Quero-te

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Abro meus olhos e sinto minha boca seca, minhas mãos trêmulas e meu peito pesado. Olho o quarto e não vejo ninguém, nem sei quem esperava ver. Talvez June... Suspiro, ela não veio me visitar depois da cirurgia e já se faziam quatro dias desde que recuperei consciência total... Ela não me queria mais? Achou que eu morri? Eu não sei e isso me deixa totalmente confusa! Me sento na cama e pego uma gelatina, brincando com o alimento junto daquela colher de plástico que só servia para quebrar no meio e eu ter de passar a maldita da vergonha de pedir uma segunda toda santa refeição.
     — Filha, seu pulmão está se recuperando bem. — meu pai diz, entrando no quarto escandalosamente — Mas os dois atrofiaram e seu coração ainda está apertado. Nos disseram que isso se resolve em dois ou três meses. — o encaro e suspiro.
     — Em dois ou três meses eu já estou aqui mais uma vez. — suspiro e brinco com a gosma avermelhada, quebrando a colher — Você sabe que o tumor cerebral ainda está ativo e os dos ovários mais ainda. — ele concorda e pega a colher quebrada da minha mão, me entregando uma de alumínio — Valeu.
      — Você sempre quebra elas... — ele a joga no lixo — O tumor cerebral está um terço maior, logo vai começar a causar dores de cabeça frequentes.
      — É, eu sei. — suspiro — June veio algum dia? — ele discorda e senta na cama.
      — Só no dia da cirurgia. Por quê? Quer vê-la? — coro e suspiro, encostando a cabeça na parede.
      — Quero... Quero muito... — ele concorda.
      — Vou ver oque faço, princesa. Mas coma, isso vai te ajudar muito. — aceno com a cabeça.
       — Ei... Pai... — nos encaramos — Seja sincero, acha que serei capaz de fazer sexo depois de tudo isso? — o homem suspira.
       — Olha filha... Seu pulmão está péssimo, sei que ama muito June e quer avançar no relacionamento. Todo amor adolescente é assim, não importa o quanto queira esconder. Mas eu duvido que possa fazer exercícios pesados agora, a remoção até mesmo pode ter piorado sua capacidade pulmonar. Então, mesmo que a ame muito, evite, okay?
       — Okay... Tudo bem... Eu vou. — o mesmo pega meu celular e o acessa, ligando para alguém, que chuto ser minha companheira e sai da sala de UTI.
      Quando apaguei vendo June ao meu lado, sonhei com ela. Sonhei com uma vida inteira ao lado dela, sonhei que tivemos filhos... Eu sonhei com a gente fazendo sexo em diversos lugares e quando acordei, a cirurgia já tinha sido feita. Fiquei até pensando se os médicos conseguiram ver meus sonhos e se deixei tão óbvio meus sentimentos pela morena. Queria ela ao meu lado, vinte quatro horas por dia, sete dias por semana, quatro semanas por mês, doze meses por ano e assim vai. Ela se arrependeu de ter brigado comigo, isso é bom! Mas eu tive que falar que estava basicamente morrendo para ela se tocar... Quem se importa, June estava arrependida, preocupada e admitiu me amar mesmo depois daquela briga idiota. Ah, June Brown... Eu quero morrer com o seu sobrenome.
      Meu pai adentra o cômodo ainda falando no telefone e fala propositalmente um pouco mais alto, para que eu escute.
      — Humm... Então você está ocupada ajudando com as coisas da mudança... Sim, certo... É que a Milley está com saudades.
       — Pai..! — resmungo e ele me solta um risinho.
       — Não, nada disso, ela está bem, não se preocupa não, Brown... — ele fica em silêncio por um pequeno instante e nos entre-olhamos nesse momento, ele sorri e sorrio ansiosa — Então você vem em uma hora? Tudo bem! Ela vai ficar bem feliz de ouvir isso. — o mesmo desliga a chamada e sorri — Jan vai ir para uma kitnet com a nova namorada e ela está ajudando ele a desmontar e mover tudo para lá. Também vão pintar o lugar... Ele quer economizar. — concordo.
     — Ela vem em só uma hora? — resmungo.
     — É, filha... Mas pelo menos ela vem.
     — É, eu sei. — ele põe o celular do meu lado e quando o mesmo sai, pego o aparelho na mesma hora, ligando para exatamente o último contato com quem ele falou. E ela atende.
      " Senhor? "
      — Cadê o respeito, June? — ela ri baixinho e escuto uma caixa ser colocada no chão.
      " Oi, meu amor... Está tudo bem? Como se sente? "
      — O cirurgião disse que vou morrer hoje.
      " Milley, meu Deus. É sério? Eu vou ir aí agora. Sério... "
      — Ei, ei, calma... Ele não disse nada disso. — rio mas ela resmunga do outro lado — Ele falou que estou bem, mas meus pulmões atrofiaram. E estou com saudade. — ela ri baixinho.
       " Eu vou já, já. Você aguenta? ", ela diz em tom de brincadeira.
       — Não... Não quero ficar mais nem dois minutos sem você aqui. — a mesma tira o celular da orelha e fala algo que não consigo ouvir com alguém.
       " Tudo bem. Eu vou ir de táxi até aí. Pode ser? "
        — Sim... Você vem rápido? — ela ri baixinho.
        " O mais rápido que eu puder... Já vou chegar, te prometo. "
       — Certo... — penso um pouco antes — Ei, June...
        " Sim? "
Fico em silêncio por alguns instantes e a escuto rir baixinho, ela fala algo com Jan e ele solta uma risadinha também.
        " Amor, tenho que ir... Oque foi? "
       — Eu te amo...
        " Eu também te amo, Milley... Te amo muito. "

Feelings - Feel Something (2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora