Capítulo 2.

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Quando Branca voltou ao salão, com um enorme sorriso satisfeito nos lábios e os olhos azuis brilhando de empolgação por Rebecca, encontrou sua mãe conversando com Dona Tetê e suspirou com impaciência.

Dona Tetê era a esposa de um barão, já entrado em anos, que, sendo viúvo e sem filhos, havia se apaixonado por ela quando ela ainda era escrava, a alforriado e se casado com ela. A situação tinha causado certo escândalo nos círculos sociais, considerando o fato de que ele tinha um título, e ela era uma ex-escrava; porém, nem a mulher nem seu marido se importavam com isso e viviam felizes. O inusitado casal não desfrutava da intimidade da família Farto, mas, quando estavam na capital, a mãe de Branca gostava de conversar com Dona Tetê para inteirar-se dos mais recentes mexericos da corte enquanto estavam no interior.

Quando finalmente chegou até onde a mãe estava sentada na companhia de Dona Tetê, Branca já havia conseguido disfarçar a impaciência com a velha mexeriqueira e exibia no rosto a expressão educada e o sorriso doce que normalmente usava na presença da matrona. Já a ex-escrava sorria largamente, com uma expressão de satisfação enquanto conversava com a sra. Farto.

– Boas noites, dona Luzia. Quero parabenizá-la pelo feito que realizou hoje – disse dona Tetê, sentando-se em uma cadeira ao lado de Luzia Farto. Os olhos escuros brilhavam de empolgação com o que tinha visto acontecer diante dos próprios olhos. Havia sido um tapa de luva de pelica no rosto daquela desavergonhada mentirosa!

A mãe de Branca a olhou com curiosidade, registrando pelo canto do olho a aproximação da filha.

– A que se refere, dona Tetê? – Perguntou com educação. Branca finalmente chegou até onde a mãe estava e pegou um leque, abanando-se suavemente para refrescar-se (nem todas podiam ser como Rebecca e escapar para tomar a fresca com um bonitão na praia).

– Ora, a senhora então não sabe? – O sorriso de dona Tetê ampliou-se e ela se inclinou, abaixando a voz de modo conspirador – A senhora certamente já ouviu falar de madame Coste Grava, a viúva do oficial Grava, correto?

Dona Luzia assentiu. Branca observava a conversa das duas senhoras com curiosidade. Nunca tinha ouvido falar na tal madame, mas a mãe aparentemente sim, considerando a brevíssima expressão de desprezo em seu rosto ao ouvir o nome.

– Sim, a mais recente amante de meu vizinho, o duque da Parnaíba – disse a mãe de Branca com uma expressão de desgosto – Já ouvi comentários a respeito dessa... senhora – ela disse com leve nojo na voz; a palavra 'senhora' mais pareceu uma ofensa – mas não a conheço. O que há com ela?

– Pois bem – Dona Tetê olhou ao redor para garantir que estavam em relativa privacidade e abaixou ainda mais a voz – Nos últimos tempos, madame Coste Grava andou comentando em petit comité que será a próxima duquesa de Parnaíba; que o duque fez sua viagem mais recente a fim de organizar os negócios no Velho Continente para permitir-lhe mais tempo no Brasil a fim de fazer a corte a ela e, posteriormente, casarem-se.

Branca e dona Luzia se entreolharam, surpresas. Se aquilo realmente procedesse, era novidade até para elas. Em nenhum momento Rebecca não havia comentado qualquer coisa sobre a possibilidade de seu guardião estar planejando o próprio casamento. Embora a menina não tivesse qualquer contato direto com o responsável por ela, esse tipo de notícia sempre circulava entre a criadagem, e de uma forma ou de outra acabaria caindo nos ouvidos da jovem – e, por tabela, delas.

– Não estamos sabendo de nada – disse dona Luzia, cuidadosamente. Branca discretamente puxou sua cadeira para mais perto da mãe. Aquele assunto muito lhe interessava, e também a Rebecca, já que a futura esposa do duque ficaria responsável por ela até que ela se casasse.

When I Fall in Love | Rebecca & RubiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora