2 - Tudo em seu lugar

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- Nossa... - Riki sussurrou para si, quando o carro parou em frente a casa azul escuro e branco.

Assim que pôs os olhos no gramado baixo e na cerca branca, se sentiu nostálgico. Nada havia mudado de fato, somente ele. Se viu brincando ali com seu hyung, quando eram crianças, correndo e aprontando, deixando sua mãe louca. 

Saltaram e o mais jovem pegou sua bagagem do porta-malas, a empurrando devagar pelo jardim, revivendo suas memórias. Algumas eram borrões, mas outras estavam vívidas como nunca antes. 

- Ei hyung, lembra quando eu perdi meu primeiro dente? 

Ambos olharam para uma madeira lascada, onde uma corrida de velocípede que resultou no caçula com a gengiva em vermelho vivo, mas feliz por que iria fazer um pedido à fada dos dentes. 

- Claro, fiquei de castigo dois dias por não ter te ensinado que não tem freio num velocípede - Jay sorriu, abrindo a porta com as compras nos braços, dando espaço para o outro. 

O japonês nem hesitou, tirando os sapatos depressa e correndo até seu quarto, nada mudou também. O papel de parede azul escuro com estrelas amarelas estava puído, os mangás e brinquedos ainda estavam nas prateleiras, era como se o tempo tivesse parado. 

Seu quarto infantil parou em seus quatorze anos, nos vícios em ler até tarde, colecionar figuras de ação e desenhar, tudo estava ali, espalhado pela paredes, do chão ao teto. Nada mudou desde que ele foi embora. 

- A mãe quer que você decida como redecorar - Jay apareceu, depois que o caçula já estava jogado na cama, admirando as estrelas fluorescentes no teto. 

- Ainda está tudo aqui - Sorriu. 

- Sabe como ela é, ficaria muito mal se jogasse algo fora - O moreno se sentou na cama ao lado do outro, puxando a mala do irmão para cima - Podemos arrumar tudo quando você quiser, ainda tenho uma semana de férias, te ajudo a se instalar. 

Riki então se lembrou, as condições para sua permanência em Busan com a mãe, precisava estudar, pois ela, como uma mãe - e mulher diplomada -, não permitiria que ele largasse a escola para trabalhar ainda tão jovem. 

- Talvez só abra um pouco de espaço - Ditou, analisando o ambiente lotado de objetos - Sabe, pras coisas da escola...

- Ansioso? - Questionou, vendo como o irmão parecia reflexivo - Lá até que é legal, meus amigos querem te conhecer. 

- Não sei o que esperar... - Sorriu amarelo, se sentando no carpete cinza -  Esqueci que você ficou popular, lá na escola eu tinha dois amigos, todo o fundamental, e agora vim pra cá...Não tenho ninguém outra vez...

Desde novo, Nishimura-Park Riki apenas era extrovertido e risonho com o irmão, evitava se aproximar de outras pessoas. Costumavam zombar de seus olhos pequenos, seu tom de pele mais escuro, seu sotaque e seu sobrenome, ser mestiço afetou muita coisa em sua vida. 

Pertencer a ambas culturas com as divergências entre os países, era infernal para sua cabeça. 

- Você tem a mim, Mandu - Se sentou no chão junto dele, apoiando as costas na cama e o abraçando de lado - Vai dar tudo certo.

- Obrigado hyung - Riki suspirou, apoiando a cabeça no ombro alheio - As crianças não eram muito legais, lembra?

- Sim, lembro - Começou, para sorrir ao se recordar de algo - Lembro que chutei a bunda de todas elas por você. 

ENTRELAÇADOS: Wonki [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora