Saak deve ter percebido que Jorge está reagindo emocionalmente, e não fazendo jogadas pensadas. Ele grita para ele sair de campo, mas Jorge o ignora e entra em formação para próxima jogada.
Dois caras na linha de defesa correm na direção de Jorge. Ele tenta abrir caminho entre eles, com a cabeça baixa.
Ai, não!
Não jogo futebol, mas sei o suficiente para saber que ele vai acabar se machucando se continuar jogando desse jeito. Algo lá no fundo me faz sentir um calafrio só de pensar que ele possa se machucar.
Jorge sai de campo quando começamos um novo ataque.
Saak segura Jorge pela grade do capacete.
— Que diabos foi aquilo, Lopez?! — grita.
Não é difícil escutar o que dizem um para o outro.
— Eu jogo com coragem. — responde Jorge.
— Não quero saber, Lopez. Quero que jogue com o coração, não de maneira burra e desleixada. Se fizer mais uma jogada suicida dessas, vai ficar no banco o resto da temporada.
Quando o técnico o solta, Jorge está tão nervoso que parece estar prestes a dar na cara do técnico, mas Miguel, Aron e Itzan o seguram. Os três precisam fazer força para conseguir contê-lo.
— Danna! — Gina fala, sacudindo a mão na frente do meu rosto para chamar minha atenção. — Pare de assistir ao jogo e comece a coreografia.
Mas não estou assistindo ao jogo.
Estou assistindo a Jorge perder a cabeça.

His girl- jordannaOnde histórias criam vida. Descubra agora