Japão, meses antes...
Riki se sentia anestesiado desde a noite anterior. Ela partiu em paz, mas doeu mais do que ele pensou que doeria, mesmo que tenha "se preparado" mentalmente por meses à fio. No fim, ninguém está pronto de verdade.
O rapaz se embalava em um balanço velho de dois lugares, com a cabeça apoiada na corrente oxidada, na vã tentativa de se confortar. Era um pouco mórbido ter um playground em um cemitério; dava a sensação de que a qualquer momento um fantasma surgiria ali, para assombrá-lo ou arrastar sua alma para as sombras.
Mas, se fosse sua avó, talvez ele aceitaria. Tudo pela possibilidade de vê-la uma última vez.
Esfregou os olhos, pois sua mente foi invadida pelo sorriso dela, e a última vez que viu seu fraco sorriso. Tinha hálito de remédios e as cobertas nunca mais perderiam seu cheiro, já que ela não podia sair dali já havia um tempo.
Fuyen tinha fios ralos, branquinhos e macios como algodão; ela cheirava a farinha e gyoza de carne de boi, o lanche favorito de Riki. O pai aprendeu a cozinhar com ela, uma das poucas informações que o mais novo tinha sobre a infância do homem, que evitava ao máximo contar coisas sobre si ao filho. Era a avó quem sempre lhe contava histórias, mas em todas, o pai já era um adolescente e a tia um bebê, filha de um desconhecido para Riki.
- Riki, vamos embora!
O menino fungou e se levantou ao comando do pai, cujo kimono preto parecia amarrotado e os olhos vermelhos demais pelo choro e sofrimento dos últimos dias.
- Papai, tá tudo bem? - Perguntou inocente, sendo agarrado pelo braço e arrastado pelo terreno, como se fosse uma criança.
- Hmpf, me tratando como se eu fosse idiota, eu sou o mais velho! - Reclamava, levando o filho pela mão até o estacionamento.
O coração de Riki se espremeu, ele não estava com uma boa sensação, e entrou hesitante no banco ao lado do pai. Hiotaro arrancou com tudo dali, e Riki estranhou ao ver a tia se aproximando no instante em que o pai se afastou do lugar, e ele não parecia nada normal.
Fungava, afastando as lágrimas dos olhos com o torso da mão, e segurava o volante com mais força que o necessário; os olhos avermelhados mal se mantinham abertos. Apenas quando respirou fundo, o garoto percebeu algo que não queria: ele estava bêbado.
- Pai, tá indo muito rápido... - Riki avisou, se esforçando para manter um tom calmo.
- Quem ela pensa que é?! - Exasperou, acelerando conforme sua raiva saía do limite, e Riki duvidava muito que ele enxergasse o caminho com os olhos cheios de lágrimas. - Eu perdi tudo, tudo. Hiromi não teve que lidar com nada, foi embora quando precisei, e agora eu falhei...Com ela, com ele...
- Pai, freia o carro, está muito rápido! - Desistiu de ser compassivo, e o pânico o dominou ao perceber que o pai estava dirigindo em zigue-zague pela pista, e acabou na contramão.
Riki puxou o volante para a direita e Hiotaro pisou no freio, o som dos pneus cantando no asfalto machucou os ouvidos do garoto. O carro não tinha mais controle e ele só conseguiu fechar os olhos antes de o veículo se chocar contra uma das árvores próximas e tudo ao redor dele desaparecer.
Ele já conseguia ficar sentado sem chorar de dor, e por isso pôde responder às perguntas do delegado sobre Hiotaro. O homem não tinha uma má conduta, então Hiromi encontrou um advogado que precisou de pouco mais que algumas horas para tirar Hiotaro das algemas e garantir sua vaga numa clínica de reabilitação.
- Eu nunca precisei ser assim - O homem soluçava para Hiromi como uma criança pequena, claramente alterado e desnorteado pela dor e pelo luto. Por sorte, ele não resistiu muito para ser levado até a clínica. - Eu fui egoísta, fui embora quando ele precisou, igual a você quando eu precisei!
Riki escondeu por tempo demais que o pai tinha piorado, e foi o que resultou naquela situação. Hiotaro bebeu antes do enterro da mãe, e a irmã achou aquilo inconcebível, pois ele jurou que cuidaria do filho com dedicação. Mesmo que seu restaurante estivesse com problemas, Hiotaro não deveria ter se entregado ao vício.
- Já falei com sua mãe, ela está providenciando tudinho - A morena sorriu pequeno, se sentando à beira da maca do sobrinho. - Espero que não ligue de dormir numa cama minúscula cheia de pelo de gato. Precisa se recuperar antes de viajar.
Mesmo sendo ele o ferido, quis trocar de lugar com a mulher. Hiromi precisava lidar com a partida da mãe, a ausência de um pai e o cuidado com o irmão e o sobrinho. Tudo isso tirando o fato de que estava ausente do emprego e correndo o risco de cair de cargo no escritório.
Em menos de três dias, Riki conseguia caminhar, então recebeu alta após exames rápidos. A casa da avó parecia, além de vazia, assombrada. O monstro do luto o perseguia, e ele não se demorou a juntar suas roupas e poucos pertences em uma mala pequena, a qual já estava fechando antes de ver algo especial.
Um livro. Fuyen costumava melhorar aquelas lendas para ele, e inventar uma história nova baseada na lenda escolhida pelo neto. Ele sorriu pequeno antes de abri-lo na página favorita de ambos: Akai Ito, o Fio Vermelho.
- Vamos, Manimura? - Hiromi chamou, então o menino teve tempo apenas de jogar o objeto na mala, mancando para fora do quarto, disposto a abandonar tudo de ruim que aquela casa lhe trouxe nos últimos anos.
◇◇◇
Riki pensava em como ajudar Jungwon com o que precisava, enquanto o assistia ser levado por Sunoo, que queria muito comer no refeitório naquele dia. Ele sorriu pequeno, tentando confortar o Yang, sabendo que ele não queria se afastar naquele momento vulnerável. Ambos não poderiam explicar o que fizeram para ninguém próximo; Jungwon por quê já era alvo de boatos, e Riki por quê Jay tinha uma implicância infundada pelo garoto.
Ele bufou, jogando a cabeça para trás, sentindo as costas sendo cutucadas por algo dentro da mochila.
Ao abri-la, imediatamente sorriu, era o livro de lendas, ainda com a página favorita marcada. No entanto, não foi ali que ele parou, resolvendo analisá-lo com cuidado e percebendo algo que nunca notou na contracapa: um selo rasgado. Flores de Angélica desgastadas podiam ser vistas, e ele sabia que vira aquilo em algum lugar.
- Nossa, é melhor se preparar para uma multa bem alta.
Deu um pulo ao ouvir a voz grave atrás de si, percebendo Sunghoon o olhando preocupado.
- Como?
- Pegou isso na Biblioteca Central, não é? Vão te cobrar por ter rasgado a ficha de retirada - Explicou, deixando Riki para trás.
Biblioteca Central? Como diabos o livro de sua avó era de uma biblioteca na Coréia do Sul? Riki não pensou muito, apenas pesquisando sobre o lugar, e correndo para conversar com Jungwon, já tendo a primeira pista para o que seria uma longa e misteriosa investigação.
◇◇◇
Gnt eu sumi né? Não é fácil trabalhar não, admiração por todos os CLT's por que tá puxado gente, tava zerada de energia esses dias, to comendo e dormindo apenas. Voltando aos poucos enquanto o trabalho não tá muito puxado, esse não é meu melhor capítulo então desculpem, espero voltar logo no meu melhor, até logo Estrelinhas, amo vcs ^3^
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ENTRELAÇADOS: Wonki [HIATUS]
Romance"O fio nunca se quebra..." ◇◇◇ Riki resolve ir viver com a mãe para se afastar dos problemas de seu pai e o luto de ter perdido sua avó. Ele só quer focar em sua escola e sua nova vida, fingir que nada aconteceu. Estar num ambiente diferente o fez a...