Agridoce

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Hello!

Como estão? Escrevo esse recado antes mesmo de iniciar o novo capítulo que tão relutantemente busco tirar do papel. Acredito que devam saber que por motivos puramente egoístas não consigo terminar essa história sem sofrer um bocado, antes que surtem: ESSE NÃO É O ÚLTIMO CAPÍTULO! Mas é um dos últimos. O ponto doloroso é que matar, não matar, raciocinar um final, compreender o que construí para fechar um ciclo é tão doloroso quanto perder um ente querido. Kate e Yelena se tornaram parte de mim como se sempre estivessem por aí, circundando minha mente à espera de uma brecha para sair. Contudo, acredito que esteja na hora de me desprender delas e deixar que sejam lidas e eternizadas nesse lindo site para que mais personagens e histórias possam aparecer para mim. 

Escrever me salvou e tem me salvado de muito, me aliviando de raiva, frustração e tristeza. Uma válvula de escape que se mostrou entupida quando não conseguia me desprender dos personagens e deixá-los ir. Por isso, após semanas estou aqui para fazer que devo e concluir, da melhor maneira que posso, essa história que me abriu um novo olhar sobre minha capacidade e imaginação. Agradeço muito a vocês por me incentivarem a continuar e é, definitivamente, por esse motivo que estou aqui. Acho que me perdi, então vou dar continuidade ao capítulo que tanto esperam. BOA LEITURA! 

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YELENA BELOVA

A Lua brilhava intensa no céu, tão radiante que tingia a areia branca e fina da praia de um azulado convidativo. O mar, que durante o dia era de um ciano tão belo, estava escuro e refletia a lua em suas ondas calmas. Um vento gélido, carregado de pequenas partículas de sal que empalideciam as janelas reforçou o cheiro que, a aproximadamente quatro meses, eu sentia diariamente. Apoiei meus antebraços na mureta de madeira que circundava toda a casa, as mãos entrelaçadas em um copo de whisky vazio. Embora o rádio estivesse ligado, a letra da música pouco me importava a dias. O aparelho servia mais como um amigo que vivia tentando puxar assuntos que eu não me interessava, ou seja, era irritante mas ainda era um companheiro na solidão que eu me encontrava. 

Ao ser tirada às pressas por Melina do galpão, eu não conseguia raciocinar ou compreender o que acontecia. Acreditei, por milésimos antes do disparo, que teria um encontro com Kate dias depois e que estávamos a salvo. Esperança sempre foi algo complicado para mim. Me perguntei se, caso eu não tivesse baixado a guarda por ela, todos estariam vivos no final. Por semanas me culpei e me senti tão tola que os copos de bebida teimavam em permanecer cheios. Mas aí veio a raiva e comecei a  culpar o atirador que nem mesmo conseguia me recordar quem era, fiz juras de vingança que não sabia se conseguiria cumprir. Vivi loopings de emoções negativas que se foram quando aceitei que nada disso adiantaria, nada a traria de volta. 

Em meus sonhos, não só lembranças distorcidas da minha adolescência crepitavam em minha mente, mas olhos tremendamente azuis e assustados me encaravam com terror e dor após eu puxar um gatilho que eu não conseguia não apertar. Muitas foram as noites intermináveis que o suor escorria pelo meu corpo e eu me sentava trêmula buscando um corpo inerte no escuro. Por duas vezes saltei da cama na penumbra e apontei minha arma para meu próprio reflexo no espelho, conseguia ver os olhos perdidos e desorientados de um Yelena de sete anos que acreditei ter ficado para trás. 

Poucas eram as noites em que eu dormia tranquilamente, mas mesmo assim tendia a permanecer melancólica. Isso ocorria pois, mesmo após o luto, continuava a sonhar com momentos que tive com Kate. A saudade de tê-la diariamente comigo permanecia, dia após dia, me fazendo pegar refrigerantes a mais ou deixar seu lado da cama vazio como se a esperasse vir se deitar. Eu negaria até a morte se fosse questionada, mas no fundo esperava que ela aparecesse no meio da noite e saciasse minha dúvida enquanto acalmava meu comportamento errático noturno. Não saber se aquela realmente havia sido a última vez que eu a veria em vida era tão pior do que poder me desligar dela completamente. 

Safe and Sound - Kate Bishop x Yelena BelovaOnde histórias criam vida. Descubra agora