Capítulo 10 (parte 2).

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A Casa de Moda de Mme. Lu, localizada em um endereço privilegiado na Rua do Ouvidor, era um dos mais respeitados ateliês da capital, frequentado por damas da nobreza e da alta sociedade; porém, naquela manhã, recebia uma cliente inconveniente, que olhava a todos com evidente desprezo e só aceitava ser atendida por Madame Lu em pessoa.

– Senhora – dizia uma costureira com paciência aparentemente infinita –, infelizmente Madame Lu não poderá atendê-la nesse momento. Ela já está realizando o atendimento de outra cliente que agendou horário com ela há algum tempo.

– Não me interessa! Eu não posso ter minhas medidas tiradas por uma parda qualquer! Chame Madame Lu immédiatement! Tenho pressa e sou uma cliente importante! Certamente ela não deseja perder o privilégio de vestir a futura épouse do Duque da Parnaíba! – Disse a intragável mulher, olhando com desprezo para a funcionária de Mme. Lu e fingindo não perceber os olhares de descrença, desconfiança e desprezo trocados pelas outras presentes.

Foram essas as palavras que Rebecca ouviu ao entrar no ateliê da modista e que fizeram com que ela estacasse na porta, sentindo o coração acelerar de ódio diante de tamanha presunção. E sua manhã tinha começado tão bem...!

Tinha despertado na cama e nos braços de José, com o lindíssimo anel de esmeraldas em seu dedo, prova cabal e incontestável de que o pedido de noivado da noite anterior não tinha sido uma elaborada fantasia nascida de sua imaginação. Depois de trocarem alguns beijos, haviam se levantado para começar o dia, com José ajudando-a a colocar — com muita relutância dela mesma — o anel na corrente de ouro que agora roçava contra sua pele. Blandina a havia ajudado a fazer suas abluções e a vestir-se, e sorrira feliz quando Rebecca lhe dissera que iriam à modista mais elegante e respeitada da capital para providenciar seu enxoval de noiva. Depois disso, tinha tomado o desjejum com José, ouvindo enquanto ele conversava com Marcelo sobre seus compromissos do dia antes de se despedir dela com um beijo carinhoso no dorso de sua mão e um olhar quente que a deixara ruborizada e sair.

Ela também saíra com Blandina pouco depois, preferindo ir a pé até o ateliê da modista e conversando alegremente com a criada sobre tudo que tinha visto e conhecido no dia anterior. O anel de noivado era um peso frio e confortável entre seus seios, lembrança de que não vivia um sonho — amava José, era amada e, em questão de meras semanas, seria a esposa dele. Sentir a jóia roçando em sua pele causava-lhe um arrepio agradável; era quase como ter o seu duque sempre com ela.

Devia imaginar que sua alegria não duraria muito. Tinha sido apenas o tempo de sair da casa de José e chegar à Casa de Modas, e ter de ouvir uma voz pomposa e desagradável apresentando-se como futura esposa de José à atendente do ateliê. Não podia ver-lhe o rosto, mas era uma mulher alta, esguia, de longos cabelos castanhos e cacheados; o sotaque francês era carregado e, portanto, aquela mulher devia ser a tal viúva francesa com quem ele andara envolvido, a tal que desde o Carnaval vinha pavoneando-se em sociedade dizendo que ia ser a futura duquesa.

Com o sangue fervendo de ódio e de ciúmes daquela mulherzinha vulgar, a verdadeira noiva do duque de Parnaíba aprumou o queixo de modo desafiador e entrou com altivez no espaço amplo e arejado do ateliê, sem perceber a presença de mulheres das mais diversas idades, todas vestidas com elegância, que a encararam com curiosidade. Logo, o som baixo de murmúrios e cochichos ecoava pelo local, audível diante do silêncio mortal causado pela frase ameaçadora e prepotente da francesa.

– Não acreditem no que fala essa mulher, pois ela só diz mentiras – Rebecca declarou, com a voz muito clara e firme – O duque de Parnaíba nunca iria se casar com essa oportunista!

Rose encrespou-se diante da voz jovem e evidentemente cheia de desprezo por ela, aprumando a coluna ao ouvir as palavras ofensivas. Virou-se lentamente na direção da porta, erguendo uma sobrancelha de forma desdenhosa ao se deparar com uma mocinha baixa, elegantemente vestida, de cabelos negros artisticamente presos, que a encarava com olhos também negros e ardentes de raiva.

When I Fall in Love | Rebecca & RubiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora