Oito

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Ariana

As caixas com os vinhos foram entregues no Riviera no dia seguinte, como Vinícius havia prometido. Entrei no trabalho e encontrei tudo organizado devidamente na adega climatizada. Uma preocupação a menos.

Dr. Ernesto, aproveitando que eu tinha entrado mais cedo, chamou-me ao escritório.

—  Já mandei preparar a nova carta de vinhos, Ariana — avisou, sentado atrás de sua mesa. — Mas não era sobre isso que eu queria lhe falar. — Aguardei Dr. Ernesto continuar. — Vou oferecer um jantar em minha casa, em meados do próximo mês, para comemorar o aniversário de 18 anos de Cecília; e quero que você prepare a comida.

Cecília era filha única.

—  Pode contar comigo, Dr. Ernesto.

—  Mais uma coisa, Ariana.

Seu tom de voz mudou. Olhei para Dr. Ernesto, esperando.

—  Você conhece bem Vinícius?

A pergunta pegou-me de surpresa.

—  Estou conhecendo agora.

—  Ouvi comentários de que vocês dois foram vistos juntos, ontem, naquele lugar que Heitor chama de Armazém. — Eu podia muito bem imaginar de quem ele ouvira o comentário. — Não sou seu pai, Ariana, mas conheço sua família e em consideração a seus pais, eu lhe aconselharia a ficar longe de Vinícius.

Fiquei sem saber o que dizer. 

—  Não entendi, Dr. Ernesto.

Parecendo nitidamente pouco à vontade, Dr. Ernesto continuou:

—  Prometi à família que não tocaria no assunto, mas tem uma coisa no passado de Vinícius que foi o motivo para ele ter sido mandado para o Rio. E acredite, para Dr. Otávio mandá-lo para longe, não foi qualquer motivo. Ele é problema, Ariana, dos grandes.

❦❦❦

Ele é problema, Ariana, dos grandes.

Muito tempo depois que o último cliente do Riviera havia partido, aquela frase de Dr. Ernesto continuava martelando na minha cabeça. Eu mal o conhecia, e Vinícius estava tomando conta dos meus pensamentos rápido demais, como no passado. O que ele havia aprontado, que era tão grave? Se fosse de Heitor que Dr. Ernesto estivesse falando, eu até entenderia. Mas o que poderia haver no passado de Vinícius, que mesmo depois de oito anos, não era esquecido?

Dias depois, já nem pensava mais no assunto, quando voltei a encontrá-lo.

Era sábado, o primeiro que eu tirava de folga desde que comecei a trabalhar no Riviera. Eu e Helena, minha amiga desde os tempos de colégio, estávamos sentadas no bar perto de casa, tomando cerveja e jogando conversa fora, quando vi a caminhonete preta surgir na rua. Eu sabia que era de Vinícius. Senti meu corpo enrijecer na cadeira, a voz de Helena sumiu e eu não conseguia tirar os olhos enquanto a caminhonete estacionava em frente ao bar.

Vi Vinícius saltar, trazendo de volta aos meus pensamentos tudo que tinha ouvido de Dr. Ernesto. Helena tinha se calado e acompanhou meu olhar fazia algum tempo.

Rômulo Dantas saltou do outro lado e juntou-se a Vinícius. Pouco depois os dois entravam no bar.

—  Seu Moura, bote uma bem gelada aqui, fazendo favor, que Vinícius me deve. É hoje que eu amarro a cabra. (ficar de porre) 

Vinícius encostou no balcão e virou-se, sorrindo, me encontrando olhando para ele. Ele afastou-se do balcão e veio caminhando até a mesa onde eu e Helena estávamos sentadas. Só então me dei conta de como eu estava, com as pernas esticadas, os pés apoiados no assento de outra cadeira. Tratei de me endireitar, recolhendo os pés, metidos em sandálias de dedo. Eu usava um short branco e uma blusa coral soltinha. Vi o olhar de Vinícius pousar em minhas pernas, antes de parar nos meus olhos.

Houve um breve silêncio, até que Rômulo apoiou um braço no ombro de Vinícius, apontando com o dedo na minha direção.

—  Você já conhece Ariana, Vinícius? Helena sei que já.

Vinícius tinha parado de sorrir.

—  Já, mas só antes das seis.

—  Por que? Depois ela se transforma, é? — Rômulo riu.

—  Depois ela vira chef de cozinha.

—  Esqueceu que Ariana trabalha no Riviera? — Juntou Helena.

—  Já ia me esquecendo — admitiu Rômulo. — Vai faltar hoje?

Helena revirou os olhos.

—  Já ouviu falar de folga? Mais tarde vamos lá para casa, Ariana vai preparar uma carne de sol.

Os olhos de Vinícius reluziram brevemente, embora depois de três cervejas, eu não podia ter certeza.

—  Oxe, e não ia convidar os amigos? — Voltou Rômulo Dantas.

—  Acabei de convidar, abestalhado.

Seu Moura se aproximou trazendo as cervejas. Rômulo sentou-se na cadeira onde antes estavam os meus pés e Vinícius ocupou outra cadeira, recostando-se bem para trás, apanhando uma garrafa das mãos de seu Moura e erguendo-a ligeiramente, num brinde, antes de levá-la aos lábios.

Ele é problema, Ariana, dos grandes.

Segredo de Família(Link no Perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora