Amor de um Verão | ⚢

Capítulo 15 - Caótico

O almoço foi o momento mais caótico e estranho que já passei, me sinto uma infiltrada mas Cecília me faz sentir menos intrusa conforme o tempo vai passando. Os trigêmeos começam a contar histórias mirabolantes e em seguida começam a discutir sobre quem seria o melhor super-herói de Miraculous. Meu pouco conhecimento sobre o desenho animado fez os trigêmeos ficarem felizes em falar sobre isso comigo e até me chamaram para jogar um jogo com eles após o almoço. 

– Eu não acredito que eles vão te roubar de mim. – murmura Cecília perto do meu ouvido tentando fazer com que ninguém a ouvisse.

Ela dá uma garfada no seu macarrão fazendo cara de drama e eu tento conter o riso. Entre uma conversa e outra entre Carolina e os gêmeos consigo dizer:

– Relaxa, não sairei do seu lado. 

Me sinto em plena guerra fria familiar, apesar das crianças puxarem assunto, eu ainda sinto muito silêncio para um almoço em família, talvez eu esteja acostumada com meu pai falando e rindo sem parar com meus tios em almoços em família com tudo ao fundo de algum pagode dos anos 90. 

Ao menos de acordo com alguns assuntos cotidianos que Carolina tenta criar durante a refeição, pude descobrir que a irmã da Cecília se chama Beatriz e mora na capital. Mas pelo visto, ela estuda algo envolvendo computação, ela fala pouco mas é o suficiente para conhecer um pouco dela.

À essa altura todo mundo já estava acabando de comer e Cecília estava inquieta e noto que ela já não está mais conseguindo terminar de comer de tanto nervoso. 

A mãe dela me fita e puxa assunto comigo: 

– Então Helena, o que você pretende fazer durante esse ano?

Esse é o tipo de pergunta que nem eu sei o que eu quero, se eu não sei nem o que quero fazer amanhã eu acho que resumir o meu ano todo vai ser difícil. 

– Eu quero passar na universidade daqui em matemática e passar o restante do ano estudando e conhecendo coisas novas. 

Eu tive a resposta genérica possível, eu não acredito nisso. Até a Beatriz me observa depois da minha resposta, acho que ela está curiosa esperando a reação da Carolina. 

– Isso é…ótimo. - Diz Carolina – Aqui em casa todo mundo prefere a área da saúde, só a Beatriz que desviou do caminho certo. – Ela termina e Beatriz revira os olhos e começa a se ajeitar para sair da mesa. 

De repente sinto a mão de Cecília se entrelaçar na minha e ela olha pra mim e murmuro um "boa sorte" para ela. 

– Então, sobre isso eu tenho que contar uma coisa para você, mãe - começa 

Beatriz fica observando atentamente a irmã desconcertada tentando falar. 

– Eu acho melhor falar tudo agora porque não vejo motivo de esconder isso de você e pelo menos com todo mundo aqui você não vai ficar tão irritada. - sinto Cecília apertar ainda mais a minha mão.

– Eu não vou estudar medicina, nunca nem quis para falar a verdade e descobri que quero realmente fazer faculdade de animação.

Silêncio. Apenas fico encarando ambas, Beatriz faz o mesmo que eu e eu só sinto Cecília ficar mais tensa ainda. Carolina dá um longo suspiro e sinto que as coisas começar a agitar quando Beatriz leva todas as crianças para o quarto. Ouço uma risada baixa de Carolina e acho que algo está prestes a acontecer 

– Boa piada, filha mas você não sabe o que está falando.

– Como você sabe disso se quem está sentindo sou eu? – retruca

– Me poupe de explicar tudo, eu sei qual é o melhor caminho para você. Eu sei qual é o melhor caminho para todos vocês, todo mundo sabe o que acontece quando não seguem o que eu falo. – Carolina diz em tom sério. 

Ela fita Beatriz e pela primeira vez desde quando a vi parece que acabou de perder toda a paz e tranquilidade que tinha. 

– Todo mundo sabe? Você só está assim porque a Cecília não quer seguir seu plano de vida ideal. - Beatriz diz levantando a voz e fazendo sinal de aspas no final. – Eu posso não ter seguido o que você quis para mim, mas pelo menos eu amo o que faço e me sinto feliz assim. Você não pode organizar nossa vida como se fôssemos personagens secundárias da sua própria história.

Cecília parece tão surpresa quanto eu. Carolina está com uma mão apoiada na têmpora e parece tentar manter o controle.

– A gente não vai discutir isso na frente da Helena, vocês sabem que eu só faço isso para o bem de todos. – Carolina olha para mim  – acho melhor você voltar outra hora minha querida.

Eu assisti o caos desde o começo e agora que estava ficando interessante ela quer me chutar para fora? De qualquer forma eu sequer tenho tempo de falar algo antes que Cecília comece a protestar contra a mãe. 

– Você só está falando isso porque quer manter as aparências, eu que convidei ela e ela só sai daqui quando ela quiser. Não tem como todo mundo fazer o que quiser, é impossível. Beatriz faz o que ama e mesmo assim ainda dá para perceber que você não gosta nada disso, de longe ela é a única da família que é realmente feliz e mesmo assim você empurra o que você deseja para nós mesmo sabendo que a gente não quer. Nem tudo é sobre você, mãe.

A voz da Cecília começa a falhar e eu noto lágrimas caindo no seu rosto. Eu definitivamente não sei o que fazer, eu acaricio a mão de Cecília com o meu dedão para não ter que soltar a mão dela e de repente sinto ela me puxando para a entrada da casa. 

– A gente precisa sair daqui. - diz e eu assinto agora a levando para o elevador e indo para o meu andar. 

Cecília fica quieta durante o pequeno trajeto do elevador, ela continua olhando para o nada e me dói ver uma cena do tipo então me aproximo dela e a abraço o mais forte que eu consigo.

Ela retribui o abraço na mesma intensidade, eu não consigo sequer imaginar o que ela pode estar sentindo mas sei que não está sendo nada fácil para ela. Vamos em direção ao meu apartamento e por sorte quando entramos estava tudo aparentemente vazio, talvez todos estivessem dormindo ou saíram para algum lugar.

De qualquer forma, levo Cecília para o meu quarto e tento deixar o ambiente mais confortável o possível para que ela se sinta minimamente bem.

– Obrigada por ter estado lá e aguentado tudo comigo – ela diz enquanto as lágrimas voltam a cair.