8| 𝗓𝗈𝗆𝖻𝗂𝖾 𝖻𝗈𝗒 & 𝖿𝗋𝗈𝗀 𝖿𝖺𝖼𝖾

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Hoje é sexta e, ainda por cima, é feriado, o que significa que não tem aula. Will veio para a minha casa, como o combinado. Ele chegou cheio de material para o trabalho. Descemos para o meu porão e dali começaremos o trabalho.

─ Pensei em criarmos um cartaz! Eu trouxe cartolina, materiais de pintura, purpurina... ─ aparentemente ele veio todo preparado.

─ Você vai desenhar? Acho que seria legal ter algumas ilustrações. Inclusive, pode desenhar celebridades ─ Will parece animado e topa a ideia.

─ Mike, sobre a nossa pesquisa...é bem difícil achar casais homossexuais por Hawkins. A gente poderia escrever que, em cidades pequenas, é raro encontrar casais assim ─ concordo fazendo um sinal com a cabeça.

─ A questão nem é essa. A questão é mais falar sobre a causa. Sem contar que a gente nem preparou a nossa apresentação. A gente pode fazer algo bem diferente. Podemos chamar a minha banda, eles vão topar ─ Will parece confuso.

─ Você tem uma banda? Ah! Verdade, você tem. Eu tinha me esquecido completamente. Você faz o que na banda? Tipo, o que você é? Quer dizer, o que você é e faz? Bem, acho que você entendeu ─ ele se enrola com a própria pergunta. Eu achei muito fofo. Por que eu achei muito fofo?

─ Eu sou o vocalista e toco guitarra. É a banda do tal do Eddie que sai com o Steve e que joga D&D. Se ele resolver voltar pra escola, a gente joga D&D com ele ─ Will parece maravilhado. Não sei se é pelo Eddie ou por mim. Talvez pelo Eddie.

─ Que bacana. Bom, vamos começar o trabalho? ─ ele abre a cartolina, sorrindo.

Eu e ele nos sentamos no chão, porque há mais espaço. Para o Will parece tranquilo, mas, para mim, nem um pouco. O meu cabelo estava batendo na minha cara e eu estava morrendo de calor. É nessas horas que eu me arrependo de ter deixado o cabelo crescer.

─ Eu estou morrendo de calor ─ me levanto rapidamente para abrir a janela. Pelo menos ventila um pouco.

─ Por que não prende o cabelo? ─ Will se levanta também e prende o meu cabelo com o elástico que prendia a cartolina. Nunca tinha pensado na possibilidade de prender o cabelo.

Will fez um coque bem despojado em mim. Ficou bonito. Tento não focar no coque e volto toda a minha concentração para o trabalho. Will era responsável pelas ilustrações e eu pela escrita.

─ Vou começar fazendo uns esboços. Quando tudo estiver completo, eu deixo tudo bonitinho ─ disse ele enquanto desenhava e sorria para mim ao mesmo tempo.

Minha letra não é das melhores, mas sou horrível desenhando. Os desenhos do Will são incríveis. Eu invejo ele. Ele parece desenhar na maior tranquilidade. Deve ser muito fácil pra ele.

─ Seus desenhos são muito fodas. Eu vi alguns no seu quarto. Também já te vi desenhando na aula ─ pensei que o Will ficaria todo timidozinho (como ele sempre fica). Me enganei. Ele ficou com uma expressão assustada.

─ Por acaso você fica me observando durante a aula? Achei bem stalker ─ ele me descobriu. Não vou mentir, às vezes a minha atenção fica centrada nele. Mas é porque eu adoro os desenhos dele.

─ Eu gosto dos seus desenhos, doido. Não pense que eu fico olhando pro seu cabelo de tigela ─ Will larga o lápis e não fica quieto.

─ Na primeira vez que eu te vi, eu te achava parecido com um sapo! ─ UM SAPO? Ele tá pedindo pra pegar pesado.

─ Você aparece todos os dias morto de sono, parecendo um zumbi ─ Will começa a rir, mas ainda não me perdoou pela tigela. Também não vou o perdoar pelo sapo.

─ "Garoto zumbi" e "Cara de sapo". Belos nomes, não acha? ─ Will inventa nomes para os apelidos. Não achei tão ruim.

─ Belos nomes, "Garoto zumbi" ─ implico.

─ Belos nomes, "Cara de sapo" ─ ele implica de volta.

《.》

Terminamos o trabalho com sucesso. Pode não estar cem por cento completo, mas está perfeito. Eu e Will deitamos no sofá, de cansaço. Passamos o dia inteiro trabalhando nisso.

─ Nossa! Já escureceu? ─ Will levanta do sofá para ver o céu na janela. Ele é meio baixinho, então ele precisou se leventar por inteiro.

─ Aparentemente, sim. Passamos o dia todo fazendo o trabalho, literalmente ─ ao contrário do Will, eu sou alto. Eu só precisei debruçar os cotovelos e já dava para ver a janela.

─ A lua tá linda. E se a gente for lá fora? ─ concordo com o Will e fomos para o lado de fora.

Ele estava certo. A lua estava linda mesmo. Deito na grama e ele se deita também. Ficamos observandoo céu escuro e estrelado. Estava bem escuro, só com a lua e as estrelas iluminando.

─ Mike, posso te fazer uma pergunta? ─ Will se vira para mim. Digo um "Sim", e ele faz a pergunta ─ Por que você escolheu esse tema pro nosso trabalho? ─ MEU DEUS O QUE EU RESPONDO?!

─ P-Porque eu acho esse tema legal. Tipo, deveria ser mais discutido e respeitado ─ minto. Ele parece acreditar.

─ Se eu te contar um segredo, promete não contar pra ninguém? ─ Will solta isso do nada.

─ Mas, se é um segredo, por que você está contando pra alguém? Tô zoando, pode contar ─ digo. Ele suspira e parece estar bem nervoso.

─ E-Eu acho que...que eu sou diferente ─ fico confuso e sem entender nada.

─ O que você quer dizer com "diferente"? ─ pergunto. Os olhos dele parecem lacrimejar. Ele respira fundo e finalmente decide esclarecer o "diferente".

─ M-Mike...e-eu sou...eu sou ga-gay...─ Will começa a chorar. Não que seja uma "novidade", mas ele parecia bem nervoso.

─ E que diferença faz você ser gay? Isso não te torna diferente de ninguém. Pelo contrário, te torna especial. Não liga pra nada que esses babacas por aí falam ─ tento demonstrar apoio. Devo ter falhado, mas Will parece ficar mais aliviado.

─ Em pensar que um dia você já foi um desses babacas ─ ele ri, mas chora ao mesmo tempo ─ Obrigado, Mike ─ ele sorri pra mim. Eu dou um sorriso de volta.

Se cria um silêncio, e nenhum dos dois fala nada. O Will que costuma quebrar o silêncio não falou absolutamente nada. Parece um momento para refletir. Tanto ele quanto eu estamos refletindo. Ou talvez só eu mesmo, porque me viro e Will está encostado no meu ombro, dormindo. Você é especial, Will. Muito especial.

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𝖡𝗈𝗒𝗌 𝗐𝗁𝗈 𝗅𝗂𝗄𝖾 𝖻𝗈𝗒𝗌 | 𝖻𝗒𝗅𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora