A vida não tem sido fácil para Helena Matsui Montes, desde que ela se formou no ensino médio a sua vida tem se resumido a trabalhar na pequena loja do seu tio e cuidar de seu irmãozinho enquanto a sua aprovação da faculdade não chega, viver dessa fo...
Hoje é quarta-feira e também o provável dia mais quente do verão até agora. Apesar de morar perto da praia eu ainda tenho meus afazeres de uma quase-adulta, por exemplo, ir trabalhar na loja do meu tio no qual já estou atrasada.
Desde ontem não consigo parar de pensar em mandar a bendita mensagem para Cecília. Toda vez que abro o aplicativo de mensagem eu simplesmente travo antes mesmo de começar a digitar. Não sei o que dizer e tão pouco como começar um assunto com ela tipo "Oi, sou a estranha do pátio que se ofereceu para ser sua salvação de matemática"? Não, muito estranho. "Cara Cecília, sou a garota do pátio" muito formal, Cecília provavelmente gostaria de receber algo assim se a gente estivesse no século passado.
Passo o caminho todo tentando pensar em formas de como mandar mensagem para Cecília e percebo que foi sem sucesso, já que quando menos espero já estou em frente ao antiquário do meu tio.
Consegui esse emprego depois que soube que ele precisava de alguém para ficar algumas horas de tarde no antiquário durante a semana. Então desde aquele dia tenho ficado aqui, na maioria das vezes fazendo nada além de limpar alguns móveis e coisas antigas, já que a freguesia é quase inexistente e só aparece depois da missa ou do bingo.
Guardo minha bolsa na área de funcionários e assim que me sento na cadeira atrás do balcão vejo Diana entrando na loja. – Ela trabalha junto comigo desde sempre e tem a incrível facilidade de se atrasar na maioria das vezes. Ela chega até mim sorrindo e com uma cara de quem acaba de ser quem tem a maior novidade do mundo para me contar.
– Eu acabei de ser convidada para a simplesmente maior festa daqui da cidade e você precisa vir comigo.
Não me impressiona que Diana tenha sido convidada para algo do tipo, ela é a garota mais bonita e divertida de Monte Belo. Não entendo do porquê ela iria querer me chamar para algo do tipo, não somos próximas o suficiente para algo do tipo e é o que me deixa mais pensativa
– Só tem um pequeno detalhe. – Eu sabia que tinha algo – Eu preciso que você vá comigo porque o garoto que eu quero ficar só vai se o melhor amigo dele for junto com alguém também e eu não conheço ninguém que poderia fazer isso por mim
Cada palavra foi tão absurda que me recuso a acreditar que ela realmente queria pedir isso para mim e eu iria aceitar. Definitivamente não, primeiro que eu sou lésbica e segundo que festas não são para mim só de olharem para minha cara saberão que estou por obrigação. Pela minha cara era notório o meu "não" antes mesmo de dizer
Ela se aproxima de mim com uma cara de cachorrinho abandonada enquanto junta as suas mãos em um sinal desesperado por um sim e me propõe:
– Você nem precisa ficar com ele até porque não gosta de caras mesmo, então a gente pode simplesmente ir e você some o restante da festa inteira. Eu faço qualquer coisa Helena, por favor
Qualquer coisa? Agora ficou interessante e acho que pode valer meu esforço se o plano dela der certo
– Então eu aceito - Antes mesmo de continuar a ouço gritar de alegria e levantar os braços em sinal de comemoração enquanto pula feliz. – Mas eu quero ficar sem limpar essas velharias por um mês.
O antiquário do meu tio é grande então é normal que junte poeira, Diana e eu nos revezamos para ver quem é a guerreira da vez já que é impossível sair da limpeza sem que esteja inteiramente suja de pó
Ela faz um grunhido em protesto mas aceita a proposta ao fim de tudo.
E o meu restante da tarde que me sobrava apenas peguei meu bloco de notas e comecei a escrever para fugir um pouco da realidade enquanto Diana me contava alguma de suas aventuras.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Meu turno termina e finalmente posso pegar minhas coisas de volta, guardo meu bloco de notas no bolso da minha calça e vou para caminho de casa novamente. Durante o caminho passo novamente pensando em mandar mensagem para Cecília de novo então antes que eu perdesse a coragem pego meu telefone mas diferentemente de antes agora digito o número de celular da Cecília e tento não ficar nervosa enquanto aguardo o telefone tocar e em algum momento alguém atende mas não era Cecília que estava falando.
[Funerária Boa-Viagem, o que posso fazer por você?]
Eu paro de andar no meio do caminho tentando entender o que acabei de ouvir, mas antes disso desligo imediatamente a chamada enquanto sinto minhas bochechas queimarem, pior do que ligar para alguém só ligando para a pessoa errada.
Guardo meu celular na minha bolsa de qualquer forma, ela pode ter colocado o número de telefone dela errado sem querer? Ou talvez ela só quis ser educada e parecer que queria a minha ajuda? Mas se fosse assim era só ter recusado ontem assim pelo menos eu não teria passado vergonha
São inúmeras perguntas que vão surgindo na minha cabeça e isso só me faz ainda mais apressar o passo para voltar para casa o quanto antes.
Casa. Apenas quero a minha casa.
Eu finalmente chego em casa provavelmente com a maior cara de cansada do universo mas apenas não ligo em parecer bem para minha madrasta. Ao menos ela não fez perguntas e apenas passo direto pelo corredor e me deito por alguns minutos na minha cama antes de partir para tomar banho.
Depois que saio do banho ainda de cabelo molhado, vejo Gab deitado no sofá com sua mamadeira enquanto vê algum desenho aleatório.
– Lena! - exclama e vem na minha direção pedir um abraço.
Desde que ele aprendeu a falar ele apenas me chama de Lena e qualquer mau humor que estava em mim sumiu quando o abracei, apesar de não gostar da Valéria como madrasta eu realmente gosto de ter o Gab como irmão principalmente em dias como esses então decido fazer companhia a ele e esquecer as coisas.
Me sento no sofá com ele mas antes de me ajeitar, Gab sai do sofá e murmura alguma coisa que eu não entendo já que é complicado entender o que uma mini pessoa fala com uma mamadeira na boca.
Mas logo entendo, ele foi buscar um cobertor e um urso de pelúcia. Acho que por hoje irei acampar na sala com ele e isso parece uma ótima ideia já que estou cansada o suficiente para discordar da ideia dele. Aproveitando o momento eu decido mostrar algo da minha época que eu assistia na idade dele e apesar de me sentir velha enquanto tento achar um episódio de Baby Looney Tunes eu fico feliz em ter um momento como esse com ele.
Vemos alguns episódios e fico feliz que ele gostou depois de pedir para ver mais episódios quando acabava e em algum momento ele adormece e eu também, diante de todo o caos que foi meu dia acho que pelo menos o dia acabou bem.