─ Wheeler? ─ ouço a voz do Tigela. Ele estava batendo na porta da cabine em que eu estava. Decido abrir porque sou maluco.─ O que você tá fazendo aqui? ─ pergunto de uma forma um pouco grosseira. Ele não pareceu se importar, porque logo respondeu:
─ Vi que você estava desconfortável, então vim te fazer companhia! ─ ele responde, com um sorriso fofo. Como não há muita opção, deixo ele entrar e tranco a cabine. Sentamos eu e ele no chão.
─ Por que você ainda insiste? Tipo, por qual motivo você ainda quer tentar ser, sei lá, meu amigo? ─ pergunto. Não é possível que este garoto ainda quer ser meu amigo ou algo tipo. Tá muito na cara.
─ Não se lembra? Eu tinha dito ontem que te achava legal. Sou muito trouxa por querer ser seu amigo, eu sei. Mas, sei lá, sinto que podemos ser algo, nem que seja colegas ─ ele só pode estar sonhando.
─ Eu não quero ser seu amigo. Não é porque conversamos ontem, ou porque eu deixei você entrar no grupo, que significa que somos alguma coisa. Então, por favor, pare de se importar comigo. Eu te odeio! ─ percebo sua expressão triste. Acabo me arrependendo. Acho que fui muito escroto. Decido me desculpar, por mais que seja a última coisa que imaginei que faria ─ Desculpa...
─ Você está certo. Nós nunca seremos amigos. Eu entendo porque você não quer ser meu amigo. Enquanto você é todo descolado, rebelde e, não liga para nada, eu sou uma pessoa esquisita. Sou exatamente o que diz que eu sou. Sou um boiola com um corte de cabelo ridículo. Somos completamente diferentes. Eu sei. Mas, continuo me importando porque, de alguma forma, quero compensar em alguma coisa. Como eu imagino que você não quer a minha presença aqui, estou vazando. Só queria saber realmente o motivo de você me odiar tanto... ─ ele se levanta e fica prestes a abrir a fechadura da porta da cabine, mas eu o interrompo. Puxo seu braço para baixo, indicando para ele se sentar. Não acredito que estou fazendo isso.
─ Eu quero que você fique aqui ─ MEU DEUS! O QUE EU TÔ FAZENDO?! ─ E-Eu ainda te odeio, tá? Mas, não precisa ser assim. Até que gosto de conversar com você...q-quer dizer, aqui tá chatão, sabe? Você traz um pouco de entretenimento ─ eu. Quero. Me. Matar
─ Você é engraçado, sabia? Uma hora você diz que me odeia, e na outra você quer conversar comigo. Tenho certeza que isso não é ódio, Wheeler ─ ele ri. É ódio sim. É ódio com pena. E por que raios ele fica me chamando de Wheeler?
─ Me chama de Mike, por favor. Só a professora insuportável me chama de Wheeler ─ poderia ter dito Michael ao invés de Mike. Agora vai ficar assim mesmo.
─ Te chamo assim se parar de me chamar de Tigela. Me chama de Will ─ nunca vou conseguir superar o Tigela.
─ Difícil. Muito difícil. Mas, só pra não ser mais chamado de Wheeler. Acordo fechado, então ─ eu ele apertamos nossas mãos, como se estivéssemos fechando negócio.
Ficou um silêncio repentino. Ficamos alguns minutos olhando um para o outro, com cara de paisagem. O Tigela, quero dizer, o Will, é especialista em quebrar o silêncio. Ele começa a falar do nada:
─ Quer ouvir música? Trouxe meu walkman ─ ele tira a fita do seu walkman e põe ela nas minhas mãos. Viro a fita e vejo as faixas escritas nela. Ele tem bom gosto, mas não comento nada. Devolvo a fita e ele põe para tocar. ─ Gosta de Talking Heads?
─ Gosto ─ respondo, meio seco.
Parei para refletir um pouco e, realmente, não há motivo para odiá-lo. Sou apenas um idiota achando coisa onde não tem. Will é legal. Ele é muito legal. Talvez eu não seja maduro o suficiente e o tenha tratado mal pelo simples fato dele me fazer refletir sobre algo. Algo sobre mim mesmo. Eu não sei o que é, mas sinto algo estranho quando estou com ele. Tratava isso como um sentimento ruim e, agora, parando para pensar, é um sentimento bom. Falo que odeio ele pois não consigo achar outra palavra. É tão confuso.
─ Toma ─ ele me oferece um lado do fone. Ficamos sentados no chão sujo da cabine do banheiro ouvindo Talking Heads. Admito que é maravilhoso.
Não sei como, mas consegui esquecer uma caneta dentro do bolso da minha calça. Decido então vandalizar a cabine do banheiro. Escrevo "Belo pau" e o Will começa a rir. Ele pega a minha caneta e faz um desenho aleatório. Ele desenha muito bem. Pelo o que deu para entender, era o desenho de uma pessoa usando o vaso reagindo ao que eu escrevi. Vandalizamos a cabine até ouvimos o sinal da aula tocar.
─ Parece que é hora de abandonar a cabine ─ digo. Will concorda e saimos de fininho do banheiro. Seguimos para sala de aula como se nada tivesse acontecido.
Entramos na sala junto do amontoado de gente. Sentei na minha carteira, apenas aguardando a aula começar. Observo a professora entrar com um sorriso que parecia não caber em seu rosto.
─ Bom dia, turma! Trago uma novidade para vocês! Já estão sabendo do festival que terá no final do ano? Será um festival que contribuirá para uma arrecadação que a escola irá fazer para crianças desabrigadas. Com isso, terão que formar duplas para apresentarem projetos nesse festival. Vou sortear as duplas, então se preparem ─ mais que merda. Odeio quando os professores escolhem as duplas.
─ Tomara que o Mike caia com o Will ─ Lucas debocha. Eles estão bem debochados ultimamente.
─ Tomara que você caia com o Troy ─ rebato. Lucas solta um "Credo".
─ Byers e Wheeler, vocês são a primeira dupla! ─ ÃN?
─ Não disse que você cairia com ele? Minhas palavras se tornaram reais ─ Lucas ri da minha cara.
─ Cala a boca, Lucas! Não fode ─ vou ser obrigado a fazer dupla com o Will. Acho que eu realmente odeio ele e aquela minha reflexão foi apenas um surto. O Dustin e o Lucas vão me infernizar até o final da minha vida.
Como não tenho opção, sento ao lado do Will para começarmos a discutir sobre o projeto, já que todas as duplas que foram sendo sorteadas aos poucos estão fazendo.
─ Eu te odeio ─ ele fala baixinho.
─ Eu te odeio mais ainda ─ retribuo.
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𝖡𝗈𝗒𝗌 𝗐𝗁𝗈 𝗅𝗂𝗄𝖾 𝖻𝗈𝗒𝗌 | 𝖻𝗒𝗅𝖾𝗋
Fanfiction𝖬𝗂𝗄𝖾 𝖶𝗁𝖾𝖾𝗅𝖾𝗋 𝖾́ 𝗎𝗆 𝖺𝖽𝗈𝗅𝖾𝗌𝖼𝖾𝗇𝗍𝖾 𝗊𝗎𝖺𝗅𝗊𝗎𝖾𝗋 𝗊𝗎𝖾 𝗍𝗈𝖼𝖺 𝖾𝗆 𝗎𝗆𝖺 𝖻𝖺𝗇𝖽𝖺 𝖾 𝗃𝗈𝗀𝖺 𝖣&𝖣. 𝖭𝖺𝖽𝖺 𝖽𝖾 𝗇𝗈𝗏𝗈 𝖺𝖼𝗈𝗇𝗍𝖾𝖼𝗂𝖺 𝖾𝗆 𝗌𝗎𝖺 𝗏𝗂𝖽𝖺, 𝖺𝗍𝖾́ 𝖶𝗂𝗅𝗅 𝖡𝗒𝖾𝗋𝗌, 𝗈 𝗇𝗈𝗏𝖺𝗍𝗈, 𝖺𝗉𝖺𝗋...