2| 𝗈 𝗍𝗂𝗀𝖾𝗅𝖺

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Ando sem rumo pela escola. Não há muito o que fazer por aqui. Estou aqui  por pura falta de opção. Sendo sincero, é melhor do que ficar mais um segundo perto do Tigela. Você pode estar pensando que é ódio desnecessário, o que é por um lado. Mesmo assim, não deixo de trazer à tona o quão desconfortável eu me sinto perto desse moleque. O meu único desejo agora é que ele vá embora da escola.

─ Wheeler! ─ parece que meu desejo nunca será atendido. Me viro e vejo o Tigela correndo em minha direção ─ Já ia me esquecendo! Era pra você me mostrar a escola, lembra? So conheço a sala de aula e o refeitório até agora ─ ele sorri para mim. Não estou nem um pouco afim de mostrar a escola pra ele.

─ Você não pode simplesmente ir conhecer a escola sozinho? Assim você me ajudaria muito ─ sorrio de volta e me viro, continuando o meu passeio sem rumo.

─ Por que você não gosta de mim? ─ o Tigela me pergunta e começa a me seguir. Tento apressar meus passos, mas ele acompanha sem dificuldade.

─ Será que dá pra parar de me seguir? ─ olha para ele de canto.

─ Só paro se me contar o motivo de você não gostar de mim ─ ele venceu. Paro de andar e me viro para ele. Só tô fazendo isto para ele parar de me encher.

─ Eu não gosto de você por você ser extremamente chato e esquisito. Sem contar que você é bem boiolinha. Espero que tenha entendido, então, se me der licença...─ tento continuar o meu passeio, mas sou interrompido pela milésima vez.

─ Nem por isso você pode me mostrar a escola? ─ respiro fundo e tomo a pior decisão da minha vida.

─ Vem logo antes que eu mude de ideia ─ ele se empolga e me segue.

Tigela fica admirado. O garoto fica olhando pelos arredores como se a escola fosse um tipo de paraíso (e todos sabemos que a escola é o contrário de paraíso). Por alguns segundos, penso na possibilidade de Tigela nunca ter pisado em uma escola, até o mesmo citar sua antiga escola.

─ Uau. Aqui é bem maior do que a minha escola antiga. As pessoas daqui são mais legais também. Admito que estava bem nervoso, mas acho que consigo me adaptar aqui! É bem legal aqui ─ consigo sentir uma certa pureza vindo desse garoto. Ele fala das coisas de uma forma como se elas fossem algo demais.

─ E como eram as coisas na sua escola antiga? ─ pergunto, meio desinteressado. Assumo que não queria deixar ele no vácuo. O Tigela parecia muito maravilhado, então não queria acabar com a felicidade dele de cara.

─ Não eram tão maneiras como aqui. As pessoas de lá não eram muito amigáveis. Também não tinha muitos amigos lá. Não que eu tenha feito amigos aqui. O Dustin e o Lucas parecem muito legais, mas não sei se são ou querem ser meus amigos. Eu pareço infantil, eu sei. Às vezes eu falo que nem uma criança. Se estiver incomodado, é só avisar ─ ele diz, com um tom de voz meio triste. O garoto tá enchendo o meu saco desde que ele pisou aqui. Mas, isso não é motivo pra ele ser assim com ele mesmo. Mesmo odiando esse projeto de ser humano, decido tentar ser o mínimo legal.

─ Eu estou incomodado desde que você chegou, pra ser bem sincero. Só não precisa ser assim consigo mesmo ─ sei que não ajudei em nada. Pelo menos ele parece menos desconfortável, creio eu.

─ Sei que me odeia, mas eu te acho legal. Tipo, seu estilo é descolado e, você parece não ligar pra nada. Parece que você tá dane-se para tudo e todos ─ por um lado, ele soube me descrever. Eu realmente não ligo pra porra nenhuma. Me pegou de surpresa na parte de me achar legal, apesar de eu odiar ele. Até que eu não odeio tanto ele assim. Talvez aquelas coisas que eu sentia era só uma má primeira impressão. Isso não significa que eu vou deixá-lo passar imune, porque continuo odiando ele.

─ Eu te odeio, mas nem tanto. Você é só um boiola com um corte de cabelo ridículo ─ ele solta um risadinha abafada.

─ Sobre a parte do corte de cabelo, você põe a culpa na minha mãe ─ a mãe dele deve odiar o coitado.

《.》

Ficamos um bom tempo passeando pela escola. Acabou que eu nem apresentei a escola direito, e sim só dei voltas com o Tigela. Durante o percurso, acabei conhecendo um pouco melhor ele. Ele gosta de desenhar, ele gosta de ouvir música e, claro, jogar D&D. Ele também me conheceu um pouco. Contei que também gosto de D&D e que eu toco em uma banda. Aproveitei e dei dicas de estilo para essa tigelinha ambulante. E, sim, continuo não tendo um bom pressentimento sobre o garoto. Quem sabe algum dia eu dê uma chance para ele.

As aulas já haviam acabado. Lucas e Dustin estavam me esperando no portão.

─ Voltou do seu encontro com o seu futuro namorado? ─ Lucas debocha de mim. Quantas vezes preciso explicar para ele?

─ Já disse que não sou gay. Sem contar que eu odeio esse moleque  ─ Lucas e Dustin riem de mim. ─ Do que estão rindo?

─ Odeia por ele fazer você duvidar da sua própria sexualidade? Acho que passar mais tempo com o Will te ajudaria a tirar essa dúvida ─ não faço a mínima ideia se Lucas está zoando com a minha cara ou estão falando sério.

─ Eu vivo passando o tempo com vocês e nunca duvidei de nada ─ os dois não riem da minha piada. Nem foi tão ruim assim.

─ Como você é engraçado, Mike. O Lucas quis dizer que ele é a pessoa perfeita pra você! Vocês dois são o contraste perfeito ─ do que esse idiota tá falando?

─ Seja qual for a merda que vocês estão falando, vocês estão viajando. Estão completamente fora da casinha, tá? Tô caindo fora agora. Valeu ─ me despeço deles e pego minha bicicleta. Agora vou para casa, fazer vários nada. Tomara que amanhã esqueçam sobre isso. Tomara que esqueçam sobre o Tigela.
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𝖡𝗈𝗒𝗌 𝗐𝗁𝗈 𝗅𝗂𝗄𝖾 𝖻𝗈𝗒𝗌 | 𝖻𝗒𝗅𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora