Vejo por aí muita gente que se apaixona perdidamente por pessoas que nunca nem viram na vida, muito menos trocaram entre si um simples bom dia.
Eu, ao menos, tenho a sorte de gostar de alguém que não só vejo e converso diariamente, como também conheço muito, muito bem.
Porém, tem um problema.
- Ei, Deku inútil. – A voz rouca e grossa interrompeu grosseiramente minha linha de raciocínio. Percebi, então, que eu estava a não sei quanto tempo encarando o nada por bons longos minutos sem piscar. – Depois não sabe por que tuas pernas estalam só de subir cinco degraus, não faz porra nenhuma, só fica aí coçando o cu. – Kacchan estava ofegante e, por um momento, puxou a gola da camiseta preta para cima a fim de secar o rosto cheio de suor. A barra tinha subido junto e revelado um pouco do abdômen trincado. Tremi todo. – Levanta daí, porra, vem jogar com a gente.
- Eu sou péssimo nisso, Kacchan. Você sabe. – Respondi com um biquinho, abraçando a minha mochila que descansava sobre meu colo. Eu estava sentado na arquibancada enquanto esperava o treino de basquete do Kacchan terminar. – É fácil pra você falar, não é pra você que eles olham com aquela cara de meu Deus, quê que esse cara tá fazendo aqui? Só faltam me xingar, e eu tenho certeza que só não fazem isso por sua causa.
Ele suspirou.
- Já falei, é só tu apontar o dedo que eu meto porrada em qualquer filho da puta que mexer contigo.
Gargalhei.
E não, Kacchan não estava brincando.
- Então você vai não ter mais time, porque vai ter que bater em todo mundo.
Ele deu de ombros.
- Bato e ainda boto coleira e faço latir. – Me estendeu a mão. – Passa a água aí.
Sim, ele já chegou a bater em duas ou três pessoas por minha causa, seja porque fizeram comentários maldosos sobre mim ou só me olharam torto. Tudo porque não entendem como o cara mais popular da escola, capitão do time de basquete, gostoso e, como se não bastasse, aluno nota 10 – o que todos acham engraçado, porque quebra total com o estereótipo do valentão burro -, pode ser melhor amigo de um baixinho franzino que usa óculos de armação redonda e que passa os intervalos enfurnado dentro da sala de artes.
E ele não sabe o quanto eu fico mexido por ele sempre me defender com unhas e dentes, sem se importar com o quão esquisita as pessoas acham que nossa relação é.
Peguei a garrafinha de água e joguei pra ele.
Kacchan tem um ritual. Primeiro, ele encosta o quadril de lado na pequena grade que nos separa e assiste os colegas de time jogando enquanto gira a tampinha da garrafa. Após beber metade da água numa golada só, joga a cabeça pra trás e derrama o restante no rosto. Então, como um cachorro que acaba de tomar banho, balança freneticamente a cabeça e, por fim, mas não menos importante, joga a franja loira e molhada pra trás com a mão.
É um ritual que eu aprecio bastante, admito.
Katsuki é o tipo de cara que, à primeira vista, parece o típico babaca metido a machão que esbarra de propósito em nerds pelos corredores e que bate na bunda das meninas quando elas estão distraídas. Eu mesmo pensava que ele era assim, porque sua cara de poucos amigos também não ajuda muito. Ele tem uma expressão natural de quem parece que tá puto o tempo inteiro, o que, no início, eu achava tremendamente assustador e evitava até cruzar meu olhar com o dele, porém, agora, acho até engraçado.
- E aí, mano? Falta mais o que pra cê voltar pro jogo? Quer tirar um cochilo também? Ou tá pensando na morena peitura que cê comeu ontem? - Kirishima falou, o único do time que é de fato próximo de Katsuki fora da quadra e único que também me cumprimenta quando me vê chegar.
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A tal Heather
FanfictionVejo por aí muita gente que se apaixona perdidamente por pessoas que nunca nem viram na vida, muito menos trocaram entre si um simples bom dia. Eu, ao menos, tenho a sorte de gostar de alguém que não só vejo e converso diariamente, como também conhe...