When I Fall in Love | Rebecca & Rubião

Capítulo 8.

⚠️ALERTA DE GATILHO: O capítulo a seguir terá menção e descrição gráfica de violência sexual, caso não se sinta confortável em ler sobre esses assuntos, recomendamos que pule o capítulo e volte a ler a história no capítulo 10.  Prometemos fazer um recap dos fatos.⚠️

Atenciosamente, 

Juju e Bia

Rebecca admirou o próprio reflexo uma última vez antes de descer as escadas para começar o dia. Usava um vestido de algodão — verde claro, com bordados de pequenas flores cor de rosa na altura do busto —, perfeito para um dia quente, como havia dito a senhora Bertoleza em seu ateliê. Os cabelos longos e negros estavam presos em um penteado elegante e simples, feito por uma Blandina risonha depois de passar um bom tempo desembaraçando os fios naquela manhã.

Havia acordado sozinha em sua cama no quarto da duquesa e, por um instante, se perguntou se os acontecimentos da noite passada não tinham se passado de um sonho; porém, a presença da mantilha e do batom cuidadosamente guardados na primeira gaveta de sua cômoda foi o suficiente para calar qualquer questionamento que rondasse sua mente. Entendia o motivo de José a ter trazido de volta para seu quarto; afinal, se fossem descobertos dormindo na mesma cama — em estado de nudez, ainda por cima —, o escândalo seria tão grande que só poderia ser abafado com um casamento.

Não que ela se importasse com isso. Na verdade, era o seu maior desejo, seu grande sonho.

Desceu as escadas de dois em dois degraus, animada e ansiosa para encontrá-lo novamente — mas, para seu descontentamento, a única pessoa presente na sala de jantar era o guarda-livros, que fazia seu desjejum em silêncio enquanto lia um exemplar de 'Memórias Póstumas de Brás Cubas'. Ao perceber a presença da menina na soleira da porta, deixou o livro de lado e aprumou-se, a cumprimentando com um sorriso.

– Bons dias, senhorita Rebecca!

– Bons dias, senhor Gaspar! – Rebecca sorriu de volta – Onde estão os outros? Acordei tão tarde assim?

– Oh, não, senhorita... Vossa Graça saiu logo cedo, acompanhado de Chicão e de Marcelo, a fim de avaliar a safra de café deste ano. Já a senhora Celina me informou que está fazendo um voto de fome para São Judas Tadeu – Rebecca perguntou-se o que de tão sério e inalcançável Celina teria pedido ao santo que precisasse parar de comer para alcançar, e disfarçou a decepção pela ausência de José com um minúsculo sorriso – Será que a senhorita me daria a honra de juntar-se a mim para fazer o desjejum? Não gosto de comer sozinho.

A jovem ponderou por alguns segundos. Depois da conversa com José na noite anterior, sabia que ele não ficaria nada feliz ao encontrá-la sozinha com outro homem. Mas, pensando bem, não era como se estivessem escondidos — as criadas entravam e saiam da sala com frequência e era plena luz do dia. Diferente de Murilo, com quem saía frequentemente para se aventurar pelos pastos sem qualquer supervisão, o senhor Gaspar nunca lhe havia dirigido a palavra de maneira informal.

Gaspar sentia uma fome anormal consumir suas entranhas ao avistar a senhorita Rebecca. Aquela sim era uma verdadeira dama — recatada, educada, discreta, inocente, digna. Mas também era gentil e doce, parecendo sempre ter uma palavra terna ou um sorriso atencioso para as pessoas, mesmo que essas pessoas fossem subordinadas a ela de alguma forma. Muitíssimo diferente das mulheres com quem havia se envolvido em Portugal, que estavam sempre prontas para dar o bote ao menor sinal de vulnerabilidade, em momento nenhum ela demonstrava qualquer conduta inadequada para uma jovem de sua posição.

Desde sua chegada, o guarda-livros havia cansado de ouvir críticas, lamúrias e comentários ácidos a respeito da jovem, e não conseguia compreender tais palavras. Sim, ela passara mais tempo a sós do que o recomendado com o cavalariço, mas quem poderia julgá-la? Ela era uma jovem solitária, com apenas uma única amiga; não era de se admirar que se apegasse a outros jovens da sua faixa etária.