Capítulo 5 - Me perdoe

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Quando pisei na quadra de basquete naquele dia, eu juro que, por um segundo, tive a impressão de que todos os garotos, incluindo a bola que antes quicava alto, pararam para prestar atenção em mim.

Não sei dizer se foi um surto causado por pura paranoia da minha cabeça ou se o mundo realmente parou por um momento.

Quando ergui o olhar, porém, o barulho da bola pesada voltou a ecoar pelas paredes da imensa quadra, junto aos dos tênis correndo sobre o piso perfeitamente encerado. E ninguém me encarava, com exceção de talvez uma pessoa.

Não, duas.

— Opa, você veio mesmo! — A voz animada do ruivo foi como um farol tentando me guiar. Abri um sorriso pequeno, sem muita vontade. O clima estava tenso, não entre mim e ele, mas porque todo o ar a nossa volta simplesmente parecia carregado demais e, quando meus olhos encontraram os do Katsuki, eu entendi tudo. Apertei as alças da mochila após puxar o ar com força e andei em passos lentos até Kirishima, que corria até mim com um sorriso de arregaçar as bochechas. — Achei que você chegaria no final do treino ou algo assim.

Eu tenho estado meio aéreo desde o intervalo, quando escutei aquela conversa da Uraraka com as amigas no banheiro.

Uma parte de mim se sentia estranha, mas a outra me dizia que ela não estava fazendo nada assim tão errado. Ela gosta dele há tanto, tanto tempo... não é como se ela fosse uma pessoa ruim por estar mentindo um pouco, certo? Acredito que há mentiras que são por uma boa causa. Afinal, não é fácil atrair o interesse de uma pessoa como Kacchan e, agora que ela conseguiu o que tanto queria, acho que ela tem direito de tentar agarrar essa chance com todas as forças, não é? Isso não é fora do normal, vemos esse tipo de coisa o tempo todo em filmes adolescentes e tal. Eu, principalmente como alguém que também gosta dele e que adoraria estar no lugar dela, não posso dizer que não a entendo, talvez eu também faria uso de algumas artimanhas para fisgá-lo – isso se eu tivesse a mínima chance. Ela só está agindo como uma adolescente apaixonada age, nada mais do que isso. Bem, por mais que eu ache que seja meio desnecessário mentir sobre virgindade e essas coisas...

De qualquer forma, ela não está fazendo nada errado, certo?

Será que, como amigo do Kacchan, eu deveria contar para ele?

Ele odeia mentiras. Mentiras fúteis, principalmente.

Engoli em seco.

A ideia de contar a ele não me deixa confortável.

Acho que eu não estaria sendo justo com ela, caso eu fizesse isso.

E eu não me sentiria bem comigo mesmo se eu fosse a causa de desentendimentos entre eles.

Até porque a Uraraka é tão legal, tão bonita, tão... tão apaixonante, que eu duvido muito que revelar algumas mentirinhas bobas realmente vá fazer alguma diferença no sentimento dele.

Ou seja, no fim, chego a conclusão de que está tudo bem. Ela não está fazendo nada demais. Ele a faz feliz, ela o faz feliz. Eles estão felizes. Eu não quero ser visto como o invejoso da situação.

Isso. Não vou fazer tempestade num copo d'água.

Mas confio em você. Já contamos tanta coisa um pro outro, certo?

Fechei os olhos, suspirando.

— Mas, por favor, Izuku! – Voltei a encará-la, confuso com o tom subitamente elevado de sua voz. — Por favor, não conte isso pro Bakugou, tudo bem?

Sim. Não vou contar.

Você merece estar com ele. Merece muito mais do que eu ou qualquer outra pessoa.

A tal HeatherOnde histórias criam vida. Descubra agora