CAPÍTULO 6 - DAYANE

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Bruno não queria reconhecer tão instantaneamente aquela voz, mas reconheceu, por isso, evitou olhar, até mesmo disfarçando com a mão na lateral testa. Pedro direcionou o olhar por detrás do amigo quando ela chamou novamente, bem próxima. Ele não precisou cochichar nada para Pedro, apenas a expressão de decepção o entregou. 

— O que essa guria veio fazer aqui? — reclamou finalmente, entreolhando pelos próprios dedos e vendo a menina segurando pela grade, olhando-o com um sorriso.

— Pô, pelo menos vai lá ver o que a mina quer. — Ele apontou com o olhar para onde é a saída da quadra. 

— Estou com a perna machucada, esqueceu? — Bruno retruca, olhando disfarçadamente mais uma vez, ela desiste de ficar na grade, para o alívio de Bruno. E ele ouve um assobio. 

— Sabrina! — Era Pedro, chamando a menina. — Chega aí! — Ele gesticulou um meio círculo com o dedo indicador apontado para a entrada da quadra. 

Bruno não sabia mais como posicionar a mão e nem para que direção olhar, mas acabou apoiando o cotovelo no joelho e colocando a mão no queixo. 

— Pô, Pedro. A gente tenta não iludir as mina, mas nossos amigos fazem isso para gente, né? Seu cara de pau!

Pedro fez uma careta, segurando o riso, mas a garota se aproxima o suficiente, de forma que ele não consiga dizer mais nada. 

— Oi meninos — saudou ela. 

Bruno fez cara de tédio para a menina e com a voz preguiçosa, disse: 

— Fala, Sabrina. O que foi? — Ele não conseguia emitir para ela nenhuma expressão convidativa sequer e se perguntava quantos vácuos eram precisos para que uma garota saísse do seu pé. 

— Podemos conversar lá fora, Bruno? — Ela engoliu seco, como se tivesse percebendo que ele não queria papo. 

— É que eu não consigo andar direito, levei um chutão na perna — arriscou como uma desculpa perfeita. 

— Não tem problema. Senta aqui — pediu Pedro, dando palminhas no espaço do chão de onde ele acabara de levantar. — Eu me retiro. — Sem que Bruno pudesse protestar, Pedro saiu correndo da quadra.

Bruno olhou para o lado oposto, com um pouco do campo de visão obstruído pelo sol. A menina se acomodou ao lado dele, ajeitando o vestido verde, longo e de alça, dizendo:

— Você me desculpa? É que eu não consigo parar de pensar em você. Eu gosto de você, de verdade. E não é que eu nunca vá fazer coisas a mais com você... é que tipo, só quero que seja verdadeiro e não carne por carne e prazer por prazer. Eu realmente desejo que tenhamos algo... — Ela divagava e o olhar de Bruno estava fixo na bola rolando no jogo. — Ela continuou: — É... então minhas amigas teimaram para vim aqui hoje, eu fui a única que votei contra o Parque Ecológico e ainda te encontro aqui. Pensei que talvez isso fosse um sinal de que eu realmente tivesse que te falar essas coisas... — Ele percebeu que ela parou de falar quando notou a expressão dele.

Ele coçava os olhos com as pontas dos dedos da mão direita e não olhava diretamente para ela o discurso inteiro. Ele não se importaria de ser grosso se não havia mais nada que pudesse fazer para afastá-la. 

— Sabrina, você é sonsa, burra ou só se faz? Você devia usar essa coragem para coisas mais produtivas. — O olhar de expectativa dela se dissipou e se tornou uma expressão que ele não conseguiu ler, mas continuou: — Eu não quero nada com você. Ignorar suas mensagens já não foi claro o bastante? Nós fomos só um lance, me esquece. Para de passar vergonha! — O tom da voz rouca dele se elevou. — Não faz nem duas semanas que nos conhecemos, seu sentimento é ridículo — finalizou. 

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