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"Me passeia que eu gosto de arrepiar Sob sua digitais

É impossível calar

É feito sorte

Me abraça forte

E tateia todo meu caminho"

Maraisa sorriu ao ver Marilia se arrepiar sob as pontas dos seus dedos que acariciavam a pele exposta das suas costas. Não era só o corpo de uma que reagia ao toque da outra. Estavam em silêncio, deitadas lado a lado, com as respirações normalizadas há pouco. Marilia tinha os olhos fechados e quase sorria com o carinho que recebia.

A distância que mantinham era suficiente para que Maraisa a observasse, a admirasse e a decorasse mais uma vez. Lhe fazia um bem inigualável se encontrar em cada traço da mulher que pintava seus dias com as cores mais bonitas.

-Eu tenho algo para você - Marilia disse ainda de olhos fechados, os abrindo em seguida e se deparando com dois olhos castanhos despertos por curiosidade e sorriu com isso. Se virou para o outro lado, podendo alcançar a primeira gaveta do criado mudo, a abrindo e procurando pela caixa preta aveludada que estava lá há dias.

- Marilia? - Franziu o cenho quando a loira se sentou com a caixa nas mãos. Sentou-se também, trazendo o lençol sobre seu corpo devido ao calor que se esvaía.

- A caixa é um pouquinho grande para ser o que você está pensando. - Marilia riu e viu o semblante de Maraisa mudar e ficar mais tranquilo. -Eu estava esperando algum momento especial para te dar isso, e não consigo pensar em um melhor que agora. — Estendeu a caixa preta para Maraisa, que a pegou e alternou seu olhar entre ela e o que tinha em suas mãos. A abriu e abriu um sorriso junto.

-Isso representa... - Maraisa começou a falar mas foi interrompida por Marilia.

- O estetoscópio representa o seu lindo trabalho como uma heroína salvadora de vidas. O que você é para mim.

-Uma heroína?- Seu olhar se alinhou ao de
Marilia que assentiu.

-E a folha de plátano representa o outono. Sempre foi minha estação favorita, e agora eu tenho um motivo ainda melhor para isso já que nos conhecemos no começo do outono.

Maraisa tocou cada um dos pingentes, sem parar de sorrir. O colar prata com duas correntes, sem sombra de dúvidas, se tornara sua joia favorita em prazo de segundos.

-Você gostou?

- Me diga que isso foi uma pergunta retórica, por favor.

-Não está mais aqui quem perguntou.

- Ele é lindo, Lila. Obrigada! — Voltou seus olhos à Marilia que sorriu.

- Que bom que gostou. É para ter um pouquinho de mim com você.

- Já tem muito de você comigo, em mim. - Colocou a caixa sobre o criado mudo que havia do seu lado da cama também. Marilia não respondera o que disse de imediato, e ao virar-se para ela novamente, analisou seu semblante sereno, e seus olhos azuis que olhavam diretamente nos seus. Aproveitavam o máximo que podiam sempre que acabavam se perdendo em cada imensidão da outra.

-Eu te amo - proferiu em tom baixo, mas completamente harmonioso para os ouvidos de Maraisa.

Falar nunca fora mesmo necessário. Nunca houve dúvidas de que o sentimento existia e nunca faltara demonstrações, contudo, é inegável que as palavras causam efeito, e ainda maior quando ditas pela primeira vez.

Maraisa sabia que nunca, em sua existência, havia dado tantos sorrisos para alguém como sorria para Marilia, essa que apreciava cada marquinha que sua pele fazia quando os olhos quase se fechavam simultaneamente aos lábios que enlargueciam.

folhas de outono (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora