Capítulo 21- Minha história e meu adeus

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3805 palavras

" Enquanto o amor pesar mais que o mal na balança, enquanto existir pureza no olhar de uma criança, enquanto houver um abraço... Há de se ter esperança." Bráulio Bessa

Música do capítulo: Goodbye - Spice Girls

Olá, meus queridos, creio que chegou o momento de vocês finalmente saberem o porquê estou aqui. Lembra lá do início que eu disse que não ia interferir? Bem, não consegui e vocês agora sabem o porquê. Vamos voltar a história. Devo alertar a todos que ela não é nem um pouco bonita, mas necessária para entender algumas de minhas ações....

— Por onde eu começo? Era uma vez? Pois bem .... Era uma vez.... — Começou lady Nana respirando fundo

"Eu nasci na província de Madrid em 1445, na época mais conturbada da história da Espanha estávamos em um período que se dividia entre a dominação mulçumana e católica. Ambos lutavam pelo poder e a Espanha ainda não tinha esse nome. Para minha família era um pouco mais complicado. Meu pai, mulçumano, minha mãe, o que vocês chamam bruxa. Vivíamos isolados e permanecemos assim por muito tempo, até que a guerra civil explodiu.

Henrique, o impotente, não podia ter filhos e todos acreditavam que sua filha era do mordomo. Como estávamos em pleno vigor da inquisição espanhola advinha quem eles culparam? Exatamente, as bruxas. Eu não estava salva de forma alguma: mãe curandeira, pai judeu.

As coisas ficaram realmente complicadas. Minha mãe me ensinou a antiga arte da magia, magia que muitos desejavam obter, mas não conseguiam. Não precisa ser inteligente para saber que tudo que o homem desconhece ou não toma como seu ele destrói.

Nossa comunidade começou a ser perseguida, torturada e morta. Muitos começaram a sair de Madrid e se esconder nas sombras. Minha família foi uma delas. Infelizmente, não foi o suficiente.

Em 23 de outubro de 1462, meu pai foi levado. Ainda consigo me lembrar dessa data. Era uma terça-feira chuvosa. Por conta da neblina eu e minha mãe conseguimos fugir, mas ele se foi. Uma semana depois encontramos o seu corpo enforcado.

Em 25 de novembro de 1464 foi a vez da minha mãe. A levaram e, depois de duas semanas, ela foi queimada na fogueira como bruxa. O boato já estava se espalhando que o governo pretendia limpar o país dos hereges. A motivação era mais política do que religiosa, eu entendia bem. Meu pai era esclarecido.

No dia 13 de novembro de 1467, apesar de todos os meus esforços para sair do país, fui capturada pela inquisição. Ironicamente uma sexta-feira 13. Eu ainda era muito jovem e ingênua. Infelizmente fui um alvo fácil.

Descobri naquele inferno o que minha mãe havia sofrido e sofri um pouco mais. Era jovem, bonita e casta. Sim, eles confirmaram. Era um desperdício entregar corpo tão belo para a fogueira sem aproveitar um pouco. Foi o que ouvi e fui tomada pelo pavor.

No dia 16 de novembro de 1467 eu tive meu primeiro homem, mas não o último. Naquela noite fui usada por exatos 15 homens. Todos membros da inquisição. Ninguém lutaria por mim. Quem ligaria para uma bruxa órfã?

A violência sexual era bem comum na minha época. Os homens tinham muito menos controle do que agora. Tomavam para si o que queria, seja mulher, criança ou qualquer homem mais frágil se lhes dessem vontade. As histórias eram terríveis. Melhorou um pouco com o tempo, mas ainda continua um inferno para os desamparados como eu bem pude ver com meus filhos.

Voltando a minha história.

Esse momento se estendeu por exatos 2 meses seguindo a mesma rotina de abusos por parte da inquisição. Não precisa dizer que não levou muito tempo para eu ir para o lado das trevas... Eu estava com tanto ódio em meu coração que só pensava em vingança. Fiz o meu primeiro sigilo com faca e, pude começar a ver todos aqueles homens que me fizeram mal morrer. Um por um. Eu aplaudia feliz cada morte.

O canto do pássaroOnde histórias criam vida. Descubra agora