3- Danna

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Odeio levantar da cama de manhã, mesmo durante os meses de verão, quando posso dormir até o meio-dia. Hoje é o primeiro dia do meu último ano. Quando meu despertador me acordou às seis, me lembrei de que as férias de verão terminaram.
Levanto e, semicurvada, me arrasto até o banheiro. Depois de escovar os dentes, olho para o frasco de remédio na bancada. As pílulas me olhando e dizendo:
— Me tome!
Enfio uma na boca e engulo com um copo cheio de água.
— Danna! – mamãe grita do hall – já levantou?
— Sim! – grito de volta antes de entrar no chuveiro.
— Ótimo. Vou fazer seu café, então acelera! Não quero que esfrie.
No chuveiro, fecho os olhos e deixo a água quente escorrer pelo meu corpo. Quando eu sair, vou me sentir mil vezes melhor... quase normal. E quando descer a escada no meu uniforme de líder de torcida, com a garra esperada para o primeiro dia de aula, estarei animada.
Adrenalina corre por minhas veias. Estou pronta para isso. Me sinto ótima neste momento.
Você está tão bonitinha - mamãe diz, me beijando o rosto. Minha mãe põe um prato cheio de panquecas no centro da mesa e outro com dois ovos diante de mim.
— Coma.
Dou uma risada.
— Mamãe, aqui tem o suficiente para todo o corpo estudantil da Fremont High.
— Sua mãe se empolgou – papai diz ao aparecer na porta de calça cáqui e camisa de botões com o nome dr. Juan José Rivera  bordado nela.
Eu costumava desejar que meu pai fosse um tipo de médico diferente, e não um cirurgião plástico, mas aí conheci um paciente dele que tivera a cara mordida por um pit bull.
Ele me disse que meu pai era seu herói. Disse que preferia morrer se meu pai não o tivesse ajudado, e isso mudou a minha perspectiva de tudo.
Papai me dá um beijo na cabeça.
— Como está se sentindo, querida?
— Ótima – respondo.
— Tomou seu remédio?
— Sim, papai. Você me pergunta isso toda manhã, e eu sempre respondo a mesma coisa. Quando vai parar de fazer essa pergunta?
— Nunca.
— Ele provavelmente vai te mandar uma mensagem toda manhã quando estiver na faculdade – mamãe diz, cutucando papai de maneira brincalhona.
Meu pai faz uma cara de culpa e abraça minha mãe pela cintura e a beija.
—Você me conhece bem, querida.
Sim, meus pais flertam um com outro assim. Algumas vezes eu resmungo, mas a maioria dos pais de meus amigos são divorciados ou não moram juntos. É reconfortante saber que meus pais se amam de verdade.
Mamãe, que é uma executiva de publicidade, pega seu celular e o aponta para mim.
Ergo a sobrancelha.
— O que está fazendo, mamãe?
— Tirando uma foto do seu primeiro dia no último ano. É tão empolgante! – Seu sorriso é tão largo que tenho vontade de rir.
— Hã... mamãe, ainda não me formei – digo a ela. – É apenas o primeiro dia. E se eu só tirar notas regulares? Ou ruins? Você vai tirar uma foto de mim assim mesmo?
—Claro que sim, Danna – papai diz enquanto dá um gole em seu chá matinal. – Mas se tirar as melhores notas, você poderá escolher a faculdade que quiser. Isso será um bônus.
—Sem pressão, papai – respondo, brincando. Não é segredo para ninguém que meu pai se formou como o melhor de sua turma.
—Só queremos que faça o melhor que puder – diz mamãe, tirando outra foto. – Se você não fizer isso, seu tio virá aqui e terá uma conversinha com você.
—Tranquilo. Adoro ele, mesmo ele sendo um mala – Lanço um olhar desafiador para meus pais.– E se tirar notas regulares for o melhor que eu consiga fazer, vocês ficarão tranquilos com isso?
Meus pais se entreolham e voltam a olhar para mim.
— Você não é uma estudante de notas regulares, Dannita – diz mamãe.
— Nem o seu namorado – papai acrescenta. – Pelo que sei, Miguel está se preparando para ser o orador da Fremont High
— Como você sabe disso?
Ele levanta a cabeça num brinde.
— Miguel me contou. Aquele menino é um gênio.
Deixo por conta do meu namorado conversar com meu pai sobre faculdades e escolha de instituições. Isso e futebol são seus assuntos prediletos.
Meu celular vibra. É uma mensagem do próprio Menino Gênio.

         Amor ❤️: estou aqui fora. Está pronta?
         Eu: Sim. Saindo.

O Menino Gênio chegou – digo a meus pais enfiando o resto da panqueca na boca.
— Ele não quer entrar? – pergunta papai. – Diga a ele que tem muita panqueca e ovos sobrando.

         Eu: Meus pais querem saber se você quer panquecas e ovos
        Amor❤️: Ja comi. Por favor, agradeça por mim!
        Eu: Puxa-saco!
        Amor ❤️: 😇

Dou mais uma garfada nos ovos, abraço meus pais e, a caminho da porta, deixo meu prato na pia.
Mamãe me segue com o celular na mão.
— Deixa eu tirar uma foto de vocês dois! – ela grita, acenando para Miguel ao me seguir para fora de casa em seus saltos altos.
Ela não percebe que Jorge López está no carro de Miguel. Minha mãe para assim que percebe sua presença.
— Oh – ela diz surpreendida.
Não importa o que eu diga a meus pais, a reputação de Jorge fala por si mesma. Ele já foi preso mais de uma vez por brigas, e eles não gostam que tenhamos amigos em comum. Ele está sempre sério. Acho que é sua maneira de avisar as pessoas para não chegarem muito perto, para não descobrirem como a sua vida em família é enrolada.
— Certo, hum, bom... – mamãe gagueja.
Miguel salta do carro.
— Vamos lá, Jorge. A mãe da Danna quer tirar uma foto da gente.
— Acho que ela quer tirar uma foto apenas de vocês dois – diz Jorge, sua voz grave transmitindo que ele não dá a mínima em não aparecer na foto.
Abro a porta traseira do carro e puxo Jorge pelo braço.
— Vamos-lá. É hora da foto.
— Não gosto de fotos. – ele resmunga.
— Por mim – peço – vamos fazer isso rapidinho para que não nos atrasemos e peguemos uma suspensão.
Jorge da de ombros.
— Na verdade eu quero chegar atrasado.
Mamãe pigarreia enquanto Jorge salta do carro. Não o vi muitas vezes durante este verão, e ele parece bem malhado. Miguel e Jorge andaram malhando bastante para a nova temporada de futebol. Ele está usando a camisa do time, assim como Miguel, mas Jorge usa um jeans rasgado, enquanto Mi veste um jeans justo que revela suas pernas musculosas, mas longilíneas. São melhores amigos, mas são tão diferentes de tantas maneiras.
Me enfio entre os dois e sorrio enquanto minha mãe tira a foto.
— Manda uma cópia para meu celular – pede Miguel.
— Claro – Mamãe responde já enviando.
Sim, meus pais tem o telefone do meu namorado em seus contatos.
Jorge mexe a cabeça em imperceptível reprovação, como se não conseguisse entender como Miguel foi tão bem-aceito pelos pais da namorada. Jorge é um cara que evita contato com os pais o máximo possível.

His girl- jordannaOnde histórias criam vida. Descubra agora