Capítulo 14 - ECSTASY

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Bruno acordou, já se assustando com o celular colado bem em sua cara. Com as pálpebras ainda pregando e com as vistas embaçadas, abriu o Instagram e viu uma foto de Pedro Augusto no casamento da prima, era dessa última noite, ele estava todo de terno e engomadinho. Comentou, sem perder tempo:

_bruno.messina: Maluco é bravo véi

Bruno ainda sentia uma adrenalina no corpo, um bom humor questionável, sentou-se na cama e sorriu olhando o nada que passava pela janela aberta, que clareava parcialmente o quarto e especialmente o seu rosto que, de perfil, conseguia ver os pontinhos da barba querendo se revelar, enfim, ele se sentia leve. Porém, ao olhar para o berço, de relance, lembrou-se de Bryan e de que tinha lhe deixado na babá. Levantou-se em um pulo, aproximou-se do berço e comprovou sua suspeita.

Mais memórias lhe vieram à mente, inclusive a de que precisava pagá-la, entretanto, havia gastado metade do dinheiro com MD. Então, abriu a gaveta na qual estava guardado algumas economias da mãe e logo percebeu o desastre.

— Ai, não! Como vou pagar ela? O que sobrou não paga nem duas horas — exclamava para si mesmo, ao olhar para o restante do dinheiro em suas mãos.

Ele matutava no que iria dizer a ela, concluindo que ela não precisava saber que o dinheiro foi gastado com drogas. Pegou o What'sApp, abriu no chat de Pedro, desabafou tudo e gravou um áudio:

— E agora? Eu deixei Bryan dormir lá, vou ter que dar para ela um salário!

O coração de Bruno começou a palpitar e lhe bateu uma tontura forte, de forma que ele fechou os olhos pra sentir a pontada que veio na cabeça, sentou-se na cama novamente: precisava comer alguma coisa e ir na casa da Lana. Preparou uma omelete e, na hora de escovar os dentes, viu seu rosto mais branco do que o normal, mas ignorou o fato, vestiu a bermuda jeans quadriculada e a blusa preta, calçou um tênis antigo e desgastado da nike e desceu rumo à casa da babá. Ao chegar lá, bateu no portão e ela abriu-o, revelando um rosto ineditamente sem nenhuma expressão.

— Bom dia — ele saudou, esboçando um sorriso, na tentativa de amenizar a gravidade da situação.

Mas ela virou as costas e saiu andando sem responder nada. Ele reparou que ela estava com uma saia rosa claro e uma blusa preta soltinha, de tecido fino, usava um All Star dessa mesma cor e uma tiara rosa, fina e delicada na cabeça, lembrava, ligeiramente, a Branca de Neve. A saia não era curta e nem passava dos joelhos, mas era rodada, além de estar cheirando a morango. Bruno a seguiu instintivamente enquanto ouvia o portão rosa se fechar atrás dele, os passos dela eram firmes e ele pode ouvir a batida deles contra os dois pequenos degraus acinzentados que davam acesso à porta. Ela não o deu um sorriso sequer, não olhou direto para a cara dele, ele imaginava o porquê da frustração da moça e não poderia culpá-la.

Quando passou do portal de entrada, ela batia o pé sentada no sofá de pernas cruzadas, esperando ele sentar também, em meio àquele cheiro de amora que a casa dela esbanjava. O olhar dela dizia tudo: ele estava mais frito do que ovo no asfalto na estação de verão. Ela jogou os cabelos para trás, endireitou a postura, colocou os cotovelos nos joelhos, não o olhava diretamente nos olhos nem um segundo e sua boca estava sem curvas. Nessa hora, ele percebeu o quanto os lábios dela eram delicados, ao contrário da sobrancelha que era bem cheia e marcada. Ela cruzou as mãos inquietas enquanto dispersava o olhar, parecia pensar no que ia dizer. Isso se passava lentamente, quando ela pegou um saquinho da mesa de apoio, de forma ágil.

— Que tal começarmos te perguntando o que é isso? — Perguntou abruptamente, como se estivesse segurando a pergunta há tempos, levantou o pequeno saco transparente com dois comprimidos: um na cor amarela e outro na cor azul.

Ele ficou um segundo boquiaberto, tentando se lembrar de como formar palavras.

— A-aonde você achou isso? — Os olhos estavam grilados e ele não lembrava como descia as sobrancelhas. — Você sabe que isso pode te prejudicar, né?

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