5| 𝗅𝖺𝗍𝖾 𝗇𝗂𝗀𝗁𝗍 𝗍𝖺𝗅𝗄𝗂𝗇𝗀

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Quando o sinal toca, vou embora desesperado da escola. Pego minha bicicleta e vou pedalando bem rápido pra casa. Chegando em casa, subo direto para o meu quarto, jogo minha mochila na minha cama e enfio minha cara no travesseiro. O dia hoje foi muito confuso.

Tipo, eu não sei o que eu sinto pelo Will. Já sei que ódio não é a resposta. Eu realmente não sei. Penso por um tempo, e acabo chegando em uma conclusão que eu não queria. Talvez eu goste dele. Não faz sentido algum eu gostar dele. Não faz nem uma semana que o garoto chegou na escola. Só pode ser amor à primeira vista, então. Como assim eu estou gostando do Will? Como eu estou gostando do tigelinha boiola? Ele é legal, mas não é pra mim.

《.》

Começa a anoitecer, e já está na hora do jantar. Não estou com muita fome, mas desço para comer só para não levar bronca. Chegando na sala de jantar, vejo que ninguém está lá. Daí que percebo que ninguém está em casa, o que significa que eu não preciso jantar e posso fazer o que eu quiser. E uma dessas coisas é tocar guitarra no último volume.

Desço para o porão e ligo minha guitarra. O problema é que eu não sei o que tocar. Penso em várias músicas, mas não estou com vontade de tocar nenhuma delas. Decido então tocar Psycho Killer, do Talking Heads. Mal toco o primeiro acorde e acabo pensando no Will. Ouvimos Talking Head hoje. Pronto, agora não posso mais tocar Talking Heads que já penso nele. Que saco.

Fico parado, sem fazer nada. Esse garoto tá tomando conta de mim. Resolvo tirar ele da minha cabeça e toco outra música que não me faça lembrar dele. Toco Material Girl e acabo me lembrando de outra pessoa. Acabo me lembrando da Jane, minha ex. Tenho saudade dela. Muita saudade. Terminamos há um tempo atrás e, logo depois, ela se mudou. Perdemos contato e nunca mais nos falamos. Não nos amávamos de verdade, apenas tínhamos muita consideração um pelo outro. E se eu ligasse para ela? Ainda me lembro do número dela.

Vou correndo em direção do telefone e disco o número dela. Aguardo o telefone chamar, um pouco ansioso. Sou atendido, mas não é por Jane.

─ Alô? ─ sou atendido. O que eu não esperava era que eu fosse atendido pelo Will. Quando ouço a voz dele, fico vermelho. Tô começando a achar que é uma perseguição ou uma pegadinha.

─ O-Oi, Will. Acho que disquei o número errado. Desculpa o incômodo. Tch...

─ Ei, espera! Eu queria falar com você. Dustin e Lucas me deram o seu número, mas não tive coragem de discar. Bem, eu queria falar sobre o projeto. O que vamos fazer enquanto à isso? ─ Dustin e Lucas deram o meu número para o Will? Eles realmente querem que nós dois sejamos um casal, porque conheço muito bem os dois. E sobre o tal projeto, já havia até me esquecido.

─ Eu tô pouco me fodendo pra esse projeto. Se você realmente quiser levar isso à sério, vem pra minha casa, amanhã. Ou eu vou na sua casa? Sei lá ─ seria meio errado eu me convidar para casa dele? Por que eu estou preocupado com isso?

─ Pode ser na minha casa! Aí a gente vai revezando de vez em quando ─ pelo menos ele concordou.

─ Beleza. Tchauzi...

─ Espera! Desculpa por ficar te interrompendo. Só queria me desculpar por falar que te odiava quando a professora montou as duplas. Você pareceu meio irritado ─ ele acha mesmo que eu vou ficar irritado por isso? Eu fiquei irritado por ele ser a minha dupla.

─ E você acha que eu me importo com isso? Sinceramente, Will, eu tô bem dane-se. Eu vivo falando que te odeio e nunca nem me desculpei ─ ouço ele rindo pelo outro lado da linha. Ele parece mais aliviado.

─ Gosto de você, Mike. Tipo, você é engraçado de uma forma estranha. Foi muito legal hoje na cabine do banheiro, sério. Você é um amigo. Um bom amigo. Sei que não me considera como um, mas eu te considero ─ acho que ele é iludido. Não somos amigos, e nunca seremos. E se ele me considera, o problema é dele.

─ Legal, Will. Admito que foi bem legal no banheiro hoje. Agora eu preciso ir, sério. E quero que fique bem claro que não somos amigos ─ ouço Will rir, de novo.

─ Somos o que então? Namorados? ─ espero que ele esteja brincando.

─ Não somos nada. Com licença, preciso ir ─ desligo antes dele falar qualquer coisa. Ponho o telefone de volta no gancho e me sento no chão.

O que acabou de acontecer? Eu literalmente disquei o número da Jane errado e, do nada, o Will me atende. Não sei se devo ir ou não na casa dele amanhã. Será que é seguro? Será que ele vai me raptar? Será que ele vai me aprisionar? Muitas teorias martelam minha cabeça. Por que tinha que ser justo esse garoto pra me deixar assim? Será que eu realmente gosto dele e não quero assumir? Será que eu sou...gay?

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𝖡𝗈𝗒𝗌 𝗐𝗁𝗈 𝗅𝗂𝗄𝖾 𝖻𝗈𝗒𝗌 | 𝖻𝗒𝗅𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora