Terça-feira.
Eu percebi a atmosfera diferente assim que estacionei minha moto na vaga de sempre.
As pessoas me encaravam de longe e cochichavam entre si.
Até aí, tudo normal.
Se não fosse pela falta de sorrisos e os olhares estranhos.
Franzi o cenho.
Não havia admiração naquelas expressões.
Pela primeira vez naquele colégio, eu fui encarado como se eu fosse...
Qualquer outra pessoa.
Ou melhor, um problema.
Era irritante, mas definitivamente muito melhor do que toda a alegria e bajulação de sempre, então eu apenas aceitei aquilo por hora.
Joguei a mochila nas costas e desci da moto. Não troquei contato visual com ninguém e apenas passei reto.
Talvez eu devesse me preocupar com essa drástica mudança de comportamento deles, talvez tudo isso significasse que alguma merda muito grande aconteceu ou eles só perceberam finalmente que eu não sou tão especial assim...
Mas não ter ninguém me enchendo o saco às sete da manhã me deixou tão satisfeito que, pelo menos só por alguns minutos, eu decidi aproveitar aquela paz, porque eu sabia que logo, logo eu entenderia tudo, querendo ou não.
Atravessei o corredor de cabeça erguida, como se nada estivesse acontecendo. Alcancei o meu armário e o abri. Peguei meu livro de física, porque essa seria a primeira aula do dia.
Sinceramente, eu até estava curtindo a sensação de não ser mais tão querido assim, mesmo não tendo uma fodendo ideia do motivo. Talvez curtindo pra caralho, se me permite dizer.
Mas os cochichos só aumentavam conforme os segundos passavam e aquilo já estava me tirando do sério.
Ao fechar o armário, avistei ao longe meus colegas de times – caras que sempre enchiam a boca para falar por aí que são meus amigos, apesar de eu mesmo nunca tê-los dado esse título – virarem a cara assim que nossos olhos se cruzaram.
Franzi o cenho de novo.
Provavelmente algo muito ruim devia estar circulando a meu respeito. Não recebi um tratamento desses nem mesmo quando falavam que Deku e eu nos pegávamos por aí.
Até pensei em agarrar pelo coralinho o primeiro trouxa que passava ao meu lado para perguntar, mas cheguei a conclusão de que talvez fosse melhor eu não saber.
Que se foda.
Nunca liguei com o que essa galera pensa de mim, não vai ser agora que vou começar. Eles podem até pensar que eu matei alguém, não ligo. Contanto que me deixem em paz, eu permito que eles criem uma ficha criminal extensa para mim à vontade.
Dei as costas e segui até a minha sala.
Assim que atravessei a porta, porém, dei de cara com o diretor barrigudo tendo uma conversa séria com o meu professor, a julgar pelas expressões rígidas em seus rostos.
E seus olhos caíram sobre mim imediatamente, com direito a dedinho apontado e tudo.
— Na minha sala agora, Bakugou Katsuki.
Será que eu realmente matei alguém e não tô sabendo?
~*~
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A tal Heather
FanfictionVejo por aí muita gente que se apaixona perdidamente por pessoas que nunca nem viram na vida, muito menos trocaram entre si um simples bom dia. Eu, ao menos, tenho a sorte de gostar de alguém que não só vejo e converso diariamente, como também conhe...