Presa

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Quando se deu conta Taehyung já estava com as costas escorregando pela parede: uma coxa grossa de Jimin pressionando entre suas pernas e os lábios carnudos no seu pescoço que ele expunha cada vez mais e mais pros beijos longos.

— Jimin... — Suspirou, e sua voz soou tão arrastada que ele mesmo corou de ouví-la — Isso é errado... — Tentou agarrar nas roupas sobre os ombros do mais baixo, mas no que queria afastar, só conseguiu o efeito contrário — É tão errado...

— Mas é bom — Jimin sussurrou, com os lábios no lóbulo do seu ouvido — Não é?

Tentou agarrar-lhe o pulso, sentindo a mão pequena em comparação à sua espreitando pra dentro da camisa do seu pijama, mas novamente, não conseguiu fazer mais que atiçar a curiosidade na qual Jimin estava de sentir a sisudez da sua carne nos dedos.

— Jimin...mh...

— Eu não acredito que você quer que eu pare — Riu soprado, causando em Taehyung um arrepio que escorreu-lhe coluna abaixo como uma carpa fora d'água — Gemendo meu nome desse jeito... — Subiu a palma da mão pelo lado do torso esguio, medindo-lhe as curvas abertas, os espaços entre as costelas — ...reagindo desse jeito...

— A-ah! — Se assustou quando tocado em certo ponto perto das costas, no que acabou se agarrando ao pescoço alheio com toda a força — Ji-Ji... — Gaguejou, ao que Jimin retribuiu passando um braço pela sua cintura e apertando o laço: ambos os volumes despertos por dentro das roupas se arrastaram — E-eu...

— Você continua tão fofo, Tae... — Jimin falava manso com ele, agora: manhoso, até, enquanto beijava-lhe a clavícula exposta pelo pijama largo já todo amarrotado no seu torso — Ah... eu tô com tanta vontade, Tae... não seja cruel comigo, deixa eu experimentar você...

— Nã-nã-nã... Ji-Jimin... — Taehyung se remexeu num último esforço, mas Jimin alcançou seus lábios e em menos de um segundo aquilo o derreteu completamente — Uh-hm... — E então não havia mais nada no mundo, a não ser aquele beijo, que nem ele mesmo sabia ser tão esperado. Mais nada no mundo, nem passado, nem futuro, nem infância, ou nostalgia: tinha Jimin, agora, e sua boca na dele, e seus braços o segurando contra seu corpo num abraço quente. Suspirou, abriu os lábios, e sentiu o beijo tomar profundidade; fundo, sim, como se estivesse sentindo na alma. Fundo, sem razão pra ser ou não ser. Queria ficar ali, naquele beijo, pra sempre, pois se encontrou ali como nunca em nenhum lugar antes. Queria ficar ali, queria muito, mas...

— Meninos?

— Eles devem estar dormindo...

— Está tão tarde...

A porta da frente foi aberta sem muito barulho pela senhora Kim e a senhora Park, que estavam voltando pra casa, ainda assim o barulho da tranca se desfazendo perfurou o silêncio reconfortante que envolvia os dois amigos de infância naquele breve romance. Taehyung tomou um susto silencioso, sentiu arder as bochechas e colou as costas à parede fria atrás de si, ao passo que Jimin o desvencilhou dos braços muito lentamente, com um cuidado fino, e no rosto uma expressão plena.

— Nós estamos acordados — Tanto que foi ele mesmo quem avançou pelo corredor de cima, indo pra escada e acendendo as luzes da sala quando passou pelo interruptor — Eu quebrei um pedaço do parapeito agora a pouco, mãe... não foi nada demais, só avisando...

— Ah, céus! — A senhora Park fez cara de desespero — O que aconteceu, filho? Você tá bem?

— Uhm, só tropecei — Foi ao encontro dela, no fim da escada — O Taehyung estava perto, não me deixou cair...

— Bom, então tudo bem...

— E as senhoras estão voltando tarde assim porquê? — Perguntou, rindo — Isso é muito suspeito.

— Ara!... — A senhora Kim riu com ele, deixando a senhora Park levemente vermelha nas maçãs do rosto — Só estávamos nos sentindo jovens de novo...

— Amiga!

— Ahaha, isso é bom...

Taehyung soltou o ar, e respirou fundo em seguida, fechando o robe por cima do pijama antes de descer também as escadas e se juntar com sua mãe, que ria com Jimin distraidamente. O que foi aquilo? Agora tinha tempo de pensar corretamente. O que fez? O que estava se deixando fazer? Jimin estava noivo, da sua melhor amiga de infância, e ainda assim sentia seus beijos queimado no pescoço: pior, sentia seu beijo queimando na sua boca, e o sentiu ali a noite toda, virando de um lado pro outro na cama, sem conseguir pregar os olhos, sem poder evitar passar a ponta da língua nos lábios, se deliciando com o que havia sobrado de mel daquele toque.

É, era um sabor de mel, porque era doce, e duradouro: uma camada de cera que uma vez ali não sairia tão cedo, bem como a sensação de culpa que veio junto, grudenta, como mel e teias de aranha. Ah, Flor... o que eu faço? O que eu faço agora...? Por mim? Por você...?

— Então você conseguiu tirar férias, filho?

— Só uma semana... — Jimin olhava distraidamente no tablet sobre o colo, sentado à mesa tomando café com sua mãe e a senhora Kim, no outro dia pela manhã. Taehyung estava na cozinha, ouvindo a conversa enquanto preparava um café duas vezes mais forte que aliviasse sua dor de cabeça — Me dei ao direito... não acho que vou fazer tanta falta assim lá no escritório...

— Vai aproveitar pra ver a Flor? — A senhora Kim perguntou, ao que Jimin sorriu pra ela.

— Uh uhm — Negou — Vou ficar aqui: seria de péssimo tom não passar essa semana com os convidados da minha mãe, a senhora não acha?

— Eu fico feliz de ouvir isso...

— É bom mesmo que você e o Taehyung passem mais tempo juntos... depois de tantos anos — Disse a senhora Park, dando a mão pra amiga por cima da mesa — A Flor ele já vê praticamente todo o dia...

— Falando nisso, quando vocês vão casar? — Taehyung ouviu a mãe perguntar, e então sentiu como que os lábios grudando de novo: molhou-os com a ponta da língua — Flor estava me falando dos preparativos...

— Ano que vem, provavelmente... — Jimin respondeu, nem animado nem desanimado: um tanto neutro demais — Ela quer que seja na igreja, a cerimônia, e depois com festa num salão, ou algo assim...

— Ara, e você não quer?

— O que importa é casar, não? Eu estou por conta de pagar a lua de mel...

Lua de mel..."Eu penso no meu vestido de noiva todos os dias"... sim, Taehyung, pensou, Flor tinha dito isso a ele... quando mesmo? Alguma vez...

— É bem normal a gente ficar preocupada com essas coisas... — A senhora Kim comentava — Ainda mais a Flor, ela é tão meiga...

— Eu já avisei a ela que tudo isso passa — Mas a senhora Park contra argumentou, meio amargurada — Depois do casamento, tudo fica sério, e a magia da festa acaba...

— Ela vai entender quando chegar a hora — Jimin limpou a garganta, se levantando — Taehyung.

— Uwa! — Taehyung pulou de susto, atraindo os olhares confusos das duas senhoras e até de Jimin, que definitivamente não estava esperando que ele reagisse assim — Des-desculpa, aham... o-o que foi...?

— Eu...ia perguntar se você não quer me acompanhar: vou buscar um terno no alfaiate, hoje...

— E-eu...

— Ah, é um alfaiate ótimo, Taehyung — A senhora Park se adiantou em dizer — Aproveita e pede um terno pra você também, o Jimin paga, não é, filho?

— Claro...

"Claro...", foi um claro tão despretensioso, mas cheio de tantas intenções que Taehyung se viu tonto por meio segundo, pressionado sob o olhar de Jimin, que não estava mais frio e sem emoções como antes.

Ah, como ele queria fugir: buscou o olhar da mãe, e o pensamento de pegar na mão dela e sair correndo dali lhe cruzou a consciência, mas então ele viu seus dedos, enrugados e entrelaçados nos dedos da mão da senhora Park. Elas eram tão boas amigas, e estavam tendo um reencontro tão feliz. Não queria tirar isso dela, não porque ele queria fugir. Na verdade, aquilo talvez fosse parte da armadilha, na qual ele estava preso agora, amarrado por fios molhados em mel de abelha, à sombra de uma amizade de infância que seria pela próxima semana inteira o seu maior pesadelo. 

More than friends - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora