- Não, não, não, fica comigo...
A nevasca se intensificava a medida que a noite caía, o céu cinzento e escuro envolvia ambos meninos num frio congelante. O menino loiro tremia, seu choro copioso lhe cortava rosto, mas ele não se importava, permanecia pegado ao menino desacordado, buscando seu despertar, mas era em vão.
- P-por favor...Acorda... - Soluçou sussurrando - Prometemos ficar juntos, lembra?
Um rapaz loiro de cabelos curtos embalava outro em seus braços, os olhos fechados lhe conferiam semblante tranquilo, quase como se dormisse. Na escuridão da floresta, ele parecia um anjo caído, belo e sereno, mas sua beleza era quebrada pela presença de uma mancha empapada se espalhando por seu peito.
- Gatinho...
Ajoelhado nos restos de folhas mortas, neve e lama, o maior sentia calafrios e continuava a soluçar, embalando o corpo gelado de seu pequeno perto de si, se marcando pelo líquido vital que escapava do furo de bala. Com a visão turva, mirava o rostinho do menino-gato e não enxergava o motivo se sua felicidade ali: as covinhas em ambas bochechas.
Onde seu sorriso estava?
- Maldito...O que você me fez fazer..?
A voz grave e rouca ressoou pelo bosque, e o menino choroso ouviu um "click!" e ergueu o olhar, percebendo o cano fumegante da arma alheia apontada para si, e o monstro que a segurava tendo seu rosto oculto na escuridão. O jovem se perguntava o porquê daquilo, por que ele os odiava tanto?
Havia uma brisa fria correndo por entre as árvores, o frio cortava as bochechas pálidas do loiro, e o menino se sentia anestesiado pelo ambiente, seus dedos estavam ficando azuis e dormentes, mas ele não se importava. Tudo que pensava era no coração gelado do assassino. Se é que ele tinha um.
Aquilo precisava acabar.
Ele encheu seu coração de coragem, saltando sobre o corpo do homem armado, rolando na neve suja. O garoto queria justiça, lutaria, nem que fosse a última coisa que faria em vida. Não desistiria, mesmo abalado por ver o brilho dos olhos do amado sumindo, ele queria que aquilo parasse, que o ciclo de ódio deixasse de existir.
O assassino encontrou um brecha, afinal, era um homem contra um jovenzinho, ele sabia que levaria vantagem. Nenhum deles atrapalharia seus planos nunca mais. Ele lhe deu uma cabeçada, o torpor do impacto fez o loiro tombar, próximo ao corpo do amado, e mais um estrondo seco foi ouvido.
Um não viveria sem o outro.
Sentiu uma queimação intensa no peito e tudo ao seu redor se embaçou. Sua voz sumia na garganta, até se tornar um sussurro adormecido, o corpo já não reagia como deveria, e ele só teve tempo de se arrastar até o menino falecido, mesmo em seus últimos momentos, tentando chegar até ele...
"Sinto muito, Gatinho" Lamentava, mentalmente, para o namorado, a medida que sua consciência desvanecia "Eu te amo...E vou te encontrar...No futuro..."
A polícia os encontrou na manhã seguinte, foi arrasador ver meninos tão jovens naquela situação. Uma morte precoce e cruel, tiros no coração, um depois do outro. O dia 9 de Dezembro de 1995 estava marcado na memória de muitos, mas alguém queria que eles fossem esquecidos. No entanto, o destino não o faria.
Eles estavam amarrados, se encontrariam de novo e nada os separaria outra vez.
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ENTRELAÇADOS: Wonki [HIATUS]
Romance"O fio nunca se quebra..." ◇◇◇ Riki resolve ir viver com a mãe para se afastar dos problemas de seu pai e o luto de ter perdido sua avó. Ele só quer focar em sua escola e sua nova vida, fingir que nada aconteceu. Estar num ambiente diferente o fez a...