Fase III: O beijo da morte

12 0 0
                                    

Cada mísero músculo em seu corpo podia sentir o fogo queimando sua pele, como milhares de flâmulas ardentes competindo uma corrida. Sempre ouvira sobre o inferno, mas nunca imaginara conhecê-lo tão de perto. Gostaria de gritar e pedir socorro, porém algo ainda mantinha sua boca fechada. A dor consumia seu corpo, sem deixar nenhum resquício para trás. Mesmo que em completa agonia, não havia um único movimento que pudesse demonstrar seu estado. Como se todo sofrimento não passasse de uma fantasia existente apenas em sua cabeça.

Celeste se apressava ao juntar todas as coisas em bolsas, corriqueiramente arrumadas. Faziam algumas horas desde havia deixado a casa dos Mikaelson, as lágrimas não abandonaram seus olhos por um segundo. Sabia que faria lhe bem estar a muito mais do que um oceano de distância, seu coração batia acelerado de maneira inconstante.
O último pedido de sua prima foi sobre tirar seus sobrinhos do pesadelo que todos na cidade chamavam de vida cotidiana, e ela cumpriria.

-Você acha que levamos muito tempo para tirar os móveis? -Alex descia a escada principal da casa, ainda não havia se acostumado com a intimidade que precisaria ter com a vampira. As duas possuíam olhos vermelhos e marejados, ninguém estava pronta para perder a Shared.

-Eles entregam quando chegarmos lá, não se preocupe com isso. Me ajude a empacotar as roupas de Faith e Nick. -Colocava de maneira automática todas aquelas minúsculas peças em malas, enquanto sua mente não deixava a imagem de sua prima. O suor em sua pele, o sangue ao seu redor, o sorriso em seu rosto, o brilho de seus olhos ao segurar os bebês, tudo rodava como um carrossel na mente da bruxa.

-Os documentos para o aeroporto estão prontos? -Celeste perguntou a sua também prima, quando sentia seu coração cair um pouco mais. As passagens que ambas usariam haviam sido compradas por Holly, na viagem que a morena havia planejado para Paris. Certamente o destino das Shared agora não era esse, seria doloroso demais, mas aquele era um bom começo.

-Sim, temos tudo pronto. -Todos precisariam de documentos falsos, uma história pronta para ser contada sempre que perguntassem sobre. Uma completamente divergente da verdade. A vampira tentava se manter forte frente a tudo que acontecia, principalmente por conta de sua nova família. Mesmo assim, encontrar sua irmã e perdê-la em seguida era o pior dos processos pelos quais poderia enfrentar. Mesmo que a proximidade atual das duas fosse rasa, aquela construída anteriormente jamais seriam mensuradas e apagadas.

A voz de Niklaus, que conversava com Rebekah, ecoava por toda casa. O híbrido tivera diversas crises desde a morena se fora. Os móveis do ambiente estavam quebrados e espalhados por todos os lados, haviam apenas alguns poucos adjacentes.

-Independente de tudo, ela se foi e não há nada que você possa fazer a respeito. Ela foi feliz, Nik. Desejaria eu, ter o direito de saber o que é a paz. Vocês vão três vão ficar bem aqui, eu prometo. -Nada que ele fizesse era capaz de consertar o vazio, já havia se tornado apenas uma pilha de ódio e rancor. As mãos de sua irmã, suavemente colocadas sobre seu rosto, até passavam uma segurança, ainda que insuficiente.

-Aquelas malditas bruxas não fazem ideia da guerra que acabaram de comprar, Rebekah! Eu irei cortar e comer a garganta de cada uma delas, depois pendurar seus corações em estacas e espalhar pela cidade! -A última mesa restante no ambiente se chocou com a parede, ele se afastou da loira novamente. Não havia nada que fosse impedi-lo, as bruxas mereciam como nunca antes.

-Ela se foi. E não era para ser agora! -O ódio no rosto e na voz do homem, não foram capazes de impedir as lágrimas de descerem. Ela havia o deixado, e dessa vez era definitivo. A pior parte para o original era ter certeza de que tudo o que ocorrera, também era culpa dele.

Hayley fizera questão de ligar e informar todos próximos a Shared do ocorrido, a jovem precisaria de um funeral. Stefan bebia com Damon frente à lareira, após um dia cheio de detalhes do casamento, quando a Marshall ligou. Tudo parecia uma chamada amistosa, até que a notícia fosse dada. O mundo do Salvatore foi jogado no chão sem piedade alguma, e não havia como colocá-lo novamente no lugar.

-Holly se foi? -Os segundos pararam de contar naquele instante para o loiro, nada do que foi dito depois foi digerido. Um filme surgiu na mente do vampiro, ele jamais deveria tê-la
deixado. Momentos dos dois surgiam em sua mente, a risada dela ecoava em sua memória, o toque dela nunca foi tão suave. "Eu vou sempre amar você, Stefan". As lágrimas desciam sem intenção de interrupção, o Salvatore desligou a ligação sem mesmo esperar que a mulher do outro lado terminasse.

Sua feição era atípica, os sentimentos dentro de si  eram tantos que não tinha certeza do que deveria mesmo sentir. O adeus dela realmente fora seu último, a voz de choro dela na ligação não deixava o fundo da mente de Stefan. "Eu te escolheria sempre". Ela não teve tempo para o sempre, as circunstâncias a levaram muito antes do que ele podia imaginar. O loiro nunca desistiu da Shared, e jamais iria, apenas havia dado a ela o tempo que ela precisava. Um tempo que ela infelizmente não possuía.

Tudo em seu redor estava mudo, as pessoas e os lugares estavam borrados pelas lágrimas em seus olhos. A verdade é que resposta para todas as perguntas existentes em sua mente estavam a alguns quilômetros de distância, em New Orleans.
O vampiro não hesitou um segundo ao entrar no carro, ele chegaria até ela, nem que fosse a última coisa que seria capaz de fazer.

O fogo que a consumia internamente pareceu dar uma pequena trégua, ela conseguia ouvir os acontecimentos ao seu redor. Tudo parecia claro e confuso demais, como se em toda sua vida nunca tivesse escutado corretamente. Algumas vozes familiares foram encontradas, antes que aquela tortura voltasse em uma potência muito maior do que a morena havia experimentado até o momento. Quando pensou ter chegado no ápice de sua aflição, sua mente desligou por um segundo. O mundo pareceu terminar por alguns milésimos, até tudo voltasse para seu lugar. O ar parecia escasso quando ela o puxou, o mais forte que podia.

Uma tortura terminava, ou apenas começava outra.

Os 30 anos depois da Elena | VOLUME ÚNICOOnde histórias criam vida. Descubra agora