"Japonês de merda"
"Estrangeiro ridículo"
"Lixo"
"Volte pro seu país, estorvo"
Uma semana.
Fazia uma semana que Hiroki lia aquele tipo de mensagem, pichada em sua carteira escolar. Ele suspirou pesado e tirou um papel de seu bolso, o arranhando na superfície até que a tinta da canetinha vermelha não passasse de um rosado com cheiro de álcool.
Já não se importava tanto, o tratamento não seria diferente. Keum-Do era uma cidade pequena, cheia de mentes pequenas, poucos aceitavam o diferente, e aquelas crianças eram cruéis. Queria muito pensar que aquela era a chance da vida de sua família, mas estava difícil lidar com tudo.
Ser imigrante naquela época soava como uma sentença.
Começou a rabiscar um esboço em seu caderno, ignorando o mundo a sua volta e tentando não pensar em seu irmão, que provavelmente estava passando pelo mesmo, mas um rapaz irritante chegou na sala junto de seu grupinho, vendo-o isolado do resto, e considerou ter encontrado seu alvo do dia.
- Yah, japonês... - Chamou, instigando os outros dois colegas a se aproximarem - Aquele dinheiro que eu te vi receber da velhaca da sua mãe hoje cedo, eu preciso.
Jeon, seu carrasco pessoal, de olhar grande e bonito, era o próprio demônio quando queria. Os outro dois eram seus cupinchas, um era Jung, o sádico que adorava rir do sofrimento de suas vítimas, enganando todos com sua postura de menino alegre, e o outro era Kim, um riquinho de beleza impressionante, que apenas andava com aqueles dois por que ninguém mais suportava sua presença.
Hiroki ouviu a voz, mas não queria erguer a cabeça, não tinha vontade alguma de lidar com seus colegas de classe.
- Aish, ficou surdo - Cutucou sua cabeça com o dedo, buscando alguma reação, imediatamente se irritando com a inércia de seu alvo - Olhe pra mim quando eu falo com você, estúpido!
Hiroki sentiu a mão agarrar seu cabelo e erguer seu olhar perdido até o rosto atrevido, logo em seguida derrubando-o do lugar com um forte empurrão, que o fez bater o rosto na carteira que estava ao seu lado. Não era possível esconder seu choque, uma coisa eram ouvir xingamentos, mas nenhum deles tinha chegado ao ponto de tocá-lo.
- Da próxima, Nomura, é bom você fazer o que eu mando. - Seu rosto estava torcido em raiva, mas Hiroki nem sabia o que fizera ou sequer o que ele pedira, para estar sendo tratado daquele jeito.
Algo morno escorreu de seu nariz, e sua visão escureceu um pouco ao ver o sangue pingando no chão, se pôs de joelhos, deslizando sua manga pelo líquido vital e se sentindo ainda mais tonto. Ele viu os meninos olhando-o orgulhosos, nem um pouco arrependidos de o terem machucado.
Nenhum outro aluno que presenciou a agressão parecia interessado em interferir, ou estavam interessados em saber se o japonês reagiria ou não. Internamente, todos estavam meio satisfeitos, era um sadismo coletivo em assistir o garoto ser torturado.
Mas alguém lutaria por ele.
- Jeon, Jung e Kim!
Os três se viraram ao mesmo tempo, vendo um garotinho moreno avançar pela porta e empurrar todos do caminho, para chegar até o outro, que continuava em estado de choque, sangrando e chorando silenciosamente, mas não se sabia se era de dor ou desespero.
- Não falam nada agora não é?! - Esbravejou, se agachando perto de Hiroki com um lenço em mãos, para segurar seu sangramento - O diretor vai adorar muito desse silêncio, garanto para vocês.
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ENTRELAÇADOS: Wonki [HIATUS]
Romance"O fio nunca se quebra..." ◇◇◇ Riki resolve ir viver com a mãe para se afastar dos problemas de seu pai e o luto de ter perdido sua avó. Ele só quer focar em sua escola e sua nova vida, fingir que nada aconteceu. Estar num ambiente diferente o fez a...