A tal Heather

Capítulo 2 - Só por um segundo, eu queria ser...

Kacchan não tem o costume de conversar sobre garotas comigo, não sei, talvez porque minha cara diga a ele que não tenho muita propriedade sobre o assunto.

No entanto, sempre quando ele fala ou eu o escuto falando sobre com algum cara, ele também não é de entrar em detalhes ou se mostrar muito empolgado. Nunca o ouvi dizendo algo como fulana é muito gostosa ou quero comer ciclana, já olhou pra bunda dela?

Geralmente, quando ele está interessado numa menina, ele só vai e fica com ela. Não comenta nada e, se eu pergunto algo como foi legal?, ele só se limita a dizer que sim ou no máximo conta algo engraçado que aconteceu, mas nunca entra em intimidades. E, também, são raras as vezes que ele fica de novo com a mesma garota.

Gosto disso. Gosto como ele não se gaba de suas "conquistas" – ainda que eu saiba que são muitas. Gosto de como ele não age como esses caras emocionados que não podem ver uma mulher passar que o pescoço dá uma volta de 360° graus que nem a garota do exorcista.

Todavia, naquele momento, eu preferiria muito mais que ele fizesse um longo discurso sobre o quanto os peitos da Uraraka são gigantes do que:

- Tô pensando em chamar ela pra sair. – Anunciou ele de repente, me fazendo arregalar os olhos.

Comíamos uns sanduíches de atum que ele tinha preparado pra nós, depois de já termos passado a tarde inteira jogando Overwatch e Valorant. Após aquele momento de mais cedo no colégio, ele não tinha mais tocado no assunto Uraraka e tivemos uma tarde normal como todas as outras. Pude respirar em alívio e deixar de pensar um pouco sobre isso, me consolando um pouco com o pensamento de que talvez a Ochako seja só uma das muitas garotas por quem ele se interessa, porém, agora que ele havia retomado o assunto tão repentinamente, eu entrei em choque, paralisando quando estava prestes a abocanhar de novo o sanduíche.

– Pensei em cinema, mas acho que é óbvio demais... – Dizia tranquilamente, os olhos focados no lanche em suas mãos. Seus ombros, relaxados. Os meus, tensos. - Ela é artista que nem você, né? Do que artistas gostam?

Katsuki nunca, nunca, me pedira conselhos ou opiniões sobre garotas. Muito menos mostrara interesse em uma do jeito que demonstrava agora.

O arrepio que desceu pela minha coluna me fez tremer levemente sobre a cadeira.

Quero dizer, para ele vir e me perguntar do nada assim, ele deve ter passado a tarde toda pensando nisso, mesmo quando ríamos e jogávamos juntos. Ele pensava nela enquanto eu pensava em como eu gostaria que o tempo parasse e ficássemos presos naquele momento para sempre.

Kacchan estava tão preocupado em chamá-la para um local que a agradasse a ponto de ficar inseguro sobre o que fazer, querendo a minha opinião para ter certeza de que não erraria...?

Bakugou Katsuki, inseguro?

De repente fiquei sem fome.

- Você conhece garotas muito melhor do que eu. – Respondi apenas, tentando soar indiferente e torcendo para não ter parecido tão seco. Para disfarçar, voltei a comer, mesmo sem vontade alguma mais.

Ele soltou uma risadinha, erguendo a cabeça para me encarar.

- Mas nunca saí com uma mina artista. Mina artista só deve gostar de filme cult.

Hein?! Eu sou artista e nem por isso gosto só de filme cult, ele sabe disso.

Seria imaturo demais dizer que me senti um pouquinho ofendido com esse comentário, mesmo que eu não soubesse dizer o porquê exatamente?