19- Plano alternativo

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Uma vez Calleo me disse, que os pais protegiam seus filhos. Que esse era o motivo pelo qual eles lutavam. Que isso era um motivo valioso, e isso os deixava mais fortes. Calleo apenas esqueceu-se de mencionar, que toda essa força extra, infelizmente também poderia vir de um vazio profundo. De uma dor insuportável. Com a qual, talvez, um pai não soubesse lidar de imediato.

–Acerte a cabeça. –Na manhã seguinte, Nerian apontou a adaga na lateral da cabeça de Bomani, próximo ao ouvido –O pescoço... –Nerian seguiu com a adaga na lateral do pescoço do lemuriano que permanecia com o semblante frio. –Ou o coração.
–Entendi. –Bomani segurou a ponta da adaga que Nerian apontava para o seu peito puxando-a até que encostasse em sua túnica verde. –Devo cravar com força.
–Exatamente! –Nerian disse com firmeza ao encarar a singela pulseirinha de safiras que era de Calleo, mas agora estava presa ao pulso de Bomani.
Após se despedir do filho, Bomani resolveu lutar. Ele disse não querer vingança, mas sim justiça. O que para mim, naquele momento, não parecia ter muita diferença.
As mulheres lemurianas, cuidavam de recolher o que havia sobrado de suas coisas, após o incêndio da bromélia, enquanto os homens lemurianos aprendiam a lutar com Nerian.
Eu olhava para eles, criaturas nitidamente indefesas, que mal conseguiam manejar uma adaga, muito menos espadas. Criaturas sem qualquer poder adjacente. Criaturas pacificas, que não deveriam lutar. Que não estavam preparadas para lutar.
Se Aelle estivesse certo, e o poder dos caeli fosse mesmo capaz mexer com o tempo e o espaço, eu definitivamente, faria de tudo para trazer Calleo de volta. Eu apenas precisava libertar Nerian, e então deixaria que Aelle seguisse com o plano dele.
–Não tentem um ataque frontal. Primeiro cerquem os selvagens pelos lados . –Nerian disse enquanto caminhava entre os lemurianos que prestavam total atenção ao que ele dizia. –Eles são maiores, mais fortes e mais acostumados à violência do que vocês, então não os subestimem.
Bomani assentiu com a cabeça, olhando fixamente na direção de Nerian. Mas Nerian suspirou desiludido. Era óbvio que Bomani estava sofrendo. E mais óbvio ainda, era perceber que lutar não era a melhor opção naquele momento.
Mas eles estavam feridos, e precisavam revidar.
–Bomani, você tem certeza de que quer ir adiante com isso? – Nerian perguntou.
–Meu filho foi assassinado. Há pais aqui, que não fazem a menor idéia do que seus filhos estão passando no momento. – Bomani desabafou com um certo tom de ira em sua voz. – Há mães chorando sem parar pelos cantos, preocupadas com suas crianças. E além de tudo isso. Olhe em volta. – Bomani fez uma breve pausa e suspirou pesadamente olhando fixamente nos olhos violetas de Nerian. – Nossa casa foi devastada, tudo o que tínhamos foi surrupiado diante de nossos olhos. E você ainda vem me perguntar se queremos ir adiante?
–Eu te entendo. – Nerian abaixou a cabeça e olhou para os demais lemurianos que os observavam conversar.
–Sim. Nós queremos ir adiante! – Um lemuriano de túnica laranja se pronunciou. – Queremos nossos filhos de volta.
–Queremos reconstruir nossa bromélia. – Outro lemuriano de túnica salmão deu um passo à frente.
–Nerian... – Bomani disse. – Não desista de nós só por que não temos habilidades de luta, ou não somos fortes o suficiente como vocês ou os selvagens. Nos dê a chance de ao menos tentar, mesmo que isso signifique mais uma derrota.
–Se é o que vocês querem... – Nerian suspirou anuindo com a cabeça. – Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudá-los.
–Obrigado! – Bomani respirou profundamente erguendo a cabeça.
Nerian apenas balançou a cabeça positivamente.
Uma coisa eu não podia negar. Os lemurianos possuíam muita coragem e determinação. Qualidades admiráveis, mas talvez inúteis em uma batalha de verdade.
–A cabeça e o coração são os pontos mais importantes. –Eklere surgiu ao meu lado colocando a mão em meu ombro. –A razão e a emoção. Concorda, Eileen?
–Acho que sim. – Assenti timidamente, ainda observando enquanto Nerian treinava os lemurianos.
–Há maneiras de se ganhar uma batalha sem usar a força física. –Eklere levou uma mão até minha testa e a outra até o meio do meu peito, ao olhar fixamente em meus olhos. –A razão e a emoção podem vir a ser a arma mais forte que alguém possui se ambas estiverem juntas, e então, o improvável pode acontecer.
–O que quer dizer com isso, Eklere? – Perguntei.
–Não sei. –Ele repentinamente começou a gargalhar como um lunático. –Você sabe?
–Hein?! – Franzi o cenho, ao observá-lo rindo. –Você esta bem?
–Absolutamente. –Eklere me deu as costas e saiu rindo a toa.
Eklere me confundia, me deixando em dúvida sobre sua sensatez, entretanto, as coisas que ele dizia, mesmo que por diversas vezes eu não conseguisse compreender de imediato, pareciam fazer todo o sentido. Olhei para Nerian, que fingia enfiar uma adaga na lateral do pescoço de um lemuriano.
–Atacaremos à noite, então usem a escuridão a seu favor. –Nerian continuava a falar com os lemurianos. –Eliminem os alvos, antes mesmo que eles percebam que vocês estiveram ali.
–Mas não sejam precipitados ao atacar.– Nerian abaixou a cabeça. –A ansiedade ou o nervosismo, os tornaram vulneráveis e sem controle, o que faz de vocês, alvos fáceis. E não é disso que precisamos.
–E qual será a nossa estratégia? –Bomani nem se quer piscava ao encarar Nerian fixamente.
–Por enquanto... –Nerian suspirou ao olhar o restante dos lemurianos que ele estava tentando ensinar a lutar, antes de murmurar baixo. –Acho que teremos que contar com a sorte.

Bomani passeou os olhos pelos outros lemurianos, observando como nenhum deles sabia como se quer segurar uma adaga nas mãos, muito menos como usá-las. Era nítido como nem mesmo Bomani tinha certeza de que aquela era a melhor forma de revidar. Pois, lutar não era um dos talentos lemurianos, e estava longe de se tornar uma de suas habilidades futuras. Mas ninguém poderia evitar que eles tentassem fazer alguma coisa. Seus filhos haviam sido levados deles, além de que um daqueles pais, ainda sofria com a dor da perda definitiva, Bomani.
Eu não conseguia imaginar como Bomani deveria estar se sentindo por dentro. Mas eu esperava, sinceramente, que algum dia, a dor passasse, e as lembranças de Calleo fossem apenas mais um motivo para sorrir, caso a situação não se revertesse diante do superestimado poder dos caeli.
Eu estava tão concentrada observando Bomani que não percebi quando Nerian se aproximou de mim.
–Eileen... –Ele chamou baixinho, e eu o olhei nos olhos violetas.
–Nerian, você tem certeza de que esses lemurianos resistirão a um confronto físico? –Perguntei meio receosa, ao observar lemurianos que mal conseguiam segurar uma adaga entre os dedos. –Para mim, será um verdadeiro massacre se esses lemurianos estiverem mesmo dispostos a um confronto com os selvagens.
–Eles não vão resistir. –Nerian disse despreocupadamente. –E eu acabei de afirmar isso a eles. Seria melhor se desistissem dessa idéia absurda de atacar os selvagens.
–Então por que perde tempo treinando-os? – Exclamei espantada.
-Estou apenas ganhando tempo. –Nerian sorriu com o canto dos lábios, ao piscar para mim. –Eu tenho um plano alternativo.
–Aelle? – Inquiri maliciosamente baixo.
–Infelizmente. –Nerian sorriu o canto dos lábios. –Precisamos de reforços.
–Você me fez crer que o tinha matado, quando avançou sobre ele daquela maneira. – Murmurei ao socar o braço esquerdo de Nerian com suavidade.
–Infelizmente ainda não foi dessa vez que eu o matei. –Nerian sorriu falsamente. –Aelle está tão vivo quanto eu e você, minha querida.
–E os selvagens não contam com isso. – Balancei a cabeça.
–Espero que não. –Nerian passou a mão por minha cintura, me puxando junto dele, para que nos afastássemos de onde os lemurianos ainda tentavam repetir os golpes ensinados.
–O que tem em mente? –Perguntei baixinho para que mais ninguém ouvisse.
–Levando em consideração que temos apenas mais dois dias para estarmos prontos para os selvagens. Creio que temos que resolver isso amanhã.
–Amanhã? – Parei abruptamente.
–Não pare Eileen. Continue andando. –Nerian me puxou para que eu continuasse andando, foi então que percebi que ele me levava rumo à cachoeira, onde eu e Calleo costumávamos ficar.
Andamos em silêncio por alguns minutos, até ficarmos longe o bastante para que ninguém pudesse prestar atenção em nossa conversa.
–Você pretende atacar amanhã? – Perguntei á Nerian quando chegamos à cachoeira. –Como? Eu nem tenho asas ainda. Meus poderes não voltaram.
–Não precisaremos atacar ninguém, apenas distrair. –Aelle surgiu entre as sombras sussurrando baixinho, sua camisa branca ainda embainhada por sangue.
–Como eu já havia dito á Eileen... –Nerian se escorou em um tronco de árvore. –Eu tenho um plano alternativo.
–E qual seria esse plano maravilhoso? –Aelle se escorou em outro tronco de árvore e piscou para mim. –Espero que não seja fingir me matar novamente, Nerian. A Eileen não suportaria me perder pela terceira vez.
–Terceira? –Inquiri sem entender.
–Quando você me libertou daquela caixa de cristal vermelho, foi à primeira, Eileen. E ontem à noite foi à segunda. –Aelle recordou-me. –Acredito que não queira me ver morrer uma terceira.
Aelle riu sem humor, piscando para mim.
Eu apenas assenti com a cabeça ao perceber o tanto que aquilo afetava Nerian, de uma maneira negativa.
–Enfim. –Aelle suspirou quebrando aquele clima tenso que começava a se fazer presente. –Qual é o magnífico plano alternativo?
–Ok. –Nerian se afastou da árvore em que estava escorado. –Já que Aelle está "morto", ninguém suspeitará se ele desaparecer por um tempo.
–Achei que Aelle faria parte do plano.– Balbuciei sem entender o que Nerian planejava.
–E faz, Eileen. –Nerian se apressou em explicar. –Aelle irá voltar até Carbert, buscar por reforços. Segundo Bomani, o portal ainda permanece aberto, então, não será problema para Aelle, ir até lá e voltar.
–E quem você planeja que eu traga comigo? –Aelle arqueou as sobrancelhas, e cruzou os braços rentes ao peito ainda sujo de sangue. –Eu não tenho muitos aliados no momento.
–Dos lúridos, traga Naomi. Se explicar á ele a nossa atual situação, ela não hesitara em vir nos ajudar em segredo. –Nerian fez uma pausa breve, e olhou para mim. –Não podemos deixar Quartzo em estado de alerta. Antes de nossa partida avisei a todos que passaria uns dias fora em lua de mel.
–Lua de mel?! –Aelle ironizou revirando os olhos. –Eu a trarei comigo, mas terei que contar a ela sobre a sua mentira.
-Isso não me afetaria em nada. –Nerian deu de ombros.
Aelle me lançou um olhar carregado de cinismo, mas permaneceu em silêncio.
–No que Naomi nos ajudaria? – Murmurei tentando disfarçar uma leve onda de ciúme que me acometia.
-Seriamos três pares de asas. –Aelle riu, mas então algo lhe passou em mente, fazendo com ele olhasse para mim sugestivamente –Na verdade essa Naomi seria de grande ajuda.
Eu entendi a referencia que Aelle quis fazer. Naomi daria amparo á Nerian quando aquele laço matrimonial fosse desfeito.
-Onde está o prumo dourado, Eileen? –estreitou os olhos para mim.
Eu passei a mão pelo pescoço puxando o cordão dourado, retirando-o.
-Aqui. –entreguei a Aelle, ele pegou da minha mão roçando os dedos em minha palma. Nerian percebeu o sutil movimento.
-Só por precaução. –Aelle se afastou de mim.
–Vamos usar esses pássaros como distração. –Nerian apontou o dedo indicador para o alto.
Eu e Aelle olhamos para cima, onde vários pássaros sete-cores sobrevoavam as colinas de Lêmur.
–E como pretende fazê-los cooperar? –Perguntei ao voltar a olhar na direção de Nerian.
–Vamos atraí-los até onde os selvagens estão. –Nerian disse. –Roubando um dos filhotes deles.
–E o que faremos com um filhote? –Aelle ironizou. –O ensinaremos a voar?!
–Não. Atrairemos os pais deles para baixo. –Nerian respondeu seriamente. –Igualmente as crianças lemurianas estão atraindo seus pais até os selvagens.
–Levaremos os pássaros coloridos, até os selvagens? –Inquiri. –Com qual propósito?
–Distração. –Aelle bufou, o que me fez olhá-lo nos olhos azuis. –Todos em Lêmur admiram essas aves.
-E levando em consideração de que não podemos matar nenhum desses selvagens, nem atear fogo neles.. –Nerian suspirou –Distraí-los será nossa melhor estratégia.
-E porque não podemos fazer isso... –Aelle parecia indignado –Eu não me importaria de cortar a cabeça daquele Edion fora.
-Nossa estadia aqui já causou muito caos, e eles todos estão com reservas em relação à Eileen, e além do mais, ela não recuperou as asas dela de volta, e esse era o único motivo pelo qual viemos até aqui. –Nerian olhou para mim, oferecendo-me um meio sorriso –Vamos resgatar essas crianças e voltar para casa, antes que coisas piores aconteçam.
-Se voltarmos para casa, nossa vinda até aqui terá sido inútil. –Aelle movimentou as asas dele desconfortável mesmo atrás das costas.
-Me digo qual era o real motivo de você trazer a Eileen até aqui? –Nerian desafiou, dando um passo na direção de Aelle.
-A Eileen sabe, e está de total acordo. –Aelle lançou um sorriso sugestivamente malicioso para Nerian, sem tirar os seus olhos dele.
Os dois se encaram com nítida irritação.
–Tragam os Sete-cores até mim. –Eklere surgiu de repente, saindo de trás das rochas da cachoeira. –Nós lemurianos não deixaremos que vocês tirem de nós o dever de salvar os nossos filhos, e depois nos abandonem nesta situação miseravel.
–Eklere não me entenda mal... –Aelle sorriu com o canto do lábio direito, voltando-se para o velho lemuriano. –Mas vocês são fracos e não nos ajudariam em nada em um confronto corpo a corpo.
–Vocês precisam da nossa ajuda, da mesma forma que nós precisamos da ajuda de vocês agora. –Eklere fez com que Aelle se silenciasse. –Não estou dando uma opção a vocês. Estou comunicando apenas. –O Eklere se aproximou de Nerian colocando a mão em seu ombro. –Nós lemurianos lutaremos também.
-Nós não queremos lutar. –Aelle deu de ombros –Queremos apenas resgatar as crianças e salvar o pescoço da Eileen.
-A Eileen é culpada pelo que aconteceu com Calleo –Eklere me lançou um olhar firme –Não que vamos responsabilizá-la por isso, mas se ela não tivesse vindo para Lêmur, nada disso teria acontecido.
-Eu trouxe ela aqui. –Aelle se aproximou do Eklere –Então sou responsável pelo ataque de ontem á noite e pela morte de Calleo.
-Faça a Eileen despertar os poderes dela de caeli e tudo será perdoado. –O Eklere encarou Aelle ameaçadoramente –Afinal, essa é a sua missão aqui em Lêmur.
Nerian se aproximou de mim, segurando a minha mão esquerda.
-E se a Eileen não for uma dessas caeli? –Nerian perguntou apreensivo.
-Ela é. –Aelle disse simplesmente, olhando para mim. –E eu estou aqui por causa disso.
-Faça o que tiver que fazer. –eu olhei nos olhos azuis de Aelle e balancei a cabeça.
Nerian segurou mais firme em minha mão, mas não disse nada.
-Então o plano é o seguinte... –Aelle desviou o olhar para Nerian –Voces dois atraem aqueles pássaros, e eu vou até carbert buscar a lúrida.–Aelle sorriu malicioso para Nerian quando se referiu á Naomi.
-E enquanto isso, o Eklere descobre uma maneira de quebrar esse fio de cristal entre Nerian e eu. –Eu disse sem olhar para Nerian, mas pude sentir que ele ficava imóvel ao meu lado.
-Eu já descobri como fazer isso, criança. –O Eklere apenas anuiu com a cabeça.
-Então faça isso agora. –eu soltei a mão de Nerian e me aproximei do Eklere com ansiedade. –Não temos tempo á perder.
Eklere olhou para mim e depois para Nerian nos avaliando.
Nerian estava rígido olhando para o Eklere, nitidamente irritado.
O Eklere levou a mão por baixo da túnica e tirou um frasco transparente, com um liquido azul.
-Vocês dois devem beber isso aqui, para que o laço do ritual núbil e o fio de cristal estejam conectados. –O Eklere me ofereceu o frasco, e eu imediatamente o peguei.
-E se eu me recusar a tomar isso ai? –O tom de voz de Nerian era frio e mordaz. Eu olhei para ele, seus olhos violetas encaravam os meus.
-Não confia em mim? –O Eklere inquiriu apreensivo.
-Na verdade... –Aelle se aproximou com um sorriso debochado –Nerian não confia nele mesmo.
-O que acontece depois que o laço e o fio se conectarem? –Nerian ainda me olhava, seu semblante era de uma máscara gélida. Ele soltou a minha mão.
-Vamos romper o laço do ritual núbil. –O Eklere disse. –E o fio se fragmentará junto com ele, quase que imediatamente.
-Como? –Nerian suspirou pesadamente, seus olhos violetas me avaliavam com mais irritação.
-Numero 5. –Aelle cantarolou baixinho. Provocando.
-Não vou beber isso ai! –Nerian deu as costas, indo embora pela floresta.
-Nerian! –eu chamei.
-Minha resposta é não. –Nerian não se deu ao trabalho de se virar e olhar para mim quando disse isso. –Sigam com o plano.
Um nó se formou em minha garganta enquanto eu olhava para as costas de Nerian se afastando.
-Qual é o plano? –Me voltei para a Aelle, sem conseguir disfarçar a tristeza em meu olhar.
-Atrair os caeli até aqui. –Disse o Eklere.
-Seguiremos com o plano de Nerian, mas em contraponto, seguiremos com o nosso também. –Aelle murmurou baixo –Os lemurianos são importantes... Mas eu estou aqui pelas suas asas, Eileen.
-Se o Eklere estiver certo, eu tenho que morrer para desfazer o laço matrimonial com Nerian... –Ponderei por um momento –O numero cinco... Significa que Nerian morrerá comigo?
-Sabe aquela medalha que você deu para o Nerian... –Aelle franziu o cenho com desdém –Não vou fingir que isso não me desagradou.
-Você estava nos espionando ontem? –arregalei os olhos.
-Obviamente que eu estava. –Aelle deu de ombros –E quando eu vi aquela medalha nas mãos dele, fiquei muito irritado, porque fui eu quem conseguiu ela para você.
-Nem vou me dar ao trabalho de questionar isso. –Ergui as mãos para o alto, e desviei os olhos de Aelle –Quer que eu dê outra medalha para você?
-Aquela medalha é dos Caeli –Aelle disse simplesmente –Ela não tem aquela inscrição inutilmente, Eileen.
-"Eterno retorno"... –balbuciei e voltei à atenção para Aelle. –Significa?
-Significa que Nerian estará seguro. –Aelle disse com desdém –Infelizmente.
-Por que eu tinha aquilo? –franzi o cenho, encarando Aelle nos olhos azuis.
-Ele roubou da outra caeli, provavelmente. –Foi o Eklere quem respondeu –Ela protege um caeli, impedindo que ele morra fora da dimensão deles.
-Esse tempo todo eu estava protegida por aquela medalha?
-Não, porque você a deu ao cão de guarda, Eileen! –Aelle disse com impaciência
-Então porque eu não morri quando você me atacou em Atalaia?
-Fio de cristal! –Foi o Eklere que respondeu novamente –Você e Nerian estão ligados desde o nascimento dele.
-Então, se Nerian estiver com a medalha, e eu for morta, isso desfaz o nosso casamento, mas ele continuará vivo?
-Em tese, esperamos que sim. –Aelle me lançou um olhar preocupado –Vocês dois devem continuar vivos.
-Se ao menos Nerian nos dissesse onde as acepções estão... –O Eklere andava de um lado para o outro –Nada disso seria necessário.
-Mas não fazemos idéia de onde elas estão, acredito até que Nerian estava blefando quando disse a Edion que iria buscá-las. –Aelle me lançou um olhar de aviso, para que eu ficasse em silencio.
-Vou voltar à bromélia. –O Eklere deu de ombros desapontado –Vem comigo, Eileen?
-Preciso falar com ela em particular. –Aelle segurou em meu ombro –Como disse Edion, nós temos um relacionamento confuso.
Eklere riu e saiu andando para dentro da floresta.
Eu e Aelle ficamos apenas observando enquanto ele sumia entre as arvores.
-Você não confia no Eklere? –perguntei quase com um sussurro.
-Evidente que não. –Aelle retirou a mão do meu ombro e ficou de frente para mim.
-Qual é o plano? –inquiri com curiosidade.
-Suas asas podem estar á um beijo de distancia, você sabe não é?!–Aelle brincou, lançando um olhar de malicia para a minha boca.
-Você vai a Carbert? –fiz uma careta.
-Vou buscar a tal da Naomi, por algum motivo acho que ela seria á única que me acompanharia até aqui de qualquer forma. –Aelle esquivou as sobrancelhas sugestivamente.
-Ela e Nerian... –eu parei, tentando encontrar a palavra certa.
-Já tiveram um caso.. Ou talvez ainda tenham... –Aelle riu baixinho, balançando a cabeça para os lados. –Eu desconfiei quando você questionou o fato dele tê-la escolhido.
Eu fiquei em silencio.
-Ela será a retaguarda dele. –Aelle continuou –Principalmente quando ele...
-Morrer?
-Exato. –Aelle se aproximou segurando delicadamente o meu queixo –Você estará segura, e se algo der errado, acredite em mim, eu enfio uma adaga no meu próprio peito.
-Quero voltar para casa depois disso. –eu murmurei baixo olhando em seus olhos.
-Faça Nerian beber a poção do Eklere –Aelle sorriu com pesar –Tragam aqueles pássaros, eu busco a lúrida, e nós causaremos um caos em lêmur digno da atenção dos Caeli.
-E se eles realmente vierem? –inspirei profundamente –O que eu faço?
-Nós imploraremos para que eles restaurem tudo o que a outra caeli destruiu.
-Sinto que estou traindo Nerian... –me afastei do toque de Aelle –Estou escondendo coisas dele, e ele não quer tomar a poção...
-Esse é mais um motivo para dar um fim nesse casamento, Eileen. –Aelle me lançou um olhar magoado, e abriu as asas branco prateadas, estendendo-as totalmente, elas reluziram com a luminosidade daquela manhã.
-Talvez... –Olhei de volta para a floresta.
-Você está se apaixonando por ele? –Aelle se aproximou, segurando em meu queixo novamente, obrigando-me a olhar em seus olhos.
-Estou confusa...–Havia incerteza dançando em minha voz, Aelle percebeu.
-Você é livre para sentir algo por ele. –Aelle se afastou gentilmente e saltou para o céu iluminado daquela manhã. E eu fiquei ali, sozinha, olhando para aquele frasco com liquido azul.


Eileen (PARTE II) (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora