6| 𝗌𝗍𝖺𝗋𝖼𝗈𝗎𝗋𝗍

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Eu e o Will fomos embora da escola, juntos. Assim como eu, ele também vem de bicicleta. Enquanto pedalamos até a casa dele, ele decide puxar assunto.

─ Já tem alguma ideia do projeto? ─ ele pergunta e pedala para perto de mim, porque assim consigo ouvi-ló melhor.

─ Não sei se você percebeu, mas eu não estou nem um pouco afim de fazer esse trabalho e, muito menos sei do que ele se trata ─ respondo o mais sensato que consigo ser.

─ O trabalho é sobre alguma pauta importante que precisa ser mais discutida. Vai ser apresentado em um festival que a escola vai fazer. Esse festival vai ajudar numa arrecadação lá de crianças carentes ─ Will fala enquanto desvia a bicicleta de buracos.

─ É um Live Aid escolar? ─ Will ri da minha piada.

─ Como se fosse. No caso, não somos artistas e nem vamos fazer uma performance. Mike, se você fosse um artista, qual seria? Eu seria o Bowie ─ ele acabou de fazer uma da perguntas mais humanamente difíceis de se responder (para mim é).

─ Não vou responder porque é muito difícil. Só vou te elogiar pela ótima escolha ─ sorrio para o Will. Espera, eu sorri para o Will?! Eu não sei o que tá dando em mim.

Acho que aquele sentimento tá crescendo, e é bem difícil de descrevê-ló. E ele cresce mais ainda quando Will sorri para mim de volta. Fico tão hipnotizado com o sorriso dele que acabo não prestando atenção e caio da bicicleta. O resultado foi um joelho ralado e um rasgo na minha calça.

─ Mike! ─ Will larga sua bicicleta e vem me socorrer correndo ─ Tá doendo muito?! ─ o garoto parece desesperado. Ele segura minha perna de uma forma da qual eu me sinto meio intimidado. Eu realmente acho que estou com algum problema.

─ Eu tô bem. Agora, por favor, pode largar a minha perna? ─ Will tira as mãos da minha perna. Me sinto menos constrangido agora.

Will me ajuda a subir na minha bicicleta e vai me levando devagarinho, para que eu não possa fazer muito esforço no joelho machucado. Não sabia que ele era tão cuidadoso.

Mal pisando na casa dele, ele trouxe uma caixinha de curativos. Sentei no sofá da sala e ele colocou um band-aid em mim. O band-aid que ele colocou era de coração. Não é muito meu estilo, mas é fofo.

─ Sei que não é muito a sua cara, mas ficou uma graça ─ Will diz, como se tivesse lido a minha mente.

─ Dá pro gasto ─ dou uma risadinha. Tô me sentindo idiota rindo de coisas assim. Que gay.

─ Foi tudo culpa minha. Se eu não tivesse te distraído, nada disso teria acontecido ─ por um lado, é verdade. Mas, não quero que ele se sinta culpado.

─ Fica frio, Will. Nem tá doendo, pra ser bem sincero. O que importa agora não é o meu joelho machucado, e sim essa merda de trabalho ─ Will concorda com a cabeça e me guia até o seu quarto.

─ Bem-vindo ao meu quarto! Fique à vontade. Pode tirar o sapato, se quiser ─ o quarto do Will é muito maneiro. As paredes são cheias de desenhos e é cheio de discos e materiais de pintura espalhados. Tiro o meu tênis para ficar mais à vontade.

─ Seu quarto é bem legal. Meu quarto parece de criança perto do seu ─ ele ri enquanto procura por alguma coisa. Até que ele acha uma fita e põe para tocar no toca-fitas. A primeira música que toca é Just Like Heaven, do The Cure.

─ Entãããão. Por onde começamos? ─ ele se senta na cama e resolvo sentar ao lado dele.

─ O tema é o que mesmo? Uma pauta que precisa ser discutida, né? Ah, não sei... ─ não acredito que vou falar isso, mas a minha ideia foi falar sobre a homossexualidade. Ultimamente estou tendo certos pensamentos assim. As dúvidas de eu ter algum tipo de atração pelo Will aumentam cada vez mais. Quem sabe se fizermos um trabalho com esse tema acabe me ajude em algo ─ E se for sobre a homossexualidade?

─ E-Eu acho uma ótima ideia, M-Mike. E se a gente sa-saísse? É. É a gente pode sair! A gente pode fazer pesquisas saindo de casa! Que tal o shopping? Aí a gente toma sorvete ─ é impressão minha ou ele tá me chamando pra um encontro indiretamente? Deixando essa hipótese de lado, aceito ir para o shopping. Além de ser um lugar lotado que possa ajudar em pesquisas, vamos tomar sorvete também.

《.》

Chegamos no shopping Starcourt e, para nossa infelicidade (felicidade, na verdade), está meio vazio. Talvez porque seja dia de semana, então não costuma lotar. Precisávamos do shopping cheio para as pesquisar. As pesquisa é basicamente quantos casais gays conseguimos encontrar em uma cidade pequena.

─ Procura bem em todos os lados! ─ Will fala enquanto se afasta, em busca de casais por aí. É bem difícil de encontrar, para falar a verdade.

Ao invés de só ficar parado, procuro em algumas lojas. Nunca imaginei que fosse cair em uma dupla com o Will e, simplesmente, fazer um trabalho com um tema gay. Tudo na minha vida está ficando bem gay. Não sei se eu me preocupo ou se me acostumo.

─ Mike! ─ ouço uma voz familiar e me viro para ver quem é. Quando vejo de quem era a voz, meus olhos quase se enchem de lágrimas.

─ Jane! ─ nós dois corremos e demos um abraço. O abraço deve ter durado quase um minuto, literalmente.

─ Acho que já deu de abraço, né? ─ Max aparece logo em seguida. Ela e Jane são muito amigas e, imagino que as duas estão se reencontrando depois de um bom tempo.

─ Não enche, Maxine ─ eu e Jane rimos da Max, que estava irritada.

─ Não me chama assim! ─ Max dá um tapinha de leve no meu braço.

─ Então, Mike, como andam as coisas? Ainda toca na sua banda? ─ Jane pergunta.

─ Toco sim. Ela já quase acabou umas cinco vezes só esse ano. Mas, ainda toco nela sim. Ainda toco aquela música dedicada à você ─ Jane fica sem graça após eu ter citado a música que dediquei à ela. Antes de terminarmos, escrevi uma música em homenagem à Jane. Ela ama essa música até hoje.

─ Mike! Eu tava te procu... ─ Will aparece. Jane e Max olham fixamente para o Will, e depois olham para mim.

─ Ele é seu namorado? ─ Max pergunta, debochando. Não aguento mais as pessoas perguntando isso (no caso, só ela e os dois bobocas do Dustin e do Lucas).

─ N-Nós... ─ interrompo o Will antes que ele fale qualquer coisa.

─ Nós somos amigos. Apenas isso. Viemos pra cá para fazermos uma pesquisa. Agora, se nos derem licença, precisamos ir. Nos esbarramos por aí! ─ puxo o Will pelo braço e nós dois vazamos dali.

─ Quem eram aquelas duas? ─ Will pergunta, um pouco confuso.

─ Duas amigas ─ respondo, meio seco.

─ Tá tudo bem, Mike? Achei você meio estranho. Você até me chamou de amigo ─ decido parar por um instante. Ainda estou processando e, eu simplesmente não acredito que eu chamei o Will de “Amigo".

─ Tá tudo bem, tá? Só fui pego de surpresa pelas duas. E, pra falar a verdade, somos amigos. Eu não queria ter que admitir isso, mas, somos amigos, praticamente ─ fico desacreditado de estar chamando ele assim. Penso em alguma maneira de me livrar desse constrangimento e, a primeira coisa que se passa pela minha cabeça é a solução de tudo. ─ Quer tomar sorvete?

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𝖡𝗈𝗒𝗌 𝗐𝗁𝗈 𝗅𝗂𝗄𝖾 𝖻𝗈𝗒𝗌 | 𝖻𝗒𝗅𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora