14 -Jogo

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Quando anoiteceu, acenderam-se tochas de fogo azul, flutuantes pelo ar. Toda a floresta lemuriana ficou iluminada, como se as plantas obtivessem luz própria em tons suaves de azul, iluminando-se além de onde meus olhos podiam alcançar. Era algo magnífico, de uma beleza suave e delicada. A luz suave, envolvia desde as espécies rasteiras, até o topo das árvores, iluminando também os lêmures que se escondiam pela floresta, se enroscando entre os galhos.
Nerian mantinha um dos braços ao redor de minha cintura, enquanto observávamos os lemurianos se aprumando ao redor de Bomani e Kepri.
–Essa é a melhor parte da colheita. –Ouvi Calleo eufórico ao nosso lado, ele parecia estar realmente alegre.
–O que acontece agora? – Perguntei Calleo voltando a minha atenção para ele.
–AçacRodaçac! – Ele olhou para mim e sorriu.
–AçacRodaçac? –Repeti sem entender –O que é isso?
–É um jogo que fazemos após toda a colheita. – Ele explicou.
–Que tipo de jogo? –Nerian perguntou demonstrando muito interesse.
–De agilidade. –Calleo sorriu para mim e Nerian. –Ganhamos pulseiras da sorte.
–E para quê elas servem? –Perguntei casualmente.
–Depende. –Calleo arqueou as sobrancelhas enquanto explicava atenciosamente sobre o jogo lemuriano. –Eu tenho doze delas, e agora vou tentar ganhar a décima terceira, essa é a mais importante. –Calleo olhou na direção de Bomani e suspirou. –Quando eu ganhar ela, meu pai disse que me levaria até o ninho dos pássaros sete-cores.
–O que vocês vão fazer lá? –Nerian tirou o braço da minha cintura, e segurou em minha mão esquerda. Eu pude sentir que ele passava a ponta dos dedos sobre o vidro da aliança. E isso me deixou desconfortável.
–Quando um lemuriano sobe até o ninho dos sete-cores, e consegue trazer um dos ovos do ninho, ele conquista o direito de escolher uma esposa. –Calleo voltou a olhar em nossa direção. –E então constrói sua própria família.
–Hum. – Discretamente me desvencilhei de Nerian e sorri para Calleo de maneira maliciosa. –Acredito que esteja pensando em uma certa lemuriana de túnica cor-de-rosa.
Calleo ficou estático, e seu rosto enrubesceu.
–Quem é ela? –Nerian instigou, mas Calleo se manteve em silêncio, apenas sacudindo a cabeça para os dois lados.
–Olhem, papai já esta explicando o jogo. –Calleo desconversou suspirando aliviado, e deu um passo à frente, na tentativa de ouvir o que Bomani estava dizendo. Eu e Nerian rimos baixinho ao observar Calleo, e depois também nos aproximamos da multidão para ouvir o que Bomani dizia a todos.
–Precisamos de doze caçadores. –Bomani anunciava. –Quem quiser se oferecer, venha até aqui.
Aos poucos alguns lemurianos foram para perto de Bomani, inclusive Calleo.
–Acho que vou brincar também. –Nerian anunciou ao meu lado. –O que acha, Eileen?
–Talvez seja divertido. – Sorri meia boca para Nerian. –Acho que também irei brincar.
–Isso será muito interessante! –Nerian exclamou sarcasticamente e foi se juntar a Bomani, Calleo e aos outros.
Ao reunir os doze caçadores, Bomani entregou a eles, uma fita de seda para cada um. Todas de cores diferentes. Calleo ficou com a fita azul claro, e Nerian com a vermelha, amarrando-as envolta de suas cabeças, de forma que quase lhe cobrissem a testa. Kepri então se aproximou do aglomerado de lemurianos ao qual eu havia me juntado e começou a distribuir mais fitas coloridas.
–Amarrem suas fitas no braço direito, acima do cotovelo, de forma que fique bem visível. –Kepri anunciou em voz alta, e então me deu uma vermelha, idêntica a de Nerian. Eu poderia até achar que era coincidência nossas fitas serem da mesma cor, mas eu não era tão ingênua assim.
Lenir que estava ao meu lado, se ofereceu para me ajudar a amarrar a fita em meu braço, e em troca eu a ajudei amarrar a dela que era da cor laranja. Particularmente, achei que Kepri deveria ter dado à ela uma fita azul claro, igual a de Calleo, mas não foi assim que aconteceu. Era uma pena, já que era nítido que entre Lenir e Calleo existia algum tipo de sentimento, mas Kepri parecia ignorar esse detalhe.
–As regras são as seguintes. –Bomani disse em voz alta. –O caçador com a fita amarela amarrada em sua cabeça, só poderá caçar quem estiver com a fita amarela atada em seu braço. O caçador de fita branca, só poderá ir atrás dos que tiverem uma fita branca, e assim por diante.
–Os que estiverem com a fita no braço, só precisam se esconder de quem estiver com a fita da mesma cor que a sua atada, na cabeça. –Kepri continuou ao ir para o lado de Bomani. –Vocês podem correr por toda a floresta, e se esconderem em qualquer lugar desde que não seja perigoso. A floresta pode ser brincalhona, então fiquem atentos.
–Conforme vocês forem pegos. –Bomani prosseguiu após Kepri terminar de falar. –Voltem para cá. Cada caçador, tem cerca de cinco capturas para fazer, dentro do prazo de três horas.
–E quem não for capturado? – Perguntei em voz alta. –O que acontece?
–Ganha! –Kepri sorriu e levantou a mão para o alto, enquanto segurava uma singela pulseira feita de safiras, com vários pingentes em forma de meia lua, tão azuis como as águas do oceano. –Os vencedores ganham uma pulseira da sorte.

Eileen (PARTE II) (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora