Uma chance

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Observo June fazendo flexões, usava um top preto e um shorts solto da mesma cor. A garota estava suada e arfava a cada exercício a mais que fazia, se levando ao máximo enquanto eu a observava, sentada em um tronco comendo marshmallows que ela me deu de presente, não havia mais ninguém para nos incomodar já que achamos uma clareira escondida no meio da floresta e agora passávamos uns quarenta por cento dos dias ali. Rio quando ela desiste e cai, de braços aberto e pernas esticadas.
   — Vamos, amor! Você consegue!
   — Não dá... — ela arfa.
   — Você é mais forte que isso! — ela discorda e se senta — Só mais dez... Por mim...?
   — Você quer que eu morra? — ela se levanta e estrala o pescoço, se jogando no tronco ao meu lado e perdendo o equilíbrio, caindo de bunda do outro lado do assento.
    Caio em gargalhada e ela suspira, fechando os olhos de forma frustada. Pego meu celular e tiro uma selfie, ela estando caída do lado esquerdo e eu do lado direito, fazendo o sinal do rock'n'roll. A mesma levanta e se ajeita no tronco, June olha a foto e me encara, dando um pequeno riso e me dando um beijinho em seguida, chacoalho meu cabelo o jogo sobre o rosto, ela faz o mesmo e ambas fazemos o mesmo sinal, rio e deito a cabeça em seu colo.
    — Eu vou salvar essas fotos com muito carinho, acredite.
    — Espero que sim, mas ei, amanhã vai ter a batalha de poesia e depois já vamos embora... É uma pena, eu gostei bastante daqui. — a mesma suspira.
    — Eu também gostei, mas nada melhor do que estar em casa. Principalmente quando o assunto são mosquitos, aqui tem um monte, lá não.
     — Mas aqui é bem mais... Bonito, e a natureza está em todo canto. — ela olha o céu alaranjado do anoitecer — Mas nada é mais bonito que você.
     — Idiota... — Brown ri.
     — Você vai participar do campeonato de amanhã? Acho que seria algo que você iria gostar... — dou de ombros.
     — Ah, talvez... Não sou muito boa em compor...
     — Fala de como você me ama, certamente seria um poema incrível. — rio baixinho e nos encaramos.
    — Você promete me amar até o dia que eu morrer?
    — Claro que prometo. Até sua última respiração. — rio e acaricio sua mão que vai até minha bochecha — E então? Crie um poema!
     — Humm... Existem marés altas e marés baixas... Não se deixe perder nas correntezas enquanto elas abaixam e sobem... Porquê nem sempre, elas te puxam para a morte...? — June sorri.
     — Você deveria ser uma escritora quando crescer.
     — Não sei... As vezes o vento leva as boas memórias para longe, e eu provavelmente vou perder toda essa criatividade. — a garota dá de ombros.
     — Vamos voltar? Já está escuro. — concordo e salto do pedaço de madeira, me espreguiçando.
 
    Seguimos pela trilha enquanto as cigarras cantam ao nosso redor. Talvez essa tenha sido uma das melhores experiências da minha vida inteira, talvez pelo fato de June estar aqui, e da chuva. Eu tinha muito a agradecer a chuva, ela me deu simplesmente a memória que eu sonhava em ter, agora eu faria da água meu santuário. A garota segura minha mão e leva até seu rosto, dando um beijinho tímido nas costas da mesma, sorrio e ela suspira, olhando o caminho a frente, totalmente escurecido, as poucas luzes não chegavam nem perto de serem suficiente.
    — Eu te amo...
    Ela diz a mim, ao vento e ao resto das coisas ao nosso redor. Me junto mais a ela e não respondo, não precisava, ela já sabia. Brown sorri e beija o topo da minha cabeça, como se eu fosse uma criancinha. Continuamos caminhando e as vezes soltando poucas palavras durante o trajeto, mas a verdadeira conversa era oculta e silenciosa, feita por toques, olhares, suspiros e até sorrisos. Chegamos no centro e entramos na estrutura principal, toda branca e em formato de retângulo. Muitos estavam jogando sinuca, ping pong, vendo televisão ou só conversando. Anne já devia estar dormindo, já que apenas Olley estava ali conversando com uma garota qualquer.
    — Oque será terá de janta hoje? — resmungo.
     — Acho que é churrasco. — June diz e um garoto a cumprimenta, ela sorri e se vira até ele. Só escuto alguma coisa sobre ele ser amigo de infância de Damian, perguntava como ele estava.
    Sento em um banquinho mais atrás e vejo Bannu se aproximar, dou um pequeno sorriso e ele o retribui.
    — E então? Nem tinha te visto por aqui, nanica. — rio e sento sobre minhas mãos, as pondo abaixo das coxas.
    — Eu fiquei mais na natureza, não fiz nenhuma das atividades. Não é grande surpresa que não tenha me visto. — ele suspira.
     — Achei que poderíamos conversar melhor aqui, mas pelo visto você é a tal doida pelas árvores. — dou um risinho e de ombros ao mesmo tempo, Ban sorri.
     — Nem começa, doido.
     — Quer passar no rio mais tarde? Está tendo várias chuvas de meteoros por aqui e não tem iluminação. É o lugar perfeito para ver.
      — Eu sei... É incrível... Eu aceito o convite!
      Rimos e logo isso chama atenção de June, que se vira e vejo sua expressão se fechar imediatamente. Ela o odiava com todas suas forças, e não só ela, todas minhas amigas, Olley se aproxima na defensiva e abraça a morena.
    — E qual a do rumor entre você e a morena ali? — ele sussura um pouco.
    — Que rumor?
    — De que estão juntas...
    — Ah, temos um lance. — ele suspira.
    — Então não tenho chances...? — sua mão repousa na minha perna e mordo minha língua. Se June estivesse vendo...
    — Hey, Milley... — Olley sorri falsamente — A sua namorada está te chamando.
    — Acho engraçado que ela mesma não venha chamar, não estamos nem a quinze metros de distância... E ela não é namorada da nanica, é só um rumor, afinal. — Bannu diz, mas seguro sua mão e me levanto — Ah, Milley... Não amarela.
     — Relaxa, Ban. — Brown segura meu braço e o garoto fica em pé.
     — Vai tentar ficar com a pessoa de outro. — ela rosna baixinho.
    — Ela não é um objeto para você manter. — ele a empurra e a mesma bate contra uma mesa de sinuca que estava sem uso no momento, chamando a atenção para nós — Você é uma tosca, eu nem sei por quê ela começou a ficar com você, em primeiro lugar.
    — Já deu. — rosno, mas não tem efeito algum nele. June passa a mão no cotovelo ferido pela colisão.
    — Você não passa de um obstáculo! — ele saca uma faca e rapidamente empurro June, a lâmina corta meu braço, não tão fundo mas o sangue esguicha da mesma forma.
    Quase grito e meus joelhos quase cedem, respiro entre dentes e de forma acelerada. O garoto me olha meio indiferente e me tira de sua frente, indo diretamente para Brown, que estava confusa e assustada demais para falar algo, a mesma tropeça para trás e cai, o suficiente para abrir um espaço de tempo para um próximo ataque, ninguem ajudava, ninguém gritava, ninguém falava nada ou eu estava fora de realidade, oque era mais provável. Ignoro a dor e o empurro, ele vai ao chão e rosna, ficando a lâmina na madeira e se contorcendo para me olhar.
   — Você é maluco?! — o sangue passa a escorrer do meu nariz.
   — Maluco por você... — quase vomito com sua fala — Quando ela estiver fora do meu caminho, você será toda minha... Querendo ou não... — ele sorri e tenho o grande ímpeto de socar seus dentes para fora de sua boca. June tenta se levantar, mas Bannu é mais rápido e fica em pé, me mantendo para trás da cena.
    Brown tenta se salvar, segurando o antebraço do agressor, olho tudo ao meu redor, Milley, se for ter uma ideia, tenha agora! Pego um dos tacos de beisebol largados no canto da parede e o levanto com as duas mãos para a lateral direita, acertando nas costelas dele, a faca escorrega pelo piso e a pego rapidamente, fico sobre seu tórax e pressiono a lâmina contra sua jugular, uma gota de suor brinca e desce pelo meu pescoço até dentro de sua blusa. O sangue que saia das minhas narinas cai ao lado de seu rosto e ele faz uma careta de nojo.
    — Você não é capaz... Sabemos disso. Você quer ficar com ela o resto da sua vida miserável, não em uma prisão juvenil. — o outro sangue que saia do meu braço cai em sua bochecha e ele nem parece se incomodar dessa vez.
   — Você é um doente. — falo em um grunhido.

Feelings - Feel Something (2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora