11- Pistas

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Abri meus olhos devagar, Eklere estava sentado ao meu lado, seus olhos se arregalaram, e ele jogou as mãos para o alto.
–Eu ainda não havia estalado meus dedos, não era para você ter saído do transe. –Eklere estava alarmado, me olhando como se eu fosse uma criatura estranha. –Como fez isso, Eileen?!
–Eu não fiz nada. – Murmurei sentindo uma leve dor de cabeça e me virei na direção de Aelle, que ainda segurava em minha mão, suas sobrancelhas estavam arqueadas enquanto ele me observava.
–O que você viu depois que passou pelo túnel? –Eklere reclamou minha atenção, mas eu continuei fitando Aelle, tentando entender o que eu havia visto.
–Era um baile... com doces ... –Balbuciei confusa. –Havia muitos luzidos...
–Era em Carbert? –Eklere inclinou a cabeça sobre mim fazendo com que eu o olhasse, sua expressão era de legitima curiosidade.
–Creio que sim. – Chacoalhei a cabeça. –Estou me sentindo tonta.
–Acho que você devia descansar, Eileen. –Aelle com a mão livre, suavemente acariciou os meus cabelos. –Talvez queira dormir um pouco, e...
–Não. – Eu disse me desvencilhando de Aelle e ficando em pé. –Prometi ir com Calleo na colheita.
–Mas você tem que descansar! –Aelle se exaltou de repente. –Fique aqui!
–Não! – Eu fiz uma carranca, e Eklere se levantou de onde estava sentado, e ficou alternando olhares entre mim e Aelle, e então suspirou.
–Aelle só está assim, porque ele não pode ir na colheita. – O velho lemuriano nos deu as costas e seguiu para a saída. –Estarei te esperando lá fora, Eileen.

Ao ver que Eklere se afastava, fiz menção de segui-lo, mas Aelle colocou o braço em minha frente, impedindo que eu passasse.
–Me deixe passar. – Cruzei os braços e o encarei com uma expressão de impaciência. Aelle me encarou angustiado.
–Seja lá o que você tenha visto, por favor, é melhor você não comentar com ninguém. – Ele murmurou baixinho na esperança de que Eklere estivesse longe o suficiente para não ouvir.
–Estou dispensando seus conselhos.
–Isso não é um conselho. –Aelle olhou diretamente em meus olhos. – É um pedido.
Fitei seus olhos azuis e vi suplica neles.
-Você morava na prisão de Atalaia?
-Nem sempre aquilo foi uma prisão. –Aelle inspirou pesadamente e abaixou o braço que me impedia de passar –Me prometa que não irá comentar sobre isso com ninguém, para a sua própria segurança.
–Verei o que posso fazer. –Suspirei e desviei o olhar dele.
–Posso pedir só mais uma coisa? –Aelle mordeu o lábio. –Não vá a essa colheita, Eileen.
–E por que eu não iria? – Arqueei as sobrancelhas e cruzei os braços enfrente ao peito. Eu juro que não entendia por que ainda me preocupava com o que Aelle dizia. –Se você tem algo a me dizer, essa é a sua chance, Aelle Illustratur.
–Você viu a garota roubando doces, não viu? –Aelle sussurrou vencido. –Sabe quem ela é, Eileen?
–Caeli. – Respondi com indiferença, e o encarei com curiosidade. –Quem é você, Aelle?
–E isso importa? –Aelle me encarou de volta e suspirou se aproximando de mim, ao segurar em meus braços. –Eu só quero sentir o gosto...
–Hein? – Tentei me afastar dele enquanto lentamente Aelle aproximava seus lábios dos meus.
–Por favor. – Ele pediu baixinho. –Estou esperando por isso há muito tempo.
Fiquei imóvel, olhando-o agoniada. Era como se um nó estivesse se formando em meu peito, e eu queria desatá-lo imediatamente, mas não conseguia.
–O que você pensa que está fazendo, Aelle?! – Exclamei alarmada, e me lancei para longe dele, me desvencilhando de suas mãos, antes que seus lábios encostassem nos meus.
–Um teste. –Aelle piscou para mim. –E você passou nele.
–Quê?! – Franzi o cenho sem entender o que ele dizia.
–Ah esqueça.. –Aelle sorriu divertido.
–Eu tenho que ir. – Murmurei chateada dando as costas a Aelle, deixando-o sozinho na casa de Eklere.
Eu esperava que com o tempo, as coisas que eu havia visto durante a regressão viessem a se encaixar, de uma forma que eu pudesse compreende-las. No momento tudo estava confuso, e eu ainda não conseguia assimilar corretamente o que era tudo aquilo invadindo minha mente com informações novas.
Caminhei rápido para alcançar Eklere. Ele pareceu não notar quando comecei a andar ao seu lado. Ele parecia absorto em pensamentos , preocupado com alguma coisa. De repente, ele parou, virou-se para mim e estalou os dedos rente ao meu nariz.
–Está louco?! –Me assustei fitando-o alarmada. Eklere apenas franziu o cenho e estalou os dedos mais uma vez enquanto me observava com atenção.
–O que pensa estar fazendo? – Me desviei da mão dele e ele retrocedeu.
–Você não devia ter acordado do transe. –Ele comentou pensativo. –Isso não esta certo.
–E o que poderia ter dado errado? – Perguntei quando começamos a andar novamente.
–Não sei. – Ele sorriu de repente, como se fosse um lunático. –Talvez você ainda esteja em transe. – Ele fez uma pausa dramática e limpou o ar em frente aos meus olhos. –Você está acordada?
–É obvio que estou acordada.– Desviei da mão dele novamente.
–Como você saberia? – Ele dramatizou ao me fitar com as sobrancelhas arqueadas. –Talvez esteja dormindo, mas não tenha percebido ainda.
Encarei Eklere por um breve momento e balancei a cabeça, ele realmente era esquisito.
–O que quer dizer com isso, Eklere?
–Alguém já comentou com você sobre a enorme semelhança que existe entre você e Caeli? –Eklere cruzou os braços rente ao peito e juntou as sobrancelhas. –Você teve muita sorte dos selvagens não terem matado-a assim que a viram.
–E por que eles matariam essa tal de Caeli? – Senti um frio percorrer por minha espinha de repente. –Calleo me disse que ela era um anjo dourado.
–Sim... –Eklere recomeçou a andar e eu o acompanhei. –Nunca vi alguém igual a ela. Nunca tive medo de alguma coisa ou de alguém como tive daquela garota.
–Medo? – Olhei na direção de Eklere, ele parecia estar relembrando de algo realmente assustador. –Por que teria medo dela?
–Quando ela apareceu por aqui, Lêmur foi engolida por chamas, tudo foi destruído, os selvagens foram queimados vivos... –Os olhos de Eklere pareciam vidrados enquanto ele falava. –Ela queria recrutar os selvagens, mas eles são teimosos demais para receberem ordens de alguém, então ela os torturou das formas mais cruéis que se possa imaginar. Desde então, eles se isolaram do outro lado da floresta tornando-se hostis, esperando pelo momento certo de se vingarem.
–Ela não quis recrutar os lemurianos? –Minha cabeça começou a latejar e eu tentei disfarçar para que Eklere não percebesse. –Para que ela precisava recrutar alguém?
–Nós lemurianos, somos pacificadores, não serviríamos para lutar por ela. –Eklere sorriu sem humor. –E ela estava fugindo de alguma coisa, não chegamos a descobrir o que era, talvez fosse da sua própria espécie. Mas seja lá o que estivesse atrás dela, estava deixando Caeli desesperada. –Eklere de repente olhou para mim. –Ela precisava de proteção, e conseguiu isso com os luzidos, eu acho.
–Luzidos? – Parei de caminhar, mas o Eklere continuou.
–Caeli não atacou Lêmur sozinha, ela tinha um exército de luzidos sob suas ordens. –Eklere me lançou um olhar sobre o ombro e piscou para mim. –Mas não se preocupe, Eileen, nós lemurianos aprisionamos os poderes dela em jóias mágicas.
–Jóias mágicas? – Engoli a seco e levei a mão até o peito.
–Sim, acredito que você tenha tido acesso á elas inclusive. –Eklere parou e se virou de frente para mim. –Você me disse que já havia visto um, a acepção do coração de um demônio, onde ele está?
–Não sei. – Murmurei estática, eu não me sentia segura para continuar aquela conversa com Eklere.
O velho lemuriano pareceu perceber meu desconforto e então sorriu largamente para mim.
–Estou com fome! – Ele exclamou e me deu as costas recomeçando a andar na minha frente. –O almoço deve estar quase sendo servido, vamos nos apressar, Eileen.
–Aham. – Anui com a cabeça e então segui atrás do Eklere. Talvez minha melhor opção fosse seguir os conselhos de Aelle, mantendo o segredo sobre qualquer coisa. Eu tinha o pressentimento de que não seria seguro confiar em ninguém, nem em mim mesma.

Andamos o resto do caminho em silêncio, mas Eklere parecia estar desconfiado com alguma coisa. Ao chegar na bromélia, quase todos já estavam sentados ao redor da mesa, eu e Eklere nos dirigimos ao pequeno córrego de águas cristalinas para lavar as mãos e depois fomos para a mesa. Antes que eu me sentasse em qualquer lugar, avistei Calleo acenando para mim, e fui me sentar ao lado dele.
Avistei Nerian sentado ao lado de Bomani como nos dias anteriores, ele acenou para mim e eu sorri na direção dele.

Eklere permaneceu em pé, aguardando que todos se sentassem ao redor da mesa e fizessem silêncio.
–Você está melhor? –Calleo murmurou baixinho ao sorrir para mim. –Você me deixou preocupado.
–Desculpe. –Murmurei de volta ao retribuir seu sorriso. –Eklere me deu um líquido, o qual parece ter me feito voltar ao normal.
–Que bom. – Ele piscou para mim. – Temos uma colheita mais tarde não se esqueça. Colheremos morangos, sua fruta favorita.
Eu apenas sorri.

–Ejoh é mu aidlaicepse... –Eklere começou a falar naquela língua estranha e todos se voltaram na direção dele, então eu e Calleo ficamos em silêncio – Somerarbelec o aid ad atiehloc, mu otnevearaprinuer a ailimaf, ednososiapmanisnesosohlifomocrahlabart. Arap euq um aid, sues sohlifmassopranisne soa sohlifseled, o oriedadrevrolavsadsasioc.

Enquanto o Eklere continuava falando, reparei que Nerian me encara de longe, o que me fez encará-lo de volta. Ao perceber que eu o olhava, Nerian sorriu e movimentou os lábios vagarosamente; "Sinto sua falta, Eileen."

Eileen (PARTE II) (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora