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(A vida é muito curta pra te amar só em uma, prometo de procurar na próxima vida) Shakespeare

Pela terceira vez Marília tirou a atenção do trânsito infernal de Nova York para rejeitar uma das chamadas de Murilo. Parou no semáforo e olhou o céu extremamente nublado, indicando que uma tempestade estava próxima. Mesmo com o celular no modo silencioso, a tela do mesmo chamou sua atenção, mostrando o nome do namorado petulante que ligava mais uma vez.

Há semanas o relacionamento começou ficar mais conturbado que o normal, Murilo insistia em dizer que Marília não lhe dava mais atenção suficiente, ou não lhe tratava como no começo do namoro. A desculpa da loira era sempre a mesma: trabalhar demais. Quando na verdade, o que ela mais queria era distância. Já estava enjoada do cuidado excessivo do namorado, das mensagens e ligações o dia todo, do quanto ele não suportava a ideia de passar um dia sem vê-la, do ciúmes absurdo que as vezes o deixava agressivo, e da sua desconfiança. Marilia não sentia mais atração alguma por Murilo, mantinha o namoro por dois motivos pelos quais ela julgava serem justos para persistir nessa mentira: o primeiro motivo era não magoar Murilo que sempre demonstrou amar demais, e o segundo motivo é que isso já era cômodo.

A questão é que a comodidade passou a incomodar, e a estilista tentou de todas as formas mostrar para o namorado que só bastava mudar algumas coisas para o namoro durar mais. Por mais que já não sentia mais nada pelo homem, ainda conseguiria manter o relacionamento se houvesse um pouco mais de espaço. Aliás, já estava acostumada a ter alguém.

Perdida em meio aos pensamentos, só se deu conta de que o semáforo abriu quando alguns carros atrás começaram buzinar. Dobrou a esquina em direção ao prédio onde mora, e mais uma vez o nome do namorado, apareceu na tela. Soltou uma das mãos do volante, pegando o aparelho jogado no banco do passageiro e por fim, a contragosto, atendeu a ligação.

- Onde você está, lila? - Murilo perguntou num tom um tanto quanto nervoso.

- Quase chegando em casa - respondeu revirando o olho. Se ele pudesse ver, surtaria com o fato de ter feito tal ato ao falar.

- E por que não atende as minhas ligações?

- Talvez seja porque eu estou dirigindo, e ou eu presto atenção no trânsito, ou eu presto atenção em você. E adivinha só qual eu prefiro.

- Precisamos conversar, Lila.

- Sim, nós precisamos - concordou. Deixou todos os motivos para continuar com isso de lado, sentiu enjoo ao se imaginar junto com ele na cama, ou até mesmo um simples beijo. De repente ficou disposta a acabar com tudo, mas sabia que não seria tão fácil.

- Chego no seu apartamento daqui alguns minutos. Vamos resolver isso para finalmente ficar tudo bem de novo - seu tom de voz era firme, porém ainda esperançoso.

Marilia protestava em silêncio. Queria conversar para colocar um ponto final de forma civilizada, não queria consertar as coisas. Todas as suas teorias de que seria difícil se acostumar na vida de solteira de novo, foram embora pelo ralo de repente. Parece que foi como uma lâmpada se acendendo em seu cérebro, não tinha mais motivos para prosseguir. Seria injusto com ambos manter algo que já não a agradava mais, e ainda pior, usá-lo somente para suprir suas necessidades carnais, que no momento já não queria nem mais isso.

- Murilo, eu acho melhor conversarmos amanhã. Estou cansada - mentiu. Não havia feito nada que pudesse lhe cansar, se quisesse, estaria disposta para qualquer coisa.

- Não, você já decidiu demais as coisas nesse relacionamento. É a minha vez, Marília, eu vou até aí e nós vamos achar um jeito para nossas brigas.

folhas de outono (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora