ALGUNS ANOS ANTES
Prefiro pensar que todos nós passaremos por alguma desilusão amorosa na vida antes de encontrar aquele alguém que terá um amor que te consumirá.
Infelizmente isso ocorre muita das vezes quando ainda somos novos o que é literalmente uma merda, pois foi exatamente isso que aconteceu comigo, por sorte do destino eu sem saber tinha alguém para segurar minha mão nesse momento que hoje vejo ter sido um sofrimento bobo por alguém idiota que não valia a pena.
Não sei como passei a ver Steve com outros olhos, mas acredito que foram as infinitas conversas, todas as vezes que ele ia até a casa do meu primo e sempre passava na minha para conversarmos ou apenas me ver um instante.
Com ele senti algo que nunca pensei sentir na vida, era um sentimento avassalador, sincero, que me fazia pensar em nós dois já velhinhos sentados num banco no fim de tarde vendo nossa família reunida ao redor.
- Vida, aquele filme era horrível. - Ele novamente fez drama para o filme que escolhi assistir no cinema hoje.
Apenas por ter sido como ele diz "romântico bobinho", o que não posso discordar, mas fazer o que se gosto desses filmes juvenis e melosos? E mesmo reclamando ele continua a ver eles comigo todas as vezes que perde numa disputa de argumentos sobre o que veremos.
- Eu te recompensei o levando para jantar, então não reclama. - Conseguir pagar algo quando estávamos juntos era uma outra dificuldade, mas tenho uma lábia boa.
- Aquela comida estava maravilhosa, mas... - Sua mão que estava em minha coxa se afundou ainda mais enquanto mantinha um sorrisinho que bem conheço em sua face. - Você pode me deixar mais saciado quando chegarmos em casa.
- Você é um idiota. - Resmunguei em brincadeira dando um tapa fraco em seu bíceps mesmo sabendo que no final da noite terminariamos nos saciando exatamente como está passando em nossas mentes agora.
- Um idiota que você ama. - Isso com toda certeza era verdade.
Comecei o amando como um amigo que me deu seu ombro para chorar quando precisei e esse sentimento simplesmente se aflorou dentro de mim sem ao menos notar, quer dizer, quando percebi estar com ciúmes dele acho que isso ficou claro.
Sou completamente apaixonada por esse homem que contém o sorriso mais fácil e lindo que já presenciei, que sempre arranca o melhor de mim independente da situação e me mostra seu amor nos pequenos gestos.
- Amo sim vida.
- Também te amo Ana. - Seu sussurro foi ouvido no silêncio do carro enquanto entrelaçava nossas mãos levando aos seus lábios antes de voltar posicionando sobre a marcha do carro.
Ato corriqueiro entre nós!
Por sorte conciliar sua faculdade com nossas vidas estava sendo mais fácil do que previa. Teoricamente eu ainda morava com minha mãe porém passo a maior parte da minha semana no pequeno apartamento de um quarto próximo a universidade que alugamos juntos a alguns meses.
Muitos falam que somos novos e acham que esse relacionamento não irá pra frente, mas nós quebramos as possibilidades e acho que desde o momento que passamos a ter algo realmente sério temos nossos sonhos e planos programados, uma vida inteira com desejos que queremos realizar juntos.
- Vai ficar o final de semana todo comigo, sim?
- Não tem que estudar?
- Estudar sabendo que está no cômodo ao lado como na época da escola é bem melhor. - Ele sorri maroto. - Além do mais tem uma festa em alguma fraternidade que ouvi falar.
- Você falando de festa? - Perguntei segurando o riso já que ele tinha aversão a multidões.
- Você gosta disso vida, então faço o esforço de ficar bebendo enquanto te vejo dançar. - Finalizou soltando uma piscadela.
O que começou com uma gargalhada minha se transformou numa bagunça em milésimos de segundos, lembro de gritar assustada e tudo simplesmente se apagar após luzes fortes me atingirem.
Muita dor.
Cheiro forte.
Fumaça ao nosso redor.
O que está acontecendo aqui? Lembro-me de questionar para mim mesma.
- Ana! - Foquei na sua voz me chamando, ou melhor gritando algumas vezes até eu conseguir visualizar seus olhos repletos de preocupação.
Infelizmente não consegui focar nisso e sim no seu corpo prensado no carro, em sua blusa ensanguentada, assim como a lateral do seu pescoço me deixando em pânico total.
- Você... como...
- Steve...
Eu estava muito assustada, com a mente confusa, sentia um líquido pegajoso em alguns lugares do meu corpo e minha cabeça latejava fazendo-me piscar algumas vezes para conseguir focar em seu lábios que continuavam a se movimentar cheios de sangue. Depois disso não lembro-me de muitas coisas apenas uma em especial ficou de recordação que foram seus lindos olhos acinzentados que tanto amava perdendo completamente o brilho ao se fechar lentamente.
[...]
- Quando acordei estava no hospital com minha mãe e soube que ele faleceu antes da chegada dos bombeiros.
Nesse instante as lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto milhões de flashes dispararam em minha mente em um lopping sem fim, nem ao menos sei como consegui retomar a voz após tudo isso.
- Eu sinto muito pelo que passou. - A voz de Filip ecoou em tom baixo e sentimental enquanto apertava minha mão.
- No mesmo dia recebi outra notícia, e essa acabou com o que sobrou de mim... Infelizmente o feto não suportou.
O médico junto a uma psicologa estavam no quarto com a minha mãe neste momento e foram obrigados a me cedar por um bom tempo.
- Estava esperando um bebê do homem que eu amava e nós nem sabíamos disso, perde-los foi insuportável! Eu fui ao fundo do poço, entrei numa depressão que me deixava debaixo das cobertas a maior parte do tempo, sem comer ou ver o mundo, só consegui continuar apenas por que tinha pessoas que eram motivo para me reerguer, eles suportaram meus surtos e ainda me ajudam a levantar todas as vezes que caio... A vida deles parou pela minha dor!
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Salva-me
RomantikREESCREVENDO! Um momento pode te levar ao inferno e não querer mais sair dali? Um único momento pode decidir toda sua trajetória? Ana Clara Monteiro acredita que sim. Mesmo sendo confiante e destemida 95% do tempo, ela tem aqueles 5% que em seu inte...