Capítulo 7.

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José Maria Rubião orgulhava-se de ser um homem sério, pragmático e, acima de tudo, no controle de suas próprias emoções; então, não podia dizer que o fato de agora se encontrar refém de seus sentimentos fosse uma situação que lhe trouxesse qualquer tipo de tranquilidade. Desde que deixou uma Rebecca adormecida e saciada no Quarto da Duquesa para partir em direção à Inglaterra, sentia que tinha deixado um pedaço de si para trás e agora mal podia esperar para tê-la em seus braços novamente e poder matar toda a saudade que tomava conta de cada fibra de seu ser.

Sacudiu a cabeça com um pequeno sorriso de autocrítica. Já havia caçoado e achado tanta graça de tantos outros amigos naquela situação, completamente apaixonados por suas mulheres, e agora se encontrava exatamente igual a eles.

Mas a sua Rebecca valia a pena. Era intensa, ardente, apaixonada, inteligente e engraçada. Se estava em seu destino apaixonar-se por alguém, não havia ninguém melhor do que ela. Olhou para fora, para o horizonte onde o porto da baía da Guanabara começava a se delinear com mais clareza e sentiu o aperto em seu coração diminuir de modo considerável. Estava mais perto de sua amada; em mais apenas algumas horas a teria em seus braços e nunca mais se separaria dela. Não até que ela fosse sua duquesa, de modo definitivo e irrevogável, e pudesse levá-la consigo para onde fosse.

Mas, antes do prazer, as obrigações.

Releu o conteúdo da missiva em suas mãos com uma certa irritação. Alguns dias após sua chegada em Portsmouth, havia recebido uma carta do imperador, requerendo sua presença para uma conferência urgentíssima tão logo voltasse ao Brasil; havia um certo falatório entre os ocupantes do navio de que os republicanos estavam conseguindo mais e mais apoio, mesmo após a assinatura da Lei Áurea, e Rubião imaginava bem o desespero do monarca diante do cenário de revolução política e social.

Por mais que fosse também considerado um republicano, não deixava de ser um nobre e um fiel súdito de Sua Majestade, devendo-lhe respeito e acima de tudo, amizade. Dom Pedro II havia sido um grande amigo de seu pai e, consequentemente, seu também. Não imaginava o que o imperador poderia querer com ele, e, não pela primeira vez, amaldiçoou as suas obrigações como duque de Parnaíba. Fosse ele um homem comum, poderia agora estar casado com Rebecca e aproveitando todas as delícias do mundo ao lado dela. Em vez disso, teria que passar horas em uma reunião definitivamente longa e tediosa com outros nobres para tentar defender o império, mesmo que seus ideais fossem alinhados com os da república.

Um tripulante o abordou com uma mesura desengonçada.

– Vossa Graça, o coche já está à sua espera no porto. D. Pedro mandou avisar que estão todos reunidos no Paço e que o coche o levará direto para lá.

Rubião suspirou de modo desanimado e acenou silenciosamente, dispensando o rapaz com um aceno. Pelo menos estava no Brasil. Já estou chegando, meu amor, disse a si mesmo, silenciosamente, com a esperança de que Rebecca pudesse ouví-lo. Espere só mais um pouco.

***

Rebecca acordava a cada dia com a esperança renovada. Desde que a carta de Rubião havia chegado comunicando o seu breve retorno, seu ânimo havia voltado ao que era antes, para alívio de Branca, Anita e Nedda, bem como para o divertimento de Blandina, que sabia exatamente por que sua sinhazinha estava tão alegre. Mesmo que cada dia se passasse sem a chegada dele, ainda assim ela não desanimava; ele havia dito que em breve estaria em seus braços e ela usava isso como motivo para não esmorecer.

Naquela manhã, estava fazendo um passeio de cavalo pelos terrenos da fazenda na companhia de Murilo. Na véspera, o cavalariço havia dito que tinha um assunto para tratar com ela, muito importante e essencial para o futuro da jovem. Embora Rebecca o questionasse repetidamente, curiosa sobre o tal assunto, o rapaz tinha feito mistério, limitando-se a dizer que esperava que ela gostasse do que ele teria a lhe dizer.

When I Fall in Love | Rebecca & RubiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora