Capítulo 11 (parte 2).

491 26 165
                                    

No dia seguinte ao seu aniversário, Rubião bateu na porta do pequeno, mas elegante, sobrado de paredes cor de rosa onde a perfumista mais afamada da cidade residia, e aguardou até a mesma ser aberta por uma garotinha de cabelos escuros e olhos redondos, que não devia ter mais do que seis anos de idade. Sorriu calorosamente para a pequena, que correspondeu ao sorriso com alegria e simpatia.

– Bons dias, Ingrid – cumprimentou o duque, de modo afetuoso – Sua mãe se encontra?

– Bons dias, Vossa Graça – respondeu Ingrid, com uma mesura surpreendentemente graciosa para uma menina de sua idade, antes de abrir a porta totalmente – Já estávamos à sua espera. Entre, por favor.

O duque atendeu à solicitação, seguindo atrás da criança até uma sala surpreendentemente iluminada. Uma mulher não muito alta, esguia, com cabelos ondulados castanho-aloirados e olhos cor de mel, usando um conjunto de saia e blusa de fazenda azul-marinho e com várias pulseiras em um de seus braços, estava sentada atrás de uma escrivaninha, fazendo anotações com um bloco de papel. O som de passos atraiu a atenção da mulher, e ela ergueu o rosto. A expressão séria, carrancuda devido à sua concentração, desfez-se num largo sorriso quando ela se deparou com o duque.

– Ora, ora, se não é o noivo do ano! – Paola Terrare levantou-se e dirigiu-se até Rubião, apoiando as mãos nos ombros largos e beijando-o nas duas faces – Há quanto tempo, meu amigo. Sente-se, per favore. Ingrid – A perfumista dirigiu-se com doçura à filha enquanto apontava uma cadeira para o duque – Peça à Antoninha que providencie café e aquele bolo de laranja para o duque.

– Sim, mamma – A pequena Ingrid saiu rapidamente da sala, enquanto Paola voltava à escrivaninha. Guardou pena, tinta e suas anotações em uma gaveta, trancando-a antes de unir as mãos sobre o tampo e olhar para o amigo.

– Como está, Paola? – Perguntou o duque, quando ficaram sozinhos – Os negócios estão indo bem?

Rubião e Paola se conheciam há muitos anos, desde quando o duque, então um estudante, era freguês da perfumaria do marido dela, Celso, que era o melhor perfumista de toda a Gênova. Quando, dois anos antes, Luca chegara de uma viagem à Itália com a notícia de que Celso tinha morrido e deixado Paola sozinha com a filha e as dívidas da perfumaria, Rubião mandara uma carta à amiga, convidando-a a abrir uma loja no Rio de Janeiro, o que foi prontamente aceito pela italiana. No Brasil, Paola prosperava, sendo considerada a melhor perfumista da capital e atendendo inclusive a família imperial.

Era uma mulher empreendedora, à frente de seu tempo, com ideais progressistas e personalidade forte. Tais características contribuíram para que Rubião nutrisse admiração e amizade pela viúva, relação esta que, mesmo quando Paola estava em Gênova, era sempre alimentada por correspondências. Uma das coisas que o duque mais admirava na italiana era sua inteligência e argúcia, de modo que não ficou ofendido quando ela ergueu uma sobrancelha bem desenhada e perguntou:

– Fazem anos desde que tenho a honra de sua presença, Vossa Graça... Devo assumir que deseja algo de mim, sim?

A governanta, uma senhora de cabelos brancos e sorriso gentil, bateu à porta e entrou no cômodo carregando uma bandeja com duas fatias de bolo e duas xícaras de café, servindo sua patroa e o nobre com uma mesura exagerada.

Grazie, Antoninha – Paola agradeceu – Pode levar Ingrid para o quintal? Ela precisa de um pouco de Sol... não irei precisar da senhora por enquanto.

A idosa assentiu e, lançando um olhar de soslaio para o homem alto e imponente que ocupava o sofá de sua empregadora, saiu, fazendo uma oração silenciosa para São Judas Tadeu para que aquele homem conseguisse colocar um pingo de juízo na cabeça de Paola Terrare. Estava empregada na casa desde que a mulher havia chegado ao Brasil, tendo sido contratada como governanta, mas também para cuidar da educação e criação da pequena Ingrid. Tinha muito apreço pela viúva, e também a admirava por conseguir continuar trabalhando honestamente, mas qualquer um iria concordar de que a casa precisava de um homem. Uma figura paterna para a criança que ali vivia... E um amor para a excêntrica italiana com preferência por cores vibrantes e muitas pulseiras.

When I Fall in Love | Rebecca & RubiãoOnde histórias criam vida. Descubra agora