Capítulo 7 - Jaqueta

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— Isso... i-isso é... — As palavras se enrolaram na ponta da minha língua enquanto meus olhos arregalados fitavam os seus.

Os seus olhos, tão brilhantes e felizes.

Tão diferentes dos meus.

— B-bem... isso é... é... — Engoli em seco diante do seu olhar carregado de expectativa, provavelmente esperando pelas felicitações que eu não seria capaz de dar nem se ao menos quisesse. De repente, me senti nervoso por não conseguir pensar numa resposta que uma pessoa sem sentimentos pelo seu melhor amigo teria.

A garota lançava um olhar radiante em minha direção, que com certeza refletia bem a noite que os dois tiveram.

E eu temia que os meus olhos refletissem a noite que eu tive.

Entretanto, notei que ela estava feliz demais para notar qualquer traço de tristeza no meu rosto. Seu sorriso era tão largo que rasgava as bochechas grandes. E tudo o que pude fazer, por fim, foi abrir um sorriso quase morto, enquanto meus ombros murchavam.

Cheguei a um ponto em que, por mais que eu ainda quisesse continuar fingindo, eu não tinha mais forças para isso.

— Isso é... ótimo, Uraraka. — Mas o tom da minha voz não era de quem achava ótimo.

— Não é? — Ela juntou as mãos e, sufocando gritinhos de animação, deu alguns pulinhos eufóricos. Eu estava tão... perdido, que não pude fingir nada. Não pude fingir qualquer emoção ou alegria por ela. Eu apenas... estava a encarando, paralisado, pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo, perdido no abismo que habitava em mim mesmo. — Isso não é ótimo, é maravilhoso! Eu ainda tô sem acreditar!!

Nós tivemos nossa primeira vez ontem. Isso ecoava tão insistentemente dentro e fora da minha cabeça que eu não podia ver mais nada além disso, eu podia sentir a enxaqueca se aproximando. A frase, que ganhara vida e forma, voava ao redor da garota; a garota que é tão o oposto de mim. Tão bela, feliz, realizada, desejada e admirada de todas as formas — por garotos, garotas, amigos, amigas, professores e por todos a sua volta... e também pela pessoa por quem todos gostariam de ser desejados e admirados.

Nem dava para acreditar que uma garota assim estava simplesmente a poucos passos de distância de mim, sorrindo para mim, olhando para mim, como se eu fosse alguém minimamente semelhante a ela, de alguma forma.

Eu queria poder dizer que não sinto inveja. Que ela é diferente de mim e que está tudo bem assim, porque todos têm a sua vida, sua personalidade e suas escolhas.

Mas por que parece que ela recebeu tudo que é bom e não me restou nada?

Ela não só tem o relacionamento dos sonhos que qualquer um mataria para ter, mas também tem amigos e uma vida. Sim, vida. Porque não sei se posso chamar o que eu tenho de vida.

Ela tem tudo. Eu não queria tudo, eu nunca quis. Eu não preciso de tudo.

E sei que querer Kacchan é pedir muito. Uma pessoa como eu, desejar alguém como ele, é como uma estrela tentando fazer com que seu brilho chegue até a Terra, porém, quando chegar, esta estrela já estará morta.

É por isso que este é um desejo que sei não pode se tornar real. É apenas um sonho.

Então, tudo o que eu queria, ao menos, é o que todo adolescente pode ter.

Mas por que parece que só eu não posso ter?

Por que comigo é tão diferente? Será que eu sou tão sem graça assim? Eu não tenho uma personalidade minimamente agradável? Será que as pessoas me interpretam errado? Será que, sem perceber, eu passo uma impressão ruim de mim mesmo? Ou eu só não me encaixo nesse mundo? Não que eu me ache tão especial a ponto de ser um alienígena, mas...

A tal HeatherOnde histórias criam vida. Descubra agora