Normalmente, Luca passava a manhã conduzindo seus negócios ou recebendo cargas no porto e tirava a tarde para fazer suas visitas sociais – as raras exceções para essa regra aconteciam quando combinava com Rubião de ir ao clube de cavalheiros, como teria acontecido naquele dia se seu amigo não tivesse precisado viajar às pressas para resolver a questão da fuga de sua jovem protegida.
O italiano suspirou novamente, lembrando-se da expressão angustiada do amigo ao imaginar a mulher amada esperando por ele, que não apareceria devido ao contratempo inesperado. Sacudiu a cabeça de leve. Rubião apaixonado. Certamente nunca imaginaria ver o amigo tão entregue a uma mulher que só tinha visto uma única vez... Rubião era pragmático demais para se render a algo tão incontrolável quanto o amor.
Justamente por ter ficado impactado com a mudança no amigo foi que Luca desistiu de seus planos de ir ao porto receber a mais nova carga de vinhos despachada por sua irmã na Itália e resolveu ir até a residência da família anfitriã da futura duquesa da Parnaíba. Não duvidava nada que Rubião, assim que chegasse na fazenda, antes mesmo de falar com sua tutelada errante, lhe enviasse uma carta querendo saber como a conversa com a futura senhora Flávia Rubião havia transcorrido.
Chegou à casa na Primeiro de Março quando a manhã já ia alta. Bateu na porta e aguardou que alguém viesse abrir, enxugando o suor na testa com um lenço branco fino. A missiva de Rubião estava seguramente guardada no bolso interno de sua casaca, apenas à espera de ser depositada nas mãos de sua destinatária.
Pouco depois, uma negra jovem, de olhar reservado e desconfiado, abriu a porta. Ele exibiu seu melhor sorriso.
– Pois não? – Disse a jovem com uma expressão plácida no rosto redondo.
– Buongiorno – disse o italiano, corrigindo-se diante do olhar confuso da mucama – Bom dia. Sou o senhor Luca Marino. Gostaria de falar com a senhorita Flávia, por favor – pediu, solícito.
– Não tem nenhuma sinhazinha Flávia aqui não, sinhô – disse a mucama – Bom dia – encerrou a conversa, fechando a porta.
Luca piscou, aturdido. Depois de alguns segundos, bateu novamente na porta.
– Pois não? – A mesma moça abriu. Seu rosto estava menos tranquilo; ele percebeu um traço de impaciência em seus olhos.
– Senhorita, mil desculpas por incomodá-la novamente – disse ele, usando todo o charme – Mas aqui não é a casa da família Farto?
– É sim, sinhô – confirmou a moça – Mas aqui num tem nenhuma sinhazinha Flávia, não. Tem a sinhazinha Branca só. Tenha um bom dia – E fechou novamente a porta com um estalido muito audível e definitivo.
Luca sufocou a vontade de soltar um palavrão. Não duvidava que Rubião tinha lhe passado o endereço correto. Seu amigo não iria se enganar numa situação tão importante e vital. Então... Onde diavolo estava Flávia, e como explicaria a seu amigo que não conseguira entregar a carta dele à futura duquesa?
***
Branca estava saindo do quarto quando ouviu Maria fechar a porta com um estrondo. Depois da partida de Rebecca para a fazenda, conduzida por dois escravos de sua família, não tinha conseguido dormir nada, preocupada com a amiga. Mesmo sabendo que Becca era teimosa e não ia mudar de ideia, até o último minuto havia tentado convencer Rebecca a acreditar nas palavras de Rubião e explicar seus motivos para a vinda até a capital. Com sorte, o duque acabaria aceitando as justificativas de Rebecca, e ela não seria castigada. Com mais sorte ainda, a bruxa amarga seria enxotada da fazenda Eden, e Rebecca nunca mais teria de sofrer nas mãos dela.
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When I Fall in Love | Rebecca & Rubião
Historical FictionJosé Maria Rubião, o Duque de Parnaíba, está furioso ao descobrir que a jovem moça que chamou sua atenção (e com quem trocou beijos ardentes) em um baile de máscaras é a sua tutelada que fugiu dos cuidados de sua tia na fazenda, Rebecca. Tendo confi...