Eu já tinha escrito e apagado umas oitenta ou cem vezes, talvez. Já tinha digitado no mínimo uns dez textos quilométricos, até decidir que enviar um texto talvez significasse desespero demais. Só esse tempo de digitação – que, no final, me foi em vão – havia me tomado duas ou três horas.
Frustrado em não conseguir escrever nada que eu julgasse bom o bastante, quase mandei um áudio. Mas o descartei quando minha voz se tornara afobada e minhas palavras confusas e, então, eu percebi que estava praticamente me declarando ali.
Eu já havia circulado pela casa inteira, por todos os cômodos, de cima a baixo e de baixo a cima. Eu andei tanto que não duvidaria de olhar pra trás e encontrar buracos no lugar de minhas pegadas, isso se eu tivesse tirado a atenção do celular para checar por um segundo.
Minha mãe estava no trabalho, então eu tinha passe livre para surtar.
Quando eu já prestes a soltar um berro de ódio e tacar o celular na parede, respirei fundo. Respirei bem fundo. E cheguei a conclusão de que, se eu não deixasse de ficar encarando o chat aberto de Kacchan por horas a fio daquele jeito, eu definitivamente cederia a tentação de quebrar a janela e rasgar o pulso com um dos cacos de vidro.
Joguei o celular no sofá com força e marchei até a cozinha. Abri a geladeira na força do ódio e mirei direto na garrafa de pepsi, porém, quando eu estava prestes a pegá-la, meus olhos deslizaram para a latinha de cerveja favorita da minha mãe, posicionada estrategicamente mais ao fundo.
Sentei na bancada com a lata em mãos e me pus a beber, a ardência em minha garganta me causando um alívio ilusório, enquanto eu divagava sobre que porra bateu em mim para que eu tivesse pensado que estava tudo bem em beijar a boca do meu melhor amigo. Meu único amigo. E hétero.
Eu nunca fui do tipo de agir por impulso. Em todo esse tempo em que estive com ele, nunca deixei a emoção subir à cabeça.
Se bem que...
Depois que Uraraka apareceu, tudo ficou diferente.
Eu não sou mais o mesmo Izuku de antes. E não sei se é de um jeito bom ou ruim.
Eu deveria saber que não aguentaria para sempre. Deveria saber que esconder esse sentimento nunca seria uma tarefa fácil.
Fui ingênuo em acreditar que podia lidar com isso.
Uma hora ou outra, certamente eu iria falhar.
Como falhei agora.
A lembrança dos seus olhos arregalados e da boca entreaberta, numa expressão de completo e puro choque em minha direção, me fizeram mandar todo o resto de cerveja para dentro do meu organismo em um único gole.
E o último resquício de claridade já havia abandonado os céus quando peguei o meu celular de volta e, sem pensar muito, afundei no sofá da sala e comecei a lhe mandar mensagens uma atrás da outra – porque eu sabia que, se eu pensasse demais, acabaria desistindo.
[Izuku]: Desculpa por hoje
[Izuku]: Eu não sei oq deu em mim
[Izuku]: Não sei nem oq te dizer, sinceramente
[Izuku]: Acho que eu só tô muito carente, sla... e você tava me falando coisas tão bonitas...
[Izuku]: Bateu a emoção e eu agi por impulso, desculpa
[Izuku]: Demorei p mandar msg pq eu tava ate agr tentando assimilar oq aconteceu
[Izuku]: E tb porque tô com muita vergonha
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A tal Heather
FanfictionVejo por aí muita gente que se apaixona perdidamente por pessoas que nunca nem viram na vida, muito menos trocaram entre si um simples bom dia. Eu, ao menos, tenho a sorte de gostar de alguém que não só vejo e converso diariamente, como também conhe...