Capítulo 15 - EMPREGO

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Ela pegou o saquinho do ecstasy e guiou Bruno em direção à escada ao lado da estante de livros e fizeram o percurso que foi apresentado ao garoto no dia anterior. Primeira coisa que se via quando os degraus da escada acabavam era a cozinha, o corredor se alongava para a esquerda, onde, mais para frente, tinha o imenso quarto do fraldário praticamente à frente do quarto dela e o banheiro era o último cômodo. Tinha que gostar muito de bebês para fazer um trabalho assim, na opinião de Bruno, que logo viu a bolsa de Bryan em cima da cômoda.

— Aqui está ele — disse quando chegaram perto do berço.

Ele estava dormindo feito um anjinho, vestido apenas com um body azul de manga curta e com as perninhas gordas à mostra. Lana ficou segurando o saquinho enquanto apoiava os braços no berço, observando o jovem falar com o irmãozinho do outro lado. Bruno tocou na mãozinha dele e não resistiu em pegá-lo no colo.

— Oi, meu irmãozinho. — A voz dele saiu mais melancólica do que ele queria. — Eu senti sua falta, sabia?

— Mentira, você não sabia nem quem você era — provocou Lana.

— Oi? — Bruno olhou para ela.

— Ah, desculpa, saiu em voz alta? — provocou ela, com um olhar sínico e um sorriso debochado.

Bruno revirou os olhos e preferiu ignorar, deu um beijinho na testa do bebê, deitando-lhe em seu ombro esquerdo, avistou uma poltrona branca-azulada que ficava perto e deixou Lana encostada no berço quando foi se sentar. O silêncio no ambiente permaneceu, de forma que ele fechou os olhos e, apesar da discussão com Lana, sentiu o momento mais pacífico que ele havia tido desde toda a confusão da morte da mãe.

O quarto era bem fresco, o que lhe motivou a relaxar ainda mais. Pela primeira vez, ele apenas queria a presença do neném em seus braços, principalmente diante de um cenário em que não sabia se ia perde-lo ou não, então permitiu-se relaxar por alguns segundos. Instantes depois, ele abriu um pouco os olhos e viu que Lana ficou lhes observando. Ignorou e fechou os olhos novamente e, de verdade, ele só queria sentir a presença do irmão, já que não sabia se ele lhe perderia ou não. Mas não havia nada que Bruno pudesse fazer. Lana queria lhe dedurar hoje. Ainda pediu uma semana para ver se conseguiria reverter sua situação. Pensou em avançar nela e arrancar o saquinho de ecstasy, mas lembrou-se de Ramon ao pensar nisso e a última coisa que ele queria ser é parecido com ele.

O pequeno irmão ou seria adotado ou levado para tia Rosa e Bruno ficaria sozinho, era o máximo que lhe poderia acontecer, achava ele. Mas Bryan é a única família que lhe restou. Ao pensar nisso, segurou um choro que novamente quis sair. Lana desviou um pouco olhar nessa hora, fixando-se na paisagem da janela do quarto, a qual dava visão ao quintal dos fundos. Bruno se sentia muito encurralado, seu coração apertava, sua alma se escondia no lugar mais secreto do seu interior porque o exterior denotava risco.

Bryan pareceu perceber a aflição do irmão mais velho. Será que ele sentia quando Bruno estava triste? Porque ele abriu os olhinhos e se remexeu. Bruno apoiou os cotovelos próximo ao joelho e deitou-lhe de forma que as mãos apoiavam a cabeça do neném em seu colo. Ele olhou para Bruno e deu um sorrisinho de neném banguela o qual o irmão mais velho considerava o mais lindo desse mundo inteiro. Bryan pressionava o pé e seus dedinhos contra barriga de Bruno.

— Eu prometo, eu não vou te abandonar como meu pai fez comigo, nem como o seu pai fez com você e nem como os nossos parentes fazem com a gente.

Bruno levantou o neném de modo que ele ficasse em pé em seu colo e Bryan passou as pequenas mãozinhas no rosto do irmão, olhando-lhe fixamente como se entendesse cada palavra.

Bruno respirou fundo e abraçou Bryan, que estava milagrosamente quieto, beijou-lhe umas dez vezes, ele simplesmente não conseguia desgrudar do irmão. Será que rolaria eu sair correndo? Aquela droga de dois comprimidos dentro do saquinho de Lana lhe deixava sem saída. Ela lhe entregaria se ele fugisse. Ele devia ter tomado todas as drogas. Não devia ter deixado sobrar nenhuma. Ninguém deve ter levado para casa para não se prejudicar, ou porque estavam drogados demais para isso. Tudo isso por dois comprimidos que sobraram. Dois. Comprimidos. De. Ecstasy.

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