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Fazer as malas estava tornando tudo muito mais real.

As duas semanas que sucederam a conversa com Maraisa passaram num piscar de olhos. A reunião havia sido feita e tudo estava esclarecido. A vontade de ir e a satisfação de Marilia eram quase palpáveis.

Ambas estavam tentando aproveitar o máximo que podiam juntas, cada minuto que se passava parecia trazer uma saudade antecipada.

Ainda que difícil de esconder o quão árduo seria essa distância e esse tempo, Marilia tentava mascarar sua vontade de não deixá-la em Nova York da mesma forma que Marausa escondia o quanto a queria ali o tempo todo.

O clima de despedida havia se instalado desde o jantar da noite passada, o qual Davyd e Ruth fizeram questão de organizar. Um último momento em família por sete meses, e família incluía Maiara, Fernando, Almira e Hary, além de alguns amigos de Marilia. Os pais nem escondiam o quão orgulhosos estavam, apesar de a saudade ser completamente inevitável, o orgulho se sobressaía.

Maraisa havia se oferecido para ajudar Marilia com as malas pois tinha a absoluta certeza de que se ela ou Ruth não a ajudasse, deixaria metade das coisas necessárias para trás.

- Cansei. — Marilia deitou na cama ao lado da mala aberta.

-Estamos acabando.- Apoiou suas mãos na cintura a olhando.

-Eu estou levando meu closet quase inteiro, acho que já basta. Terei que pagar por excesso de bagagem na volta ou deixar algumas roupas minhas por lá.

- Por que será que não estou surpresa? Sorriu. — Levante, Mendonça, venha acabar isso logo.

Marilia se levantou da cama, contornando-a e
abraçando Maraisa pela cintura.

- Vou sentir falta de quando você acha — enfatizou- que consegue ficar brava comigo. - Beijou seu rosto voltando a olhá-la nos olhos logo percebendo sua insatisfação.

- Sabe que não gosto quando fala assim.

- Sabe que não gosto quando faz essa carinha que me faz querer cancelar tudo - falou fazendo Maraisa dar um meio sorriso.

- Vamos terminar suas malas logo. - Lhe deu um selinho, saindo de seus braços e entrando no closet.

Marília tinha seu coração em pedaços quando Maraisa deixava transparecer esse desânimo por estar longe. Queria estar vinte e quatro horas perto tanto quanto, mas aparentemente era mais difícil para quem ficaria. Buscou diminuir o tempo da viagem. Sete meses contavam com um mês para sua adaptação à nova rotina e sua estabilização em um lugar completamente novo, portanto, era mais que necessário esse mês em que ainda não daria as aulas.

Não estava indo para tirar férias, estava indo construir uma nova fase da sua vida. Se
assustava ao pensar em quantas mudanças isso poderia trazer, tanto positivas quanto negativas, e nessa nova fase, não se imaginava sem Maraisa ao seu lado. A queria em cada pequena alteração que houvesse. Doía saber que dessa vez, o "ao seu lado” não tinha todos os sentidos da expressão, mas ao menos sabia que o significado era o mesmo.

Uma hora depois, Marília estava arrastando a última mala para o canto do quarto.

Um dia antes do jantar em família, tiveram um jantar a sós, em um restaurante que ambas apreciavam. Teria sido em sua última noite antes da viagem, se Maraisa  não tivesse insistido para que na noite antecedente à sua partida, ficassem apenas as duas em casa.

A noite nova-iorquina estava, mais uma vez, digna de ser admirada de um terraço.

Marilia pousou seus braços sobre os de Maraisa que a abraçava por trás, apoiando o queixo em seu ombro.

folhas de outono (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora