Capítulo 10 - BOMBEIROS

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Pedro estacionou o carro em frente ao prédio de Bruno, ajudando-o o sair do carro com as muletas e partiu pra casa. Bruno pegou o elevador, meio desengonçado por causa das muletas e não pode evitar de pôr o pé no chão em alguns momentos, além de que estava com Cinnamon Girl na cabeça.

Logo, ele percebeu que esqueceu a chave na mochila na casa de Pedro, mas como já estava em seu prédio, decidiu tentar a sorte da mãe ter esquecido a porta destrancada, afinal, não era um apartamento perigoso, era normal eles deixarem a porta destrancada.

Antes da tentativa, uma vizinha, que estava voltando do passeio com sua Lulu da Pomerânia, o parou e o questionou sobre a mãe, estava preocupada porque sempre ouvia gritos vindo da casa deles. Com isso,  Bruno não podia decifrar se era preocupação legítima da moça ou só curiosidade de fofoqueira, mas como a mulher era nova, tinha tido um filho recentemente, parecia ser uma pessoa bem instruída, além de que não era de mostrar as caras, então preferiu acreditar que estava sendo sincera. Ainda assim, ele procurou não revelar muita coisa, Bruno disse apenas que eram brigas comuns de casal e que as coisas iriam melhorar logo.

Despediu-se da mulher, girou a maçaneta, mas desejou não ter entrado. O que viu foi uma garrafa destampada na bancada, próximo ao seu celular, dois copos de vinhos derramados no chão e, ao lado, Ramon e Margarida estirados, de olhos fechados. Franzindo a testa e olhando de soslaio para a situação, ele fechou a porta e disse:

- Não tem graça, levantem - pediu, mas não obteve resposta. O silêncio era a maldição do ambiente.

Antes de mais alguma coisa, ele soltou as muletas, foi ao quarto, checou o berço de Bryan e o neném estava dormindo. Ele imediatamente pegou o neném no colo e o acordou, o pequeno começou a chorar, mas Bruno não se preocupou com os berros dele desta vez, pelo contrário, sentiu alívio.

E, tudo bem, não precisava ser o que Bruno pensara que acontecera, talvez o vinho só tivesse estragado e ambos desmaiaram, certo?

Ele não queria fazer isso e tentava expressar para o irmão, mesmo que o neném não entendesse. Antes de qualquer outra atitude, Bruno balançou o irmãozinho em seus braços tentando o acalmar e, rapidamente, o neném passou a adormecer em seu ombro. Agachou com ele dormindo e colocou os dois dedos no pescoço da mãe e não sentiu sentiu nada. Sem que ele se desse conta, as lágrimas saíram e ele continuou:

- Isso não tem graça, pode parar - pedia ele, em vão.

Checou novamente o pescoço, o pulso... e nada. Colocou a mão na boca, sem evitar o choro e a pontada em seu peito apavorou-o intensamente. As lágrimas molhavam seus dedos e ele levantou. Olhou ao redor, pensando no que fazer, e percebeu um sachê em cima da bancada ao lado do vinho. Sem pegar na embalagem, percebeu do que se tratava.

O celular dele estava intacto, na bancada na qual ele deixou para tomar água antes de sair. O padrasto o fizera sair de casa e ele aceitou tão facilmente, já deveria estar com a ideia na cabeça. Bruno passava a mão na testa, tentava secar o rosto, mas nada o ajudava. Nada tirava dele o peso e a dor no peito de não ter lutado mais. Pegou, então, o celular e fez a única coisa que vinha na cabeça: discou 190.

- Oi, meu nome é Bruno - tentava conter os silenciosos soluços. - E tenho uma denúncia para fazer...

Quando desligou o telefone, ele permitiu-se desabar em choro. Deslizou na bancada, que ficava perto da porta de entrada, e sentou no chão, abraçando o irmão e ficando daquele jeito até a polícia bater na porta, longos minutos depois. Bruno não conseguiu levantar para abrir, apenas ordenou por voz que eles entrassem. O menino olhou os fardados por baixo e pedia socorro em seu olhar, que deveria estar terrivel, pois o policial tinha uma expressão de preocupação com ele.

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