Rebecca acordou na manhã seguinte com a luz suave do sol passando pelas cortinas finas da janela na direção de sua nova cama, e uma dor fina e aguda como uma agulhada atingiu-a na cabeça. Soltou um gemido baixo e dolorido, levando uma mão até os olhos para protegê-los da claridade, e sentou-se no colchão da cama, olhando confusa para os arredores.
Precisou de alguns segundos para lembrar-se de tudo que havia acontecido na noite anterior, e pegou um macio travesseiro, enterrando o rosto na fronha perfumada com um gemido. Sentia-se dividida entre a vergonha e a felicidade. Vergonha por ter esquecido de seus planos para convencer José de que já era uma mulher feita apesar de sua pouca idade ao vê-lo sendo agarrado por aquela meretriz imunda, e a felicidade por todos os momentos que tinha dividido com ele antes e depois disso.
Estava perdida nas lembranças da boca e das mãos de José contra a sua pele, bem como das sensações de prazer que sentira ao sentar no colo dele, quando Blandina entrou em seu quarto carregando uma pesada bandeja de prata com seu desjejum, seguida por Josefa e Justina que traziam a tina para as abluções matinais da futura baronesa. O aroma forte e saboroso da refeição inundou o quarto, fazendo com que o estômago de Rebecca se retorcesse de enjoo, e a moça deu um gemido queixoso.
– Bom dia, sinhazinha – cumprimentou a criada, com a voz alegre e um sorriso nos lábios, o qual sumiu ao ouvir os gemidos de sua patroinha – Sente-se mal? – Perguntou, preocupada, colocando a bandeja sobre a escrivaninha do quarto.
– Tire essa comida daqui, Blandina – ordenou Rebecca, sentindo-se nauseada – Imediatamente!
A criada obedeceu, dando a bandeja a Josefa, e se dirigiu à cama para examinar sua senhora, enquanto Justina afastava as cortinas para deixar a luz entrar no quarto. Rebecca gemeu novamente, deitando-se e cobrindo a cabeça com o travesseiro.
– O que houve, sinhazinha? – Perguntou a criada, aflita – Está doente?
– Creio que sim, Blandina – disse a moça, com a voz chorosa – Estou com dor de cabeça e um leve enjoo. Mande alguém avisar ao duque que passarei o dia recolhida, até meu mal-estar passar, por favor – pediu – E feche as cortinas!
– Josefa! – chamou Blandina – Peça a Deusa que prepare um chá de boldo para a senhorita Rebecca, por favor. Provavelmente é por causa das emoções de ontem, sinhazinha – disse ela em tom carinhoso, enquanto fiscalizava Justina nos preparos para a higiene matinal de sua sinhá – E também porque a senhorita ficou muito tempo sem comer direito. Feche as cortinas, Justina – ordenou, aproximando-se da cama e ajudando a futura baronesa a sentar-se na cama – Venha, vamos levantar. Vou ajudar a senhorita a se preparar para o dia, e depois que tomar o chá, vai se sentir como nova!
Rebecca obedeceu e muito lentamente sentou-se na cama, cerrando os dentes contra a dor em suas têmporas. Apoiou-se em Blandina, que a ajudou a ir até a penteadeira, e mergulhou as mãos na água fria e fresca. Sentiu o mal-estar melhorar um pouco ao sentir a água em seu rosto, e suspirou aliviada. Justina logo começou a pentear seus cabelos, fazendo duas tranças tranças grossas que logo se encontraram em um penteado simples e singelo na cabeça da menina, tomando cuidado para que nenhuma mecha escapasse e assim, seu rosto ficasse livre. Enquanto isso, Blandina fazia a cama e separava um vestido para sua sinhazinha usar. Suspirou inconformada com a minúscula variedade à disposição, e desejou ter coragem de falar ao senhor sobre como a senhorita Rebecca andava vestida com os trapos da senhora Celina, mas conteve-se. Escolheu um vestido marrom de mangas curtas, o qual colocou sobre a cama arrumada.
Quando Rebecca já estava devidamente penteada, Justina retirou-se levando a tina, e Blandina ajudou sua senhora a vestir-se, tendo cuidado para não apertar demais o espartilho que dona Celina insistia que a menina usasse, mesmo dentro de casa e em vestidos que em nada mostravam seu corpo. Além disso, a sinhazinha era tão magra que, para Blandina, não precisava usar aquela peça; porém, ela somente obedecia ordens.
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When I Fall in Love | Rebecca & Rubião
Narrativa StoricaJosé Maria Rubião, o Duque de Parnaíba, está furioso ao descobrir que a jovem moça que chamou sua atenção (e com quem trocou beijos ardentes) em um baile de máscaras é a sua tutelada que fugiu dos cuidados de sua tia na fazenda, Rebecca. Tendo confi...