A casa de Gael era só um pouco singela em comparação a de Pedro, assim que chegava à rua dele, era a única que tinha um portão branco, aberto e com grades ondulatórias. As paredes exteriores eram um tom marrom-claro, porém, na sala-de-estar, era um branco acinzentado misturado com uma única parede de tom alaranjado com um painel de TV enorme preto embutido.
Enquanto Gael montava o narguilé, quase botando fogo no próprio dedo, Bruno pegou o controle da TV, indo em aplicativos e colocando no Youtube Lana Del Rey – Lust for Life.
— Vou pôr essência de hortelã. — Gael rasgou com o dente o saquinho da essência.
— Ah não, lá vem você de novo com essa de repetir sabor — contestou Bruno.
— Relaxa, Bruno. Depois você põe uma do seu gosto, temos até a madrugada para isso — disse ele, jogando a essência no lugar certo. — E tu não pode reclamar da essência, vindo com essa viadagem* de novo — reclamou quando a música começou.
— Relaxa, depois você põe uma do seu gosto, temos até a madrugada para isso — rebateu Bruno.
— São dois contra um, vamos morrer de tédio com essa música — provocou Pedro.
— Nada, vei, olha essa voz linda da minha mulher Lana. Fico muito apaixonado. Uma música incrível dessa — Bruno defende e começa a cantar a música com um inglês nada aceitável.
— É, mais ou menos — consentiu Gael, fazendo o gesto com a mão, mais concentrado em fazer o narguilé funcionar.
— Põe logo um rap aí ou um funk — implorou Pedro, tentando pegar o controle de Bruno, que fez manobras para desviar dele.
— Deixa ele, Pedro, quando o resto do pessoal chegar, aí que ele não vai ter chance de ouvir essa bosta mesmo — critica Gael, caçoando do amigo.
— Nuuu, Bruno, não acredito que 'cê é o patinho feio do rolê — comentou Pedro, fazendo Bruno rir.
— Como assim vai vim mais gente? — Bruno questionou. — Achei que o pessoal geral era só no rolê do dia trinta.
— Ia ser, mas o donzelo vai viajar — informou Gael, apontando com a cabeça para Pedro. — Mandei mensagem para o pessoal e eles animaram de vir hoje também.
— Eu esqueci véi, não é culpa minha se minha mãe quer ir pra casamento de gente da família em BH — retrucou Pedro.
— Vai vim quem? — perguntou Bruno.
— O casalzinho Carter e Carine, o Felipe, Alicia, Ariane, Luísa, Diogo, Lucca...
O celular de Pedro tocou enquanto Gael falava, atendeu e, aparentemente, era a mãe. Depois de concordar com um monte de coisas, ele desligou dizendo:
— Minha mãe me lembrando da faculdade — explicou.
— Tu não vai não, né? — perguntou Gael quase em um tom de ameaça.
— Vou, lógico. Minhas coisas da facul estão em casa — respondeu.
— Mano você tem que ser mais esperto. Por exemplo, para os meus pais, eu não tenho aula nas segundas — diz Gael.
— Como assim?
— Eu tenho a grade livre, então posso pegar em outro dia.
— Ah vei, eu não tenho grade livre e nem tenho coragem de ficar matando a aula de hoje. Mas depois que acabar as aulas, eu volto para cá.
— Essa música da Lana dá pra curtir uma lombrinha boa — comentou Bruno.
— Temos o filhinho da mamãe e o hétero questionável da turma — caçoou Gael mais uma vez.
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Menino do Céu!
RomanceBruno tem vinte anos de idade e se depara com as aflições da vida adulta em meio às suas irresponsabilidades. Sua mãe, Margarida Campelo, sempre fora muito batalhadora e lutou por aquilo que precisava. Esse dom não recaiu no garoto, que puxou o lado...