Capítulo 6

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Elisa

— Morangos? — Titia Carmem ergue uma bandeja cheia de morangos tão vermelhos e grandes, que a primeira vista me parecem tão suculentos.

— Sim. — digo, enquanto estou tirando da cesta uma vasilha de sanduíches de frango.

— Com chantili?

Balanço a cabeça.

— Não.

— Chocolate?

— Também não.

— Você negando morango com chantili ou chocolate? O que fizeram com a minha Elisa?

Combino um dar de ombros com um sorriso amarelo, sem saber o que responder. É fato que essa é uma das minhas misturas favoritas no mundo, então o fato de eu negar certamente dar entender que estou doente ou que bati a cabeça. Agradeço mentalmente, quando tia Car, não se aprofunda no assunto e começa a ajeitar a toalha vermelha sobre a grama verde e então olha para cima e dar um sorriso grande.

— Olha esse sol, esse céu. Queria poder colocar essa paisagem em um retrato. Que dia perfeito.

Estamos no jardim da clínica. Fazendo o piquenique que acontece todas os últimos sábado de cada mês. É o momento onde os pacientes aguardam com ansiedade, pois parece sempre uma grande festa para todos. E eu não posso negar a felicidade que sinto por poder compartilhar esse dia com todos eles. Dividir as comidas, ouvir umas historias boas e até mesmo dançar com alguns senhores e fazer penteados nas senhoras. Contundo, esse mês parece que esqueci o entusiasmo em algum canto profundo dentro de mim, poderia culpar o meu cansaço já que passei a semana passada toda distribuindo meu currículo praticamente por toda São Paulo. Mas não, o que está me deixando para baixo é a decepção. Estou muito decepcionada comigo mesma, por perder o emprego e por ter passado um mês e ainda não ter conseguido nada. As parcelas do seguro-desemprego não durariam para sempre e a minha rescisão sequer fez cocegas nas dividas que tinham com a clínica. Eu não queria sequer pensar nos meses que viriam.

— Elisa, vou ver se a senhora Das Dores quer o bolo de cenoura, no mês passado ela ficou triste porque não ganhou um pedaço.

Carmem fica de pé, ajeita sem vestido azul marinho e depois os cabelos. Apenas assinto, e logo posso vê-la caminhar em direção a senhora de cabelos vermelhos vivos tão característicos da senhora Das Dores, que hoje está acompanhada de seu filho e nora. Aposto que devem estar cobrando a eles um neto e uma dezena de coisa a mais que obviamente ela está restrita de comer devido ao seu tratamento de hernia. Admiro a força de vontade da senhora, que nunca a vi triste um dia sequer, ela é tão espirituosa e divertida, não parece ter a idade que tem. Sempre diz que é uma alma jovem em um corpo velho, uma alma festiva, já que é ela que sempre organiza o baile de mascara do Natal, pois como ela diz, mexer os esqueletos faz bem para a vida.

Observo as duas amigas se abraçarem. A senhora Das Dores fala algo que faz Titia Carmem se curvar para sorrir. Os cabelos caindo para frente e parecendo tão leve e despreocupada.

Engulo em seco.

Não tive coragem de contar para ninguém o que aconteceu, nem mesmo para ela. Estou muito decepcionada e infeliz comigo mesma, que não quero machucar mais ninguém. E eu não posso e muito menos quero enchê-la de preocupação agora. Pois se eu contar para ela que a minha vida agora mais se parece com um filme de terror, eu tenho certeza de que de ela novamente irá tentar colocar sua saúde e felicidade depois da minha.

Como sempre foi desde que ela me conheceu.

Mas agora, ela estava na vez de ela ser cuidada, dela ser a prioridade.

CASAMENTO ARRANJADO: O CEO E A ÓRFÃ. DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora